TalesVR 07/05/2019
Mini-História da Loucura
A Coleção Primeiros Passos nunca decepciona, e com esse título não foi diferente. João Frayze-Pereira define bem o contexto histórico e social da loucura em poucas páginas, num apanhando geral de livros do Foucault. Realmente não é possível esgotar o tema, mas também não é nada raso, pelo contrário.
Premissa básica de se entender a ''doença mental'' é entendê-la como um desvio, um desvio que só pode ser definido se soubermos o que é o padrão correto a ser seguido. E é aí que começa a mágica da psiquiatria: tal conceito de certo ou errado é cultural. Não existe um padrão definido de normalidade, sendo este construído socialmente. É plenamente possível que um jovem que escute vozes em uma aldeia indígena venha a se tornar um xamã, ao passo que um jovem na cidade grande nessas mesmas condições será tratado como esquizofrênico.
Além disso, o homem sempre se deparou com a loucura, e enquanto na Idade Antiga e Média ela era tratada como sabedoria divina ou popular, com o tempo ela foi ganhando contornos indesejáveis. Com a revolução burguesa o louco torna-se um parasita social, que deve ser excluído. E continua assim até hoje: o louco não serve para a produção capitalista, que funciona a base de produtividade, consumo e pressão. A sociedade contemporânea é uma verdadeira fábrica de loucos.
Ponto interessante para o final do livro que traz uma reflexão extremamente necessária: quando falamos em saúde física pensamos em prevenção, vacinas, atividades físicas, etc; e por que em saúde mental só olhamos quando a tal ''doença'' vem? É preciso entender para prevenir o que está por trás de tanta ansiedade e depressão, conseguindo muito mais efeitos benéficos no médio-longo prazo; seja com grupos de apoio, palestras, terapia, assistência social, o que for.