Sara Muniz 14/03/2017
Resenha - Marília de Dirceu
Marília de Dirceu foi escrito por Tomás Antônio Gonzaga, no ano de 1792 (em Lisboa) e é uma obra do movimento arcadista, apesar de conter algumas características que puxam bastante para o romantismo.
O livro se desenvolve por meio de liras, sendo assim, um longo poema narrativo. Basicamente, a obra é sobre como Dirceu amava Marília com todo o seu ser. Tanto Dirceu quanto Marília, eram pastores de ovelhas, e ao longo do livro, ele fala da beleza divina de Marília, do quanto ele gosta dela, do quanto ele a deseja, faz planos para o futuro com ela, pensa nos filhos e na vida campestre que eles podem levar se ficarem juntos. No entanto, depois da metade do livro, Dirceu é preso e nesse momento, as liras focam mais em dizer como ele sente falta dela, das conversas, dos olhos, do corpo, do amor e do jeito de Marília.
Antes de encerrar o livro, o autor para com as liras e inclui sonetos. Esses sonetos são um tanto quanto tristes e pessimistas. Como uma obra arcadista, a vida na natureza e na tranquilidade da mesma é bastante exaltada ao longo do livro. Há também menções recorrentes à deuses e deusas da mitologia grega, bem como a invocação da Musa (escritores gregos normalmente começavam seus versos invocando a Musa, que significava invocar a criatividade, a inspiração).
Avaliei esse livro como bom, porque primeiramente, eu quero defini-lo com uma frase: "Marília rainha, o resto tudo nadinha!", sério, essa mulher devia ser uma deusa da beleza e da personalidade, porque Dirceu a amava com todas as forças (e nesse caso, todas as forças somadas não resultavam em zero, eram literalmente todas as forças e todo o ser). Posso dizer que eu não li esse livro, eu cantei esse livro. Basta pegar o ritmo da métrica e você vai embora, quando vê já se passaram 10 páginas. Sendo assim, achei o livro bastante fluído. Entretanto, avaliei como bom, porque por ser no formato de poema narrativo, você teria que investir muito tempo para realizar a leitura sem perder nada. Na realidade, é até perfeitamente possível durante o decorrer da obra, você perceber quando ele está falando algo que acrescenta algo ao enredo, e quando ele está apenas admirando a Marília e falando dos deuses gregos.
Eis aqui uma lira que gostei muito:
Capítulo I - Lira X
Se existe um peito,
Que isento viva
Da chama ativa,
Que acende Amor;
Ah! Não habite
Neste montado,
Fuja apressado
Do vil traidor.
Corra, que o ímpio
Aqui se esconde,
Não sei aonde;
Mas sei que o vi.
Traz novas setas,
Arco robusto;
Tremi de susto,
Em vão fugi.
Eu vou mostrar-vos,
Tristes mortais,
Quantos sinais
O impio tem.
Oh! Como pé justo
Que todo o humano
Um tal tirano
Conheça bem!
No corpo ainda
Menino existe;
Mas quem resiste
Ao braço seu?
Ao negro Inferno
Levou a guerra;
Venceu a terra,
Venceu o Céu.
Jamais se cobrem
Seus membros belos;
E os seus cabelos
Que lindos são!
Vendados olhos,
Que tudo alcançam,
E jamais lançam
A seta em vão.
As suas faces
São cor de neve;
E a boca breve
Só risos tem.
Mas, ah! respira
Negros venenos,
Que nem ao menos,
Os olhos vêem.
Aljava grande
Dependurada,
Sempre atacada
De bons farpões.
Fere com estas
Agudas lanças
Pombinhas mansas,
Bravos leões.
Se a seta falta,
Tem outra pronta,
Que a dura ponta
Jamais torceu.
Ninguém resiste
Aos golpes dela:
Marília bela
Foi quem lha deu.
Ah! Não sustente
Dura peleja
O que deseja
Ser vencedor.
Fuja, e não olhe,
Que só fugindo
De um rosto lindo
Se vence Amor.
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