Ana Claudia 14/09/2020Resenha com spoiler pra quem quer fugir de bombaVou detalhar com spoiler o motivo que me levou a abandonar esse livro.
Começamos com uma narrativa arrastada e prolixa, onde o autor dá tantas voltas que várias vezes eu precisa voltar pra me lembrar onde foi que tudo tinha começado, porque raios eu estava lendo aquilo. E na maioria delas, minha conclusão era que não tinha necessidade alguma.
Os personagens, até onde li, são rasos e desinteressantes, e o pouco que apresenta do passado deles, não os torna mais atrativos. Em suma, não dá vontade de conhecer. Mas como ler um livro, que prioritariamente trata da história de uma pessoa, se você não quer conhecer essa história? Difícil meus amigos.
E como se tudo isso já não bastasse, temos o tema principal: o "romance proibido" entre uma garota de 15 anos e um homem com o dobro da idade dela. Não sei vocês mas eu chamo isso de pedofilia, pedofilia essa que recebe várias passadas de pano por parte do protagonista. Alguns personagens até parecem estar desconfortáveis com esse fato, mas ainda assim, existe uma normalização por parte do protagonista, o que me deixou totalmente desconfortável.
Outro problema é o que supostamente deveria ser o alívio cômico: a mãe do protagonista. Todos os momentos em que ela apareceu nas míseras 50pg que eu li, só serviu para reforçar um discurso machista, a todo momento pressionando o protagonista de que ele deveria ter uma namorada, que com quase 30 anos ele deveria deixar a carreira e construir uma família, e chega ao ponto de indicar uma garota dizendo que "ela é ideal para cuidar do lar".
E então, a gota d'água: o autor conseguiu ser misógino, racista, homofóbico e preconceituoso em um único parágrafo que irei transcrever palavra por palavra. O contexto é o diálogo de dois personagens acerca das eleições de 2008, entre Hilary e Obama, diálogo esse por sinal que não teve acréscimo nenhum à história. Segue:
" - Mas não me diga que acredita nisso! Uma mulher e um negro, Goldman! Uma mulher e um negro! Fala sério, você é um rapaz inteligente, vamos ser realistas: quem elegerá um negro ou uma mulher para liderar o país? Transforme isso num livro. Numa bela história de ficção científica. Na próxima vez vai ser o quê? Uma lésbica porto-riquenha e o cacique de uma tribo indígena?"
Eu segui a leitura após esse diálogo pra ver se em algum momento existiria uma repreensão, mas não, não houve. Então encerro minha leitura pois me recuso a compactuar com esse tipo de pensamento. Qualquer mísero interesse que eu mantinha sobre o desfecho do caso sumiu.
E com isso concluo essa resenha de um livro que tinha tudo pra ter sido muito bom, mas sofreu a infelicidade de cair na pilha de "plots ótimos com execuções péssimas"