Livy 19/01/2015
Bela mensagem!
Passarinho é um livro que traz uma carga emocional e dramática bem densa, mas ao mesmo tempo tem uma leveza e sutileza que tornam o livro gostoso e amenizam um tanto do drama. Eu particularmente gostei muito e foi bem diferente de livros do gênero que já li.
Joia é uma garota de 12 anos solitária, que vive em Caledonia, Estados Unidos. Ela é solitária porque não tem amigos e sua família vive de certa forma isolada, devido à descendência jamaicana e espanhola, costumes e crenças. Mas ela é realmente solitária pelo fato de que o dia em que nasceu foi marcado por uma tragédia: seu irmão, John, morreu.
O garotinho, apelidado pelo avô de Passarinho, se jogou de um penhasco próximo achando que podia voar. Desde então a dor que tomou a família de Joia não deu espaço para que a garota tivesse a atenção que gostaria ou merecia. Seu avô nunca mais falou depois daquele dia, misteriosamente perdendo a voz e a vontade de fazer tantas outras coisas das quais gostava, e por isso Joia nem ao menos o conhece direito, e nunca ouviu o som de sua voz.
Sua mãe e seu pai também vivem envoltos na dor da perda, e seu pai culpa o avô de Joia, por ter apelidado o menino de Passarinho e assim ter enfurecido um duppy (espírito maldoso na crença jamaicana) que convenceu John a pular do penhasco. A mãe de Joia também não sorri mais, e quando a dor a domina é tão aparente e palpável que é como se ela se trancasse dentro de si mesma revivendo a dor. E assim Joia não tem nada, nem ninguém que parece realmente a amar. A não ser o penhasco. Sim, o mesmo penhasco do qual Passarinho pulou. É justamente ali que Joia dá suas escapulidas e passa horas e horas sentindo a natureza, conversando com as pedras, enterrando seixos como se enterrasse suas preocupações e anseios. É ali que ela fez um círculo de pedra para cada ano que completa, onde comemora seu aniversário. É ali que ela aprendeu a querer um dia ser geóloga. É ali que ela se sente amada.
Uma noite, em que não conseguia dormir, Joia saiu escondida para escalar sua árvore preferida. Mas para sua surpresa alguém já estava ali. Era John, um garoto negro, da sua idade, que queria ser astronauta, observando as estrelas. Na sua árvore! Apesar da invasão, eles acabam gostando um do outro imediatamente, e uma amizade começa a surgir exatamente naquela noite. Dividindo experiências, John e Joia vão mudar a vida um do outro para sempre!
Sabe, este é um livro difícil de resenhar sem querer contar toda a história. E ao mesmo tempo seria difícil de contá-la pois há tanto sentimento, pensamentos e emoção no livro que fica complicado transpor em palavras. O bom mesmo é sentir tudo isto lendo o livro.
Passarinho aborda de forma muito sensível diversos assuntos, como: perda; luto; morte; tristeza; solidão; diferentes crenças, cores e culturas; etc. O luto que a família de Joia enfrenta se reflete na atenção que dão para ela. Além de que no decorrer do livro há tantos conflitos entre eles, ressaltando ainda mais a divergência de crenças - como o pai de Joia, por exemplo, que acredita que duppys estão aos montes no penhasco, e também o avô de Joia acreditando que John é um duppy.
Mas o que mais gostei é que, apesar da carga dramática do livro, ele é leve e muito gostoso de ler. E como pode isso? Pode porque uma das principais mensagens da história, além das citadas acima, é o amor e a amizade. O amor que supera o luto; que supera as diferenças inter-raciais e culturais; que supera o tempo; que preenche espaços e que supera qualquer dificuldade. A amizade que chega de mansinho, despretensiosamente, e ganha espaço; que não vê e/ou põe defeitos; que não tem hora nem lugar; que ameniza as agruras da vida.
Eu amei a narrativa de Crystal Chan que é simples, direta e tão cheia de sutilezas, e que tornou o livro delicioso de ler. Com uma narrativa em primeira pessoa - do ponto de vista de Joia - também gostei muito do modo como são descritos os movimentos, formas e nuances da natureza. E adorei o desenvolvimento da história, o modo como ela conduziu a vida de Joia, sua família, e John. Assim como gostei muito de Joia, que é muito madura para uma garota de 12 anos, já que na maior parte do tempo tem que se virar sozinha. E tive raiva pela negligência dos pais com relação aos sentimentos de Joia, apesar de não terem exatamente esta intenção. Mas acima de tudo o modo como Joia e sua família superam todas as suas dificuldades é espetacular.
Também adorei o desenvolvimento da amizade de Joia e John, que transforma a ambos e que traz significados imensos para a vida dos dois, assim como muda tudo ao redor. Gostei do modo como Joia é ligada à terra e natureza e John ao céu e universo. Eles trazem mensagens tão bonitas ao decorrer do livro, com esta amizade, que é impossível não se emocionar. A família de Joia também será afetada de várias maneiras por esta amizade. E também me senti comovida com a sombra de Passarinho que no fundo ainda está em todo lugar, assim como está em Joia, mesmo que ela não o tenha conhecido.
É difícil de verdade descrever o quanto um livro é bom ou te tocou com sua mensagem, quando gostamos tanto dele. O que posso dizer é que Passarinho é destes tipos de livro - singelo, belo e puro - para ler e guardar no coração.
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