Ana Ruppenthal 30/09/2017
Em sua obra “A estrutura das Revoluções científicas”, de 1962, Tomas Kuhn pretendia rever as concepções de ciência aceitas até então, através de uma perspectiva da Filosofia da Ciência. Tendo ele ingressado na carreira científica como físico, mas posteriormente se interessado pela História da Ciência, Kuhn começou a perceber os entraves que a ciência da maneira tradicionalmente aceita fazia ao progresso, criando, então, as definições de revolução científica, ciência normal e paradigma.
Primeiro, Kuhn faz referência ao que vem a ser chamado de ciência normal, que seria o período em que os cientistas concordam acerca dos fundamentos de sua disciplina e o grosso de seu trabalho se dá no sentido de articular esses fundamentos e de ampliar a sua aplicabilidade. É o estágio da produção científica – qualquer que seja a ciência – em que há uma harmonia entre os fundamentos vigentes, estes pouco conflitando, mas tampouco suscitando poucas dúvidas, até o momento em que surjam proposições que a ciência normal, com seu paradigma, não seja capaz de solucionar.
Assim, surge a revolução científica. Pode-se entender revolução científica como “configuração mais ou menos constante de elementos que motivam e operam as mudanças mais radicais na história da ciência”. É certo que o autor se foca mais entre as fases pré-paradigmáticas (que é a fase em que a ciência ainda não tem um método ou modelo definido, muitas vezes nem chegando a se constituir em ciência propriamente dita) e paradigmáticas (que são as fases das ciências instituídas e regulares) das ciências chamadas naturais, pouco dispondo sobre as mudanças de paradigmas dentro das ciências já instituídas, sendo as naturais ou não, mas a aplicação e interpretação é a mesma. “No período de revolução científica, acontece o debate entre alternativas rivais, no qual os participantes de cada escola baseiam seu discurso em conjunturas de diferentes discursos”. Em outras palavras, “as revoluções científicas são episódios que dependem da seguinte configuração de acontecimentos seqüenciais: ciência pré-paradigmática (atividades desorganizadas), ciência normal, época de crise, ciência extraordinária, revolução científica e, por fim, um novo período de ciência normal e o conseqüente reinicio cíclico do mesmo percurso. O conteúdo de cada revolução científica é, obviamente, específico de cada ciência particular”.
Por conseguinte, o que a ciência pós Kuhn tanto instou em chamar de “paradigma” pode ser definido como o modelo, o padrão ou o conjunto de preceitos a serem adotados e aceitos pela comunidade do grupo científico de uma determinada doutrina científica. Embora o próprio Kuhn em sua obra não tenha delimitado sua definição, dando amplas interpretações ao termo, a acepção mais difundida pelos intérpretes de Kuhn é de que o paradigma seria um exemplar, um modelo a ser seguido. “Um paradigma fornece, pois, os fundamentos sobre os quais a comunidade científica desenvolve suas atividades. Um paradigma representa como que um “mapa” a ser usado pelos cientistas na exploração da Natureza”.
Antes das teorias de Kuhn, a praxe no desenvolvimento das ciências e na teoria do conhecimento, tendo base nas teorias de Wittgenstein, “para entender a atividade denominada ciência, mais valia entender sua prática que buscar uma fugidia estrutura lógica subjacente a toda teoria que se intitulasse científica”. E para Polany e Gombrich, a atividade científica “baseava-se em uma série de princípios, os quais jamais chegavam a ser enunciados – conhecimento que se baseia na ação”.