Rodrigo1001 11/01/2018
Fenômeno mundial ou leitura de banheiro?
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert dividiu a crítica especializada em dois grandes blocos inconciliáveis. De um lado, críticos renomados que amaram a obra e, de outro, críticos renomados que a demonizaram. Nesse cenário, enquanto o Le Monde classificava-o como ?um fenômeno mundial?, a Folha de São Paulo descia o sarrafo taxando-o de ?leitura de banheiro?.
Diante disso e depois de ter investido tempo considerável nas suas quase 600 páginas, creio que posso me dar o direto de resenhá-lo de maneira direta e objetiva.
Pois bem, o veredicto final é leitura de banheiro.
Sim. Je suis désolé, Le Monde!
Dividido em três partes, esse catatau de Joël Dicker até que começa bem, mas demora a decolar. O suspense chega em doses homeopáticas, um pouco confusas, conclamando o leitor a encontrar a ponta do barbante. Com estrutura não-linear, a trama gira toda em torno de um assassinato, e, no melhor estilo Odete Roitman em Vale Tudo, a gente passa o livro inteiro tentando identificar quem é o assassino(a).
Com essa pegada, é incontestável que o livro aguça a curiosidade, porém, a lentidão do desenvolvimento, os furos de enredo e principalmente o desfecho ? que comparo ao iceberg que afundou o Titanic ? colocam a obra em cheque. Na realidade, mesmo a leitura mais atenta não possibilitaria ao leitor desvendar a trama de forma completa, pois Joël Dicker optou por trazer elementos completamente novos já na parte final da trama. Assim, o famoso plot twist veio com ares de subterfúgio, me dando a impressão de que o autor entrou em desespero ao estruturar um thriller bem feito em suas duas primeiras partes, mas que não sabia como conciliar na terceira. Não sabendo como descascar esse pepino, criou elementos bobos, artificiais e vulgares para conseguir juntar as pontas e terminar o livro.
Em resumo, foi justamente ali, no explicar dos fatos, que a obra perdeu o brilho e se transformou em puro suspense supérfluo, esquecível. Pra mim, faltou coerência e, sobretudo, respeito ao leitor.
Mas, como nem tudo é sofrência, entre os pontos positivos figuram a interessante crítica que faz ao mercado editorial e também a bela sacada de escrever um livro dentro de um livro, já que o personagem principal é um escritor. Os personagens, de maneira geral, também são satisfatoriamente bem construídos e o flerte com romances epistolares também foi bacana, já que enriqueceu a narrativa.
Enfim, é uma leitura de banheiro que te manterá por loooongos dias no trono, entretido, mas, por fim, vai te dar mais dor de barriga do que alívio.
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