Vitória 11/07/2023
Eu demorei demais pra vir escrever essa resenha porque esse livro me deixou confusa. Quando estava no hype, eu vi muita gente que, ao contrário de mim, tem costume de ler thrillers, idolatrando essa obra e o autor, mas eu não consegui sentir deslumbramento algum com essa narrativa. Quando ela não era chata, eu estava sentindo ódio e, levando em conta que eu não tenho vontade alguma de voltar a ler as obras do autor, acho que 3 é uma nota excelente, porque ele tem seus pontos positivos.
O livro demora demais a engrenar. Por ter várias linhas temporais, que são alternadas, eu demorei demais pra situar onde eu estava, o que tinha acontecido e pra onde a história estava indo. Apesar disso, o meu problema maior foi com o protagonista e o tal do Harry Quebert. Depois dessa leitura, e de outras que carrego na bagagem, eu percebi que não consigo me apaixonar por um livro no qual o protagonista seja uma pessoa totalmente detestável. Existem exceções? Claro, meu amor por livros dark tá aí pra provar isso, mas aqui o autor se esforçou pra criar um homem bosta. O infeliz olha pra o tal do Harry Quebert, um suspeito de assassinato, que teve um relacionamento com uma menina de 15 anos quando ele próprio tinha mais de 30, e fala que tudo bem, que a forma como esse relacionamento se deu foi diferente, e que por isso a sua existência pode ser defendida. Tudo bom?
Eu sei como posso ter estômago forte pros livros que eu leio, e como eu admito muitas coisas na ficção que nem posso imaginar acontecendo na vida real, mas isso aqui foi a gota d'água pra mim. Eu não consegui de forma alguma ter empatia pelo Harry ou torcer pela investigação conduzida pelo Marcus depois de saber o que um fez e que o outro passou aquele pano. O pior de tudo é que, pela forma com que o livro é conduzido a partir daí, só me deu a impressão de que a opinião que o Marcus tinha sobre aqueles acontecimentos era a mesma do autor, já que em momento algum esse relacionamento é de fato problematizado, e no final ele ainda faz questão de jogar uma parte da culpa em cima da vítima, inventando um plot mirabolante de que a menina foi possuída por demônios e por isso seduzia homens mais velhos, que não tinham como resistir a ela. Me poupe. Existiam n outras formas de conduzir isso aqui, que trariam resultados melhores no final.
Apesar disso tudo, eu consigo perceber que esse é um mistério bem construído. O autor sabe montar toda a ambientação de cidadezinha do interior e, mesmo que tenhamos muitos personagens aqui, fazendo com que eu até me confundisse com eles em certos momentos, todos possuem algum propósito dentro da história, ninguém é apresentado aqui só pra encher linguiça. As reflexões que o Marcus e o Harry tem sobre a escrita, e a vida como escritores, já que essa é a profissão dos dois, são interessantes, e foram de longe os meus trechos favoritos do livro inteiro. A estrutura narrativa é bem diferente de qualquer coisa que eu tenha lido anteriormente, o que faz com que a gente fique curioso pra saber o que nos aguarda na próxima página, mas ainda assim existem vários trechos repetidos (literalmente) sem motivo algum, e cenas que poderiam facilmente ser descartadas. Depois de uma edição minuciosa e bem feita, esse livro poderia ter no mínimo umas 150 páginas a menos.
Sei que essa missão que eu impus a mim mesma de ler mais romances policiais não está lá me trazendo ótimos resultados, mas vou insistir um pouco mais no gênero. De qualquer forma, o Joël Dicker é um autor do qual eu não quero ouvir falar nunca mais. Se o pessoal fala que esse é o melhor livro dele, eu não quero nem ver o que pode existir dentro dos piores. Só agradeço por não ter comprado esse livro em formato físico, porque pelo meu ódio ele já teria sido arremessado na parede incontáveis vezes.