Nath 06/03/2021Ainda não foi dessa vez...Agatha Christie é uma autora que demorei bastante pra ler, mas que sempre quis conhecer, afinal, ela é considerada a "Rainha do Crim" na literatura e eu, como grande apreciadora do gênero me sentia quase uma "poser" por nunca ter lido nada dela. Depois de ter lido Assassinato no Expresso do Oriente (não resenhei, mas não vou falar a respeito aqui pq não é pertinente), li Punição Para Inocência e creio que haja um problema no meu relacionamento com a Rainha, pois sinto que ainda não nos acertamos.
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que apesar da minha avaliação, não achei esse livro ruim (claro que não sou crítica literária nem nada do tipo, falo como leitora e me baseio nas minhas experiências presentes e pretéritas), mas também não me senti envolvida o bastante pra poder dizer que achei bom. No fim das contas, pra mim foi tudo meio morno.
O livro trata de um assassinato em família, ou seja, tanto vítima quanto assassino são membros da mesma família, embora não possuam laços sanguíneos. Essa foi a primeira coisa que me incomodou. Compreendo que aqui temos uma questão a levar em conta que é a época em que o livro foi escrito e provavelmente o contexto em que Agatha Christie vivia, mas achei muito problemática a forma como a adoção é tratada nesse livro; todos os filhos adotados são tratados como "ilegítimos" ou "bastardos" no sentido mais pejorativo dessas palavras, de modo que um questionamento super interessante (se nasce mau ou torna-se mau?) acabou ficando deturpado com um contexto construído de forma totalmente preconceituosa. Acho um desserviço dizer que "eles nem são seus filhos" e "você não sabe a procedência deles" e coisas do tipo quando estamos falando de adoção (e é daí pra pior).
Fora isso, acredito que o livro cumpre o que propõe. Então falando sobre os aspectos que gostei, posso dizer que apesar de julgar o livro como "morno", eu ainda assim me mantive motivada a ler até o fim, pois realmente quis saber o que havia acontecido, como o mistério seria resolvido e se alguma das minhas teorias estava certa (e estava! hahaha). Quando falamos de thrillers, creio que esse é um dos pontos mais importantes pra que se tenha um bom livro. Também não vi furos, conveniências ou clichês que valham a pena comentar; apesar de só ter lido dois livros dessa autora, percebi que ela era muito perspicaz na criação de suas histórias, de modo que seus livros provavelmente fazem tanto sucesso pq além da escrita ser de fato envolvente, mesmo que ela siga a fórmula de deixar pistas pra plantar dúvidas no leitor e terminar surpreendendo com algo fora do óbvio (ou ao menos com essa intenção), no final, após a revelação do mistério, realmente não resta aquela sensação de pontas soltas, de que faltou algo pra explicar e etc. Acho que isso deve ser bem difícil de fazer e ela faz muito bem.
Falando em fórmulas de escrita (e não vejo nenhum problema em usá-las, muito pelo contrário), esse livro traz um estilo de final que venho percebendo que não me agrada; nas últimas três páginas a autora solta uma bomba e encerra a história. Como falei, não senti que sobram coisas a resolver, mas não gosto desse estilo de revelação na escrita, não gosto de ter a resolução do livro com essa sensação de "pressa", então provavelmente isso também contribuiu pra minha experiência não ter sido muito positiva com essa leitura.
Apesar de tudo, se partirmos unicamente dos pontos positivos que mencionei, posso dizer que é uma leitura que em geral eu recomendaria, apesar de não ter me agradado muito. Exceto pelo tratamento problemático dado à adoção, o livro não é ruim e me desagradou unicamente por questões de gosto pessoal meu. Ainda assim, pelo que ouço dizer, provavelmente essa não é uma das melhores obras da autora.