andré 27/09/2023
Uma questão sem solução
Eis uma obra extremamente complexa de se avaliar tendo em vista o histórico do autor, afinal, estamos falando de um monstro. Acho que em toda minha vida a questão de separar o autor da obra nunca foi tão pertinente. Minha relação com a obra começou aos meus 11, 12 anos, ainda na tv, com a versão censurada do anime que eu jamais terminei de ver, primeiro porque a Globo cancelou a exibição, depois porque não achei dublado e a voz em PT se tornou definitiva para mim e terceiro porque descobri que o anime depois do Shishio era basicamente fillers. Um pouco mais velho comecei a colecionar o mangá, mas o universitário falido não conseguiu ir além do quinto volume. No entanto, a obra foi determinante na minha vida, gravei os eps em VHS e reassisti até decorar as falas, sendo a fase do Shishio até hoje um dos arcos mais icônicos do mundo otako para mim. Foi por causa dessa obra que me interessei por cultura japonesa, por história e que abriu as portas para outras obras (Samurai X foi muito mais importante que Dragon Ball na minha formação). Kenshin é talvez o personagem de mangá shonen com mais camadas que eu já vi. Eu amo os personagens dessa obra. E por mais de vinte anos ela ficou sem final para mim. Sempre senti o ímpeto e o desejo de completar a coleção e quando finalmente a oportunidade apareceu não levei nem uma semana para ler todos os volumes. O mangá tem um ritmo mais corrido que o anime, falta tempo para fôlego, mas ainda é emocionante, me fazendo chorar mais de uma vez. Existem cenas icônicas que com certeza seriam referencia para Eiichiro Oda em seu One Piece (tendo sido ele um assistente de Watsuki) e a saga de Makoto Shishio ainda é uma das coisas mais profundas e incríveis dos mangás, com discussões filosóficas marcantes. Sem dúvida o ponto mais alto da série, sendo que tudo que veio depois é bem inferior. Outro ponto que me incomoda é a personagem da Kaoru Kamiya, que no anime é forte, viva, participante das batalhas e no mangá é só uma donzela em perigo, que sequer se parece com uma mestra de Dojô. Além disso, quando você pensa que as personagens femininas são todas menores de idade, apaixonadas por homens dez anos mais velhos, fica um gosto MUITO amargo na boca. Achei o final prematuro, corrido e facilitado. No fim, a obra comprada em sebo vai para a estante, ainda continuo amando os personagens e sem resposta para essa questão tão complicada.