Carlos Augusto Vasques 23/10/2024
Lido em 20/10/2024
"O presidente dos Estados Unidos leu o memorando com uma expressão de crescente horror.
- Mas isso é terrível - disse ele, quando acabou a leitura. - Não tem opção. Ou melhor, qualquer que seja a opção, homens vão morrer.
Adam Munro fitou-o sem qualquer simpatia. Uma das coisas que aprendera na vida era que, em princípio, os políticos não fazem muita objeção à perda de vidas, contanto que, pessoalmente, não apareçam como responsáveis diretos aos olhos do público.
- Já aconteceu antes, Sr. Presidente - disse Munro, com firmeza. - E certamente vai acontecer de novo. Na Firma, é o que chamamos de a alternativa do Diabo."
O trecho acima, extraído da contracapa do livro, dá a explicação para o título da história, uma trama de suspense político bem engendrada e que me capturou do início ao fim.
Anos 1980, tempos da Guerra Fria. A União Soviética enfrenta um grave desabastecimento de alimentos, que poderá levar a fome à grande parte da população. O medo de uma revolta contra o governo faz com que os soviéticos busquem a ajuda dos Estados Unidos, ainda que temerosos do que os americanos possam pedir em troca. O receio se justifica, já que os Estados Unidos, por meio de seu sistema de espionagem, sabem do problema e pretendem tirar proveito disso. Para complicar ainda mais a situação, uma funcionária do alto escalão soviético, aparentemente revoltada contra seu governo, procura um ex-amor do passado que é também um espião da Inglaterra - aliada dos Estados Unidos - e que se passa por diplomata na Embaixada inglesa em Moscou. Ela revela informações estratégicas altamente confidenciais e que podem ajudar o ocidente a manter no poder o atual premier russo, cuja queda está sendo arquitetada por uma facção do governo que é contrária ao acordo com os americanos e que planeja uma guerra contra países vizinhos como forma de resolver a crise alimentar.
Paralelamente às ações de espionagem e maquinações dos diferentes governos, ucranianos ultranacionalistas que desejam a libertação de seu país do jugo soviético levam a cabo atos terroristas com a intenção de fazer ruir o governo russo, e que inclui o sequestro do maior navio petroleiro do mundo. Além da ameaça de executar toda a tripulação, eles prometem vazar para o oceano a carga de um milhão de litros de petróleo, causando um desastre ambiental sem precedentes. Para que isso não aconteça, é exigida a libertação de dois comparsas que estão aprisionados na Alemanha Ocidental, com a garantia que cheguem sãos e salvos em Israel.
Personagens fascinantes, conspirações dos mais diferentes governos, esquemas intrincados de espionagem, o caso de amor entre o espião inglês e a dissidente russa, o sequestro do petroleiro e as ações desesperadas dos países atingidos para tentar neutralizar os terroristas ... são vários os componentes que fazem a história bem atraente. E para coroar tudo isso, há uma revelação surpreendente ao final.
De Frederick Forsyth havia lido o romance "O dia do Chacal" e o livro de contos "Sem perdão", ambos muito bons. "A alternativa do Diabo" está no mesmo nível das obras anteriores. Gostei bastante.