spoiler visualizarLer é preciso 07/01/2018
Heresia - Uma história em defesa da verdade
Alister McGrath, um dos principais apologistas cristãos do século XXI, aborda neste livro um tema já bastante debatido pela igreja: a heresia. A sua obra é dividida em dez capítulos distribuídos em quatro partes.
Na primeira parte, O que é heresia? McGrath afirma que até o segundo século da era cristã a igreja não estava muito preocupada em debater temas mais complexos de teologia. Afinal, tinha outras coisas mais urgentes com que se preocupar; a sua própria sobrevivência, por exemplo, já que vivia num ambiente hostil, sofrendo perseguição de romanos, gregos e judeus. Mas à medida que foi se estabelecendo e que as controvérsias foram surgindo, tornou-se necessário que a igreja se debruçasse sobre esses temas e estreitasse os limites do que era realmente doutrina cristã ortodoxa. Sendo assim, muito do que era considerado ortodoxo passou a ser visto como herético. Vale a pena salientar que o termo grego para heresia (hairesis) originalmente significa “escolha”. Somente a partir do segundo século, é que esse termo passa a significar uma escolha que subverte a fé cristã e, diferentemente do que muitos imaginam, a heresia não surge da incredulidade, mas principalmente nas comunidades cristã primitivas.
Na segunda parte, As raízes da heresia, o autor nos informa que a igreja primitiva não era tão uniforme assim, em matéria de doutrina. A comunidade cristã primitiva é melhor compreendida como uma rede de grupos que pensavam de maneiras diferentes sobre vários temas de teologia. Apesar de muitos pontos em comum, a diversidade era a tônica da época. Isso se deve a dois motivos: o Cânon ainda estava se formando, portanto havia uma diversidade de documentos que circulavam nas igrejas; e também faltava poder político à essa mesma igreja para impor uma ortodoxia que fosse comum a todos os grupos cristãos da época.
As heresias clássicas do cristianismo é o tema da parte três. Aqui, McGrath aborda as principais heresias dos dois primeiros séculos, abordando as suas motivações teológicas, políticas, econômicas e sociais. Merece destaque a abordagem sobre o Pelagianismo, sistema teológico atribuído a Pelágio, monge britânico do século IV. Para McGrath, Pelágio estava mais preocupado com uma reforma de ordem moral na igreja, devido sobretudo a grande decadência moral dos seus líderes, do que com especulações teológicas. Grande parte das ideias que formam o sistema pelagiano é resultado de ensinamentos atribuídos a dois teólogos posteriores: Celestino e Rufino.
A parte quatro trata do impacto duradouro da heresia. A heresia surge quando a igreja tenta usar o que há de melhor da sabedoria secular para explicar temas teológicos. Outro tema abordado por McGrath neste capítulo é a relação entre heresia e islamismo. É comum os teólogos muçulmanos, ao criticarem o cristianismo, não diferenciarem o que é cristianismo ortodoxo e o que foi considerado heresia nos concílios. Todos os ensinos cristãos, ortodoxos ou heréticos, são colocados no mesmo bojo por tais teólogos. Alister McGrath conclui discorrendo sobre o porquê da heresia ainda ser tão atraente para a sociedade moderna.
Muito já se escreveu sobre a heresia, no entanto, o talento de Alister McGrath faz com que um livro sobre um assunto já tão debatido, se torne uma ótima leitura. A sua escrita é agradável. A forma didática e objetiva com que os capítulos são abordados cria uma sequência lógica de pensamento, permitindo que, até mesmo os que não sejam versados nesse assunto, entendam facilmente o que o autor se propõe a explicar. Mais uma grande obra, desse excelente escritor.
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