Coruja 01/08/2010É para pegar o assassino ou a ferrovia?Eu estava com esse livro na estante desde outubro ou novembro do ano passado - não lembro agora com certeza, mas sei que o comprei na Bienal. A princípio, tinha pego esse título porque estava escrevendo Ases (o que me lembra que tenho de terminar o capítulo 07...) - e a menção a cartas de baralho me chamou a atenção. Mas aí eu acabei perdendo o livro de vista no meio da pilha diária de processos no escritório e dos muitos livros se avolumando em casa na fila.
O Desafio Literário foi uma excelente desculpa para finalmente tirá-lo da estante...
Sinceramente? Eu não tenho muita certeza do que fazer desse livro. Por um lado, eu adorei a figura do Bierce - não importa quão misógino o cara seja, obcecado com a corrupção dos magnatas da ferrovia South Pacific. A reconstituição história também foi primorosa, capaz de evocar, realmente, São Francisco pelos fins do século XIX.
Por outro lado, a narrativa às vezes escapa do eixo; muitas tramas paralelas que podem ou não convergir numa enorme teia de conspirações. Acho que eu talvez tivesse gostado mais do livro se ele fosse narrado pelo Bierce e não por Tom, com sua fixação pelo Amelie Brittain e sua história com o Cavalheiro (nome pelo qual o rapaz chama seu pai).
Da forma como terminou, a revelação de quem estava por trás dos assassinatos foi meio que anticlimática. Todos os personagens envolvidos tinham um passado sórdido; nenhum deles ali merecia ser absolvido. A certeza - ainda que certa - de Bierce sobre o envolvimento da South Pacific por vezes beira uma teimosia infantil. Por um momento, temos a impressão de que ele só pegou o assassino por ser teimoso e não por qualquer tipo de dedução lógica.
E, sério, quem é que vai fumar ópio para poder clarear a mente e descobrir a verdade?
No final das contas, eu não estava lendo a história para descobrir quem era o assassino, mas sim para ver como terminaria a cruzada de Bierce contra o monopólio e a corrupção institucionalizada do estado da Califórnia.
Aliás, é importante observar que o grande personagem do livro não é um personagem original inventado pelo autor, mas uma figura história real. Ambrose Bierce é considerado um dos grandes autores americanos, tendo sido contemporâneo de Mark Twain.
Seu apelido era "Bitter Bierce" e ele foi ferozmente perseguido por conta de suas invectivas contra os grandes do poder nos jornais pelos quais passou. Até hoje, sua biografia é envolta em mistério - em 1913 ele deixou Washington para fazer uma viagem pelos antigos campos de batalha da Guerra Civil (na qual lutou) e simplesmente desapareceu. Ninguém sabe o que foi feito dele, além do fato de que ele cruzou a fronteira com o México. E depois disso, nada, zero, puf!
Uma das coisas que eu mais gostei no livro foram os aforismas com que cada capítulo é aberto, retirados do Dicionário do Diabo, obra escrita originalmente por Bierce. Chamou-se tanto a atenção que fui atrás de outrs livros do autor e pretendo agora destrinchar os originais - uma vez que estão todos disponíveis para domínio público na página do Project Gutenberg.