André Ortelan 08/11/2021
É o fim de Macondo e é o fim dos Buendía.
Sim, demorou, mas chega ao fim um lugarejo fundado por José Arcádio Buendía e Úrsula Iguarán, findando também toda sua estirpe. Logo agora que eu jurava ter estado lá e ter feito parte da família.
Gabriel García Márquez - Gabo, para os íntimos - me fez, de fato, sentir que estive lendo um livro por pelo menos 100 anos. Que fique claro: não por ser uma leitura maçante e prolixa, mas pela riqueza de detalhes dos personagens, das histórias e relações de cada um, pela evolução gradual da cidade de Macondo, a qual acompanhamos do início ao fim e, principalmente, pela genialidade de escrever de uma forma que o tempo mostra se repetir, ciclicamente mas, paradoxalmente, com repetições peculiares e distintas.
Sei que a descrição foi confusa, mas vou tentar exemplificar usando os personagens. Gabo repete sistematicamente o nome dos parentes Buendía: são muitos Josés, Arcádios, Aurelianos, Amarantas, Úrsula, Remédios e mais as combinações desses nomes entre si (dica: vá anotando a árvore genealógica para não se perder). Ocorre que, cada novo Buendía que nasce, herda características que vão impeli-lo a se comportar de maneira muito semelhante a um ascendente seu, contudo, esse vai deixar sua marca peculiar no período em que Macondo está passando.
Tive a ideia de ler esse livro mês passado, quando fui a Colômbia, fiquei por cerca de 20 dias e resolvi comprar uma edição em um sebo de Cali. Não sei exatamente o que fez o autor latino-americano estar entre os seis ganhadores do Nobel de literatura (conforme informação preciosa do colega Ferencz Jr.), mas vou dar minha modesta e leiga opinião: A realidade meio fantástica criada por Márquez me fez refletir se ele realmente pensava e ponderava o efeito das coisas que escreveu ou simplesmente deixou sua imaginação fluir. Até agora não me decidi.
Ele não se importa em reduzir a nada a história de personagens que pareciam ser importantes e tampouco agradar a expectativa dos leitores mais românticos. Em uma página alguém pode ser um coronel vencedor de 20 batalhas e na outra (sim, pois o autor não faz questão de se valer de suspenses, se preciso for, logo entrega o final da história), sem qualquer cerimônia, o glorioso combatente de outrora pode morrer dormindo no completo esquecimento de seu povo.
Leitura complexa (mas não difícil), com críticas de difícil digestão, para ser lida com a razão e a emoção perfeitamente balanceadas. Obrigatória para os amantes dos livros que nasceram à oeste de Greenwich e abaixo da linha do Equador. Nosso Nobel sul americano. É para se orgulhar.