@lusantana.psi 05/07/2020
Repensando a ciência.
Não me envergonho e confesso, demorei anos para ler este livro do Thomas Khun - um pensador (físico, filosófico e historiador), sem dúvida, a frente do seu tempo.
Se você não é filósofo nem historiador esteja disposto a lidar com a própria ignorância em alguns momentos - pelo menos eu tive dúvidas sobre meu coeficiente de inteligência por várias vezes.Talvez, por isso, tenha procrastinado tanto na leitura.
O autor, apesar de ter escrito o livro em meados do século XX, tem uma linguagem agradável. A questão é que o tema é complexo mesmo. E o pior ocorre, na minha opinião, quando Khun decide trazer luz à sua exposição citando exemplos da química, física ou astronomia, o que mais me confundiu do que elucidou (mas sei que os bons entendedores entenderão).
Ele transita historicamente por fatos científicos muito relevantes, passando, por exemplo, de Aristóteles, a Newton, até a Einstein, para justificar sua hipótese, que considero central, de que a ciência não avança de forma evolutiva, mas disruptivamente, por revolução.
Neste sentido, ele esboça que a ciência normal acomoda-se a determinados paradigmas (o termo proposto por ele que mais gerou polêmica, sendo, no entanto, o que mais me encantou), trabalhando a partir dos seus manuais para sustentar o status-quo da comunidade científica em questão.
O objetivo da ciência normal não é inovar, mas resolver problemas - fazendo uma analogia às palavras-cruzadas, quebra-cabeças e sudoku.
A questão é que, em alguns momentos, falhas na teoria surgirão, algumas peças não se encaixarão, e os cientistas tentarão, com toda força de sua fé na sua ciência, ignorá-las, minimizá-las, revolvê-las.
Mas, como guardar poeira debaixo do tapete dá rinite, os estudiosos que, no geral, não fazem parte da comunidade em questão, enxergarão para além dos manuais e não tolerarão o aglomerado de anomalias identificadas. A teoria será objeto de severa crítica. A crise será, então, instalada.
E isso é lindo! Pois, tanto para o senso comum, como para a ciência, mudança gera sofrimento, claro, mas também gera desenvolvimento. Uma crise envolve um período de pesquisa extraordinária, mais do que o normal, um novo paradigma surgirá, com respostas antes não imaginadas.
Ele sugere que sem esse padrão de anomalia - crise e novo paradigma - estaríamos atolados na lama. Não
conseguiríamos novas teorias que respondessem de forma mais adequada aos problemas levantados.
Quando um novo paradigma surge avançamos, até que a nova descoberta seja questionada. E novos paradigmas venham resolver ainda melhor os novos quebra-cabeças.
Assim caminha a ciência.