PorEssasPáginas 19/06/2014
A Cuca Recomenda: Biofobia - Por Essas Páginas
Eu tinha curiosidade de conhecer a obra do autor Santiago Nazarian desde seu livro anterior, Mastigando Humanos, também da Record. A Lucy conseguiu o livro pra mim em um evento, porém, até o momento, a pilha de leituras não tinha permitido que o eu lesse. Quando vi na lista de lançamentos da editora um novo livro do autor percebi que era o momento de embarcar em sua obra. Fui com tudo, mas saí confusa; foi uma leitura que me empolgou a ponto de ler 130 páginas em uma noite… mas depois, o jeito como a obra caminhou, o final… É, meus sentimentos ficaram realmente confusos.
O começo de Biofobia é incrível. A narração de Santiago Nazarian é envolvente, uma mistura de depressão, sarcasmo e acidez deliciosa. Nós conhecemos André, um roqueiro de meia-idade, falido e fadado ao ostracismo, que acabou de perder a mãe – ela se suicidou, era uma escritora de talento que foi razoavelmente conhecida em seu meio. Ela deixou especificado que desejava que todos seus objetos fossem distribuídos entre os amigos e a família, portanto André vai até a casa, que fica num lugar isolado e inóspito, no meio do mato, para, junto à irmã, receber os convidados que farão “a limpa” no lugar. André vai antes, “para se despedir da casa e da mãe”, e no fim acaba passando ali mais tempo do que deveria, travando uma guerra com a solidão, a natureza e seus próprios demônios.
Biofobia foi um livro muito bom até um pouco depois da metade. A leitura foi empolgante, envolvente - apesar de repetitiva às vezes, o que era uma característica fiel do personagem, um homem depressivo e, portanto, repetitivo – e perturbadora. Tudo o que um bom thriller psicológico deve ser. No entanto, depois de um tempo, o autor começa a bater demais nas mesmas teclas. Você começa a não ver mais sentido no porque André insistir em continuar naquela casa sombria (e não vê, portanto, mais sentido no próprio livro) e, quando finalmente isso é explicado, é tudo rápido e brusco demais, pouco desenvolvido, e o livro termina como um grande ponto de interrogação. Confuso, sem sentido, sem pé nem cabeça. O que era para ser um ótimo livro torna-se apenas mediano e, como leitora, fiquei triste, pois percebi que o autor poderia ter feito algo muito melhor, explorado muito mais o horror da situação, a loucura, o ambiente… enfim. Triste.
“Entraram na casa e ele viu a mãe por todos os lados. Os restos da mãe. Os livros. O pêndulo do relógio batendo. Era como uma prova viva de que ela existia. Não mais viva, insistia por todos os lados.” Página 17
O que restou foi uma sensação de vazio e perturbação após a leitura – mas não uma perturbação boa, daquelas que você fica em choque. Ficou a perturbação ruim de não compreender e aceitar aquele final, aquelas informações jogadas, aqueles sentimentos mal resolvidos. Foi como se o livro terminasse sem um ponto final, no meio de uma sentença. Você fica procurando mais, alguma maldita explicação, mas as páginas acabaram. É o fim.
Se a Cuca recomenda? Talvez, depende de como você é, leitor. Tem gente que curte essa vibe mais filosófica, mais cult, com finais abertos e pouca explicação. Eu não sei se curto, pelo menos não do jeito que foi feito. Talvez eu busque mais obras do autor, mas, para mim, Biofobia foi um livro cheio de potencial… e que se perdeu.
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