Marc 01/06/2014
A grande qualidade dessas histórias é ser ao mesmo tempo divertidas e um retrato de seu tempo. Não é pouco. Ainda mais porque não temos personagens masculinos nos papéis principais, o que era uma inovação muito importante (e ainda é, infelizmente, porque são poucas as mulheres em papéis de destaque nos quadrinhos). As garotas são fortes, engordam, ficam tristes e se apaixonam por rapazes distraídos, que lhes notam. Também lutam contra um mundo predominantemente machista. E Jaime Hernandez se sentia tão à vontade, com suas personagens realistas, que costumava zombar das mocinhas clássicas dos filmes e histórias em quadrinhos, sempre em perigo embora mantendo a sensualidade acima de tudo. Pode ter certeza que as mulheres aqui não são um macete para o leitor desavisado em busca de erotismo.
Por outro lado, quem buscar um quadrinho engajado vai se decepcionar. Apesar das mulheres como protagonistas, não há nenhuma preocupação em defender uma causa. Antes de tudo, são histórias divertidas, embora seja necessária certa “sintonia” para gostarmos. E essa sintonia é justamente o abandono de algumas expectativas, tais como o herói superpoderoso e dominador, ou mesmo uma declaração de feminismo do autor.
Mas ia me esquecendo de que o autor viveu e foi fascinado pelo mundo underground. Assim como suas histórias apresentam mulheres independentes, que até se apaixonam pelos homens, mas não precisam dedicar suas vidas a eles, e ficção científica, também há uma descrição bastante exata desse universo underground. E por esse motivo, todos os ricos e poderosos são ridicularizados em suas breves aparições. Assim como são personagens sem nenhuma profundidade, visando apenas o lucro e as mulheres, sem medir consequências.
O fato incontornável, no entanto é que essas histórias amadureceram os quadrinhos como nunca antes, nem mesmo com o trabalho de Robert Crumb. Todos que gostam de Hqs deveriam conhecer a série Love And Rockets. Quem não gosta também, certamente iria se apaixonar na hora.