Andrelize 29/12/2011
Resenha e Microanálise da obra Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett.
Almeida Garrett é considerado introdutor do Romantismo em Portugal. E sua obra Frei Luís de Souza, publicada pela primeira vez em 1844, é uma autêntica obra-prima da dramaturgia romântica, pois é um drama de tensão burguesa. A peça teatral é baseada na vida do Frei Luís de Souza de nome Dom Manuel Coutinho de Souza.
A peça é dividida em três atos, o primeiro e o terceiro são subdivididos em doze cenas e o segundo ato é o maior, dividido em quinze cenas. As personagens são descritas por meio dos diálogos presentes na peça. Frei Luís de Souza é o protagonista da peça, e abandona seu nome de batismo D. Manuel Coutinho de Souza, para se converter em Frei Luís de Souza. O enredo tem como plano de fundo a dominação Filipina. Em 1578, o rei D. Sebastião desaparece na Batalha de Alcácer-Quibir.
Por não ter herdeiros para o trono, a sucessão foi marcada por uma longa disputa. Nesta disputa estava Filipe, rei da Espanha, que vence e anexa a Espanha a Portugal, seu domínio dura sessenta anos. Neste período cria-se o mito popular do “Sebastianismo”, segundo o qual o povo acreditava que o desaparecido rei retornaria e reergueria o império de Portugal.
Entre os desaparecidos em Alcácer-Quíbir estava D. João de Portugal, marido de Madalena de Vilhena que espera ansiosamente o retorno de seu marido, mas após sete anos de espera, resolve casar-se novamente. Casa-se com Manuel de Souza Coutinho e tem uma bela filha, D. Maria, jovem de treze anos decidida, meiga e de personalidade forte. Na casa do casal trabalha Telmo, fiel amigo e empregado do primeiro marido, supostamente falecido, de D. Madalena.
Durante todo o drama D. Madalena sofre e vive angustiada com medo do possível regresso do primeiro marido, já que o corpo nunca foi encontrado. Apesar disso vive feliz e ama verdadeiramente o afetuoso e atual marido D. Manuel. Após uma briga entre D. Manuel e governantes, eles se mudam para a casa onde D. Madalena e seu então “falecido” marido D. João viveram juntos. Nesta casa as angústias de D. Madalena aumentam, até mesmo pelo fato de haver objetos de D. João espalhados pela casa.
Certo dia, um velho peregrino aparece na casa da família para atormentar o equilíbrio da casa. Esse peregrino traz noticias de D. João. Na verdade, esse peregrino é o próprio D. João que viveu vinte anos na Terra Santa como nativo. Todos se abalam e desesperam-se quando sua real identidade é revelada. É o clímax da peça saber que D. João está vivo e em Portugal. D. João era um homem bom, ele perdoa o casal e tenta impedir que o casal se entregue ao claustro, pedindo a ajuda a Telmo para impedir tal destino, porém Telmo não cumpre as ordens de D. João, pois é influenciado pelo Frei Jorge que afirma que a única saída para o casal é o sacerdócio.
O desfecho é trágico, D. Madalena e D. Manuel, abalados pelo pecado gravíssimo que cometeram casando-se sem a real certeza da morte de D. João resolvem entregar-se ao claustro, como forma de expiação a seus pecados.
“– Madalena... senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a nossa desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa-fé e seguridade de nossas consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão estas mortalhas (tomando os hábitos de cima da banca) e a sepultura dum claustro.”
Quando D. Maria, filha do casal, descobre toda a verdade e desesperada entra na igreja destinada a impedir à entrega dos pais a vida de religiosos, porém não resiste e tem um ataque cardíaco por conta da Tuberculose e morre aos pés de seus pais.
O nacionalismo, a idealização das personagens femininas, o pessimismo e o escapismo para a religião, características consagradamente românticas se mostram sempre presentes no diálogo dos personagens.