Toni 18/04/2024
Leituras de 2023
O imoralista [1902]
André Gide (França, 1869-1951)
Nova Fronteira, 2018, 128 p.
Trad. Theodomiro Tostes.
André Gide, escritor francês homossexual, foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1947, “por seus escritos solidários e artisticamente significativos, nos quais os problemas e as condições humanas são apresentados com um destemido amor pela verdade e uma intuição psicológica aguda.” O Imoralista, ainda que não esteja entre suas obras mais importantes, calhou de ser o que havia na estante para integrar as leituras recomendadas do mês do orgulho LGBTQIA+ (presente da @carolrdesouza 😘). No entanto, a leitura acabou não despertando qualquer desejo de recomendação, e a única boa lembrança que carrego do livro consiste no prefácio de 2 págs que acompanha a edição, uma breve defesa da arte e de sua autossuficiência e autorregulação.
Parafraseando o narrador-protagonista, O Imoralista pode ser lido como uma reflexão sobre as dificuldades em saber ser livre. Publicado em 1902, narra a jornada (simbólica e literal) de um jovem herdeiro intelectual recém-casado que, após uma doença que quase lhe arranca deste mundo, embarca em uma busca pela vida autêntica, sem máscaras ou normas cerceadoras. A partir da voz de Michel, Gide trabalha as tensões entre o desejo individual e a moralidade da época, construindo uma busca por autenticidade que amiúde se confunde com um narcisismo pueril respaldado pela linguagem decadentista. O texto, no entanto, é arrastado, ora francamente desinteressante ora exageradamente dramático — um problema muito pouco mitigado pela brevidade da obra.
Há, claro, momentos de belas passagens e reflexões filosóficas dignas de grifo, mas o que predominou durante a leitura foi um certo sentimento de desconexão e enfado. Ainda que possa ser recomendado pelo desenvolvimento muito consciente de uma narrativa que se apresenta sem qualquer condenação — nas palavras do autor: “não tentei provar coisa nenhuma, mas unicamente pintar bem e dar suficiente realce à minha pintura” — o resultado é um retrato bem feito em uma galeria com inúmeras outras pinturas de talento, sem qualquer detalhe que atraia nosso olhar já um tanto cansado.