Jef 07/07/2018
HOMUNCULUS: A BIZARRICE HUMANA NA FORMA DA NONA ARTE
Susumo Nakoshi, de 34 anos, é um sujeito estranho. Morando em um velho KIA, estacionando ao lado de um grande parque, ele passa seus dias entre os mendigos conversando, se alimentando e trazendo saquê para eles. Nakoshi porém não é um mendigo, sempre em seu terno, ele é classificado como “sem-teto com terno” pelos demais mendigos.
Todos os dias, no final da tarde Nakoshi passeia pela cidade, volta para o parque, janta com os mendigos e vai dormir em seu carro. Um sujeito misterioso com um passado igualmente misterioso: dependendo de quem pergunte, a resposta sobre o quem ele é e o que faz varia. A verdade é que para Nakoshi nada importa, nem ele nem ninguém, apenas seu carro é importante nessa vida. Ele é um mitomaníaco, ou seja, pessoa que mente para os outros buscando mentir para si mesmo.
Certo dia, um estranho sujeito, Manabu Ito, aparece para Nakoshi e lhe faz uma proposta de 700 mil ienes para que Nakoshi se submeta a um bizarro experimento: a trepanação; uma cirurgia que consiste na aberta de um orifício no crânio do paciente, realizada desde a antiguidade com o objetivo de eliminar maus espíritos e demônios, ou ainda desenvolver dons paranormais.
Susumu Nakoshi após a cirurgia da trepanação começa a ver os monstros que as pessoas escondem em si mesmas, os homunculi. (Uma representação da própria pessoa, como objetos, animais e seres fantásticos). Mostrando-nos com suas visões ao tampar um dos olhos e enxergando com o outro o coração humano. Revelando segredos, como somos falhos e mentimos para nós mesmos ao querer apresentar ao mundo alguém que não somos e que nossos traumas fizeram de nós.
Todos possuímos um Homunculus dentro de nós escondido e poucos conseguem lidar com ele. Sussumu é o único capaz de enxergá-los. Será que ele está louco ou é o único que despertou um dom?
Essa é a sinopse desse mangá cult de suspense e terror psicológico. Criado por Hideo Yamamoto, possui 15 volumes lançados no Japão de 2003 a 2015 e no Brasil, lançado pela Panini em 2009, terminando sua publicação no Brasil em 2014.
Particularmente, desde que eu vi esse mangá fiquei curioso com a capa e conteúdo por ser diferente dos mangás tradicionais que estava acostumado a ler, e então num impulso e consumismo louco comprei os oito volumes que estavam à venda e posteriormente o sete seguintes dos quinze.
Ao chegar em casa, fascinado, realizo o ritual característico de leitura abrindo cuidadosamente cada mangá e devoro todos os volumes rapidamente pela imersão com a história, pelos detalhes do traço tão rico e belo, das páginas reflexivas sem diálogo.
Homunculus é excepcional. A psicologia humana é muito bem aplicada. O simbolismo, surrealismo, metáforas e a bizarrice do ser humano estão bem escritas e descritas em uma arte impecável. O desenhista e roteirista Hideo Yamamoto fez um excelente trabalho e merece todos os prêmios possíveis por esta obra.
Recomendo Homunculus a todos que curtem uma história diferente, com mais diálogos bens construídos que ações. Muitos podem o achar um pouco parado se estiverem acostumados a somente ler história voltadas para ação como o famosos mangás de estilo Shounen (mangás para jovens). A ação em Homunculus é psicológica, está nas palavras, nas entrelinhas, sutileza, na inquietação e nos traumas de cada personagem. Homunculus é um mangá Seinen (adulto) que possui um drama forte, reflexões e erotismo. Uma aula de psicanálise junguiana.
A todos que se interessarem em ler esta grande obra prima dos mangás japoneses e procuram por algo único, Homunculus precisa ser lido e admirado. Uma trama coerente, fechada, que fará o leitor mais envolvido analisar muitos conceitos.
A pergunta que Homunculus nos faz é: Que monstro você esconde dentro de você? Você consegue ver o coração dos outros? E o seu? Qual é o seu Homunculus?