Rafael.Montoito 12/04/2020
Os cem melhores anos de um leitor
Primeiro livro lido em 2020, "Cem Anos de Solidão" talvez seja o livro que melhor representa a América Latina. Tomando Macondo (a cidade fictícia na qual se passa a história) como uma metáfora para colonização do continente e para sua vida política, com as ações revolucionárias do povo latino, García Márquez escreveu uma obra potente e cheia de simbolismos.
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A narrativa original de García Márquez - exemplo forte e, de certo modo, precursor do realismo fantástico - se desenvolve com foco no amor de José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, que fundam Macondo, e cuja família se estende por sete gerações. Desfilam, por sua árvore genealógica, personagens originais e incomuns que imprimirão cenas belíssimas na mente do leitor: Amaranta, que tece sua própria mortalha; José Arcadio Buendía, que passa anos embaixo de uma árvore; José Arcadio, o filho, com o corpo totalmente tatuado são apenas alguns pequenos exemplos.
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Os demais moradores da cidade também têm suas particularidades: o padre consegue flutuar; Rebeca come terra quando está aflita; Melquiades, o cigano, escreve pergaminhos que preveem a história da cidade, os quais só serão decodificados por Aureliano Babilônia, membro da sexa geração dos Buendía etc. É difícil citar exemplos sem estragar as belas surpresas da narrativa.
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Há, ainda, ventos, sabores, odores e cores que são representativos da Colômbia (e, por extensão, de toda a latino-américa) e que funcionam como via de acesso para o leitor, pois Macondo sempre se mostra - e se deixa sentir - viva, como uma personagem da sua própria história: a cidade ajuda a falar de si mema.
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"Cem anos de solidão" não ganhou o reconhecimento que tem por acaso; o livro ele é uma das maiores experiências de leitura e de imersão que um leitor pode ter.
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Àqueles que conseguem ler em espanhol, sugiro a edição cuja imagem aqui aparece, pois ela é riquíssima em material extra: apresentação da obra, estudos, glossário, árvore genealógica dos Buendía e resumo de todos os personagens que compõem a história podem ajudar o leitor a entender algumas entrelinhas que, para o menos atento, se perdem na leitura, já que vários personagens da família principal têm o mesmo nome e codividem o mesmo período histórico da narrativa.