Clarinha 08/01/2024
A VERDADE SOBRE O CASO HARRY QUEBERT
Desde que tive acesso a sinopse da obra e a indicação de um amigo, alimentei minha curiosidade sobre esse livro, o qual recebeu adaptação no streaming em 2018.
Após deixar-se levar pela fama após o estouro de seu primeiro sucesso editorial, Marcus Goldman, de 28 anos, encontra dificuldades em escrever sua próxima obra, a qual tem de ser apresentada à editora dentro de um curto período de tempo, sob risco de sofrer um grande processo judicial. Desesperado, o escritor recorre a seu antigo mestre e escritor renomado, Harry Quebert. Apesar do apoio de seu mentor e prestes a aceitar seu iminente fracasso, uma reviravolta inesperada recai sobre a trama: Harry é preso, acusado de ter assassinado uma jovem há 33 anos atrás. Contrário às acusações, Marcus decide investigar o caso a fim de ajudar seu antigo professor, encontrando, acidentalmente, o próximo tema do seu livro.
A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert (2012), de Joël Dicker, é um livro que possui várias camadas. Com um mistério que segue suspenso até as últimas páginas, o romance apresenta uma série de reviravoltas extremamente viciantes ao leitor, trazendo-o, de certa forma, junto a obra, de modo que, junto aos investigadores, tente também resolver o quebra-cabeça proposto por Dicker.
Num primeiro plano, achei a leitura do romance bastante fluida. Há um plano de texto no livro que pretende prender o leitor até o final, assim como todo livro de mistério, que foi muito bem construído e moderado ao longo da narrativa. Em contrapartida, há uma romantização absurda da pedofilia ao longo da obra. Chega a ser forçoso a maneira como é tentado justificar o ?amor? entre uma adolescente de 15 anos e um adulto de 34. Talvez o autor tenha optado por esse tom do romance pelo fato da narrativa ser orquestrada em primeira pessoa e esse narrador-personagem esteja tentando salvar a alma de seu antigo mentor, mas acho que, se for por esse motivo, poderia haver alguma crítica implícita sobre essa relação e não justificativas e frases de amor piegas.
Sinto que em vários momentos, o autor quis se inspirar em Lolita, não apenas pela semelhança do nome das heroínas (Nola/Lola/Lolita), como por artifícios de linguagem, como a soletração do nome Nola feita por Harry Quebert (N-o-l-a), como se este quisesse saborear o nome da jovem, artifício este utilizado no romance de Nabokov, em que Humbert Humbert degusta o nome de Lolita saboreando seu nome numa separação silábica (Lo.li.ta). Diferindo, entretanto, no ponto de vista acerca da pedofilia: em Lolita há uma crítica bem orquestrada acerca desse tópico, enquanto que no romance de Dicker, há uma romantização e eufemismo sobre o assunto. Não acredito que o caso de Quebert seja patológico como era o de Humbert Humbert, mas ainda assim continua sendo uma relação imprópria e de aliciamento com uma menor de idade.
Apesar do ponto negativo citado anteriormente e dos trechos bregas que falam de amor, foi uma experiência de leitura agradável. Acredito que como romance policial, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert cumpriu bem seu papel, apresentando um desfecho interessante sem ser de maneira forçosa.