livrosepixels 27/02/2017Distopia, fantasia, sci-fi... e no fim das contas, o que é a história mesmo?No século XXII, o mundo está diferente e é controlado por uma grande corporação internacional que protege as altas-cidades de perigos externos. No Brasil, na mega cidade de Manaus, o jovem órfão Peter Hawkson tem uma vida tranquila, porém, corriqueira. Ele mora na Baixa-Manaus, as ruínas que sobraram da antiga cidade amazonense. Ele sonha em ser qualificado para trabalhar dentro das unidades da Corporação Aurora, porém, sendo de uma classe mais pobre, sabe que as possibilidade são poucas.
Um dia, voltando para casa em um skybus, sofre um inesperado acidente que quase lhe custou a vida. Quando acorda, três semanas depois, sente-se mais forte e melhor do que nunca. Os médicos acham estranho aquela rápida recuperação, mas dão alta ao jovem. Peter não sabe ao certo o que aconteceu, mas tem certeza de uma coisa: algo mudou em sua vida após o acidente.
“Como qualquer garoto de sua idade, Peter tinha seus sonhos e muitos deles confrontavam com sua realidade, mas ele aprendeu bem cedo que os sonhos existem para serem conquistados, e isso requer vontade, dedicação e uma pitada de sorte.”
Ele então é abordado por uma garota alta e forte, com armadura Viking, que lhe diz estar correndo grande perigo e que ele é um singular, uma pessoa com poderes especiais e que pode ser descendente de uma antiga fraternidade chamada Guardiões da Humanidade, que luta pela paz e pelo fim da Organização, sociedade milenar que tenta eliminar todos os seres especiais da Terra e dominá-la.
Para sua segurança, Peter é levado através de um portal até a cidade de Lemúria, um reino mágico que abriga Golens, dinossauros e outros seres. Nesse lugar, irá conhecer novos amigos e, juntamente com eles, treinará seus poderes. Mas também descobrirá que o reino de Lemúria está sucumbindo às Trevas, e que somente depende dele encontrar um artefato – a Chave de Solaris – para salvar a todos e acabar para sempre com a Organização.
MINHA OPINIÃO
Os Guardiões da humanidade: o legado do falcão é o primeiro livro da série e me chamou muito a atenção devido a beleza da capa. A premissa da história também é bem bacana, pois é a primeira vez que leio uma fantasia que se passa em um mundo futurista como esse. Usar a cidade de Manaus como cenário para esta história também ficou muito interessante, pois valoriza nosso país e principalmente, a cidade amazônica. Entretanto, fiquei um pouco decepcionado com a história, pois desenvolve muitas tramas e não cria sentido em todas elas.
Peter Hawkson é um jovem de classe média com idade aproximada de 17 anos. Ele mora na Baixa-Manaus, parte da cidade que ainda não havia sido tomada pelas águas. Ele trabalha para a Corporação Aurora na Alta-Manaus, parte da cidade construída sobre a cidade original e que é protegida por uma enorme cúpula de vidro, devido ao ar ter ficado tóxico com as mudanças climáticas do século XXI (aliás, no mundo todo as cidades são protegidas por cúpulas. E todas comandadas pela Corporação Autora). Peter sonha em ser um aventureiro de skyphismo, um esporte que utiliza uma espécie de skate flutuante. A personalidade do personagem mostra que, apesar de uma vida medíocre e de baixas condições, ele almeja se destacar e ter um futuro melhor. Peter ainda é dedicado em seus estudos, e como possui poucos amigos, gasta suas horas vagas adquirindo mais conhecimento.
“A verdade é que, por ora, cada vez que ele entrava num skybus e contemplava de sua janela a grande cúpula que revestia a Alta-Manaus, imaginava como seria legal ter pelo menos a coragem e a habilidade de voar sobre um skyph, como os surfistas do ar, que vez ou outra avistava rasgando os céus e fugindo dos orbes do controle de trânsito.”
Quando descobre que é um singular – alguém com poderes místicos – uma voz misteriosa surge em sua mente e fica lhe dando dicas e às vezes, ordens. Apesar de não saber a sua origem, Peter as obedece sem pestanejar a respeito. São raros os momentos em que ele questiona o que é ou de quem é aquela voz. O protagonista também conhece os outros personagens e é levado até o reino de Lemúria, uma cidade mística que protege os singulares da Organização. Até aí a história vai bem, apesar de não ter me sentido ligado ou entusiasmado com o personagem principal. O problema começa justamente com essa transição do cenário futurista para o cenário fantástico. O mundo fantástico de Lemúria tem uma explicação muito superficial e não me convenceu. Os personagens que ali vivem também são bem rasos e não criam empatia com o leitor.
A história mistura muitas mitologias, muitos personagens diferentes e muitos cenários, mas, as explicações lógicas para tudo não aparecem. Os guardiões são formados por uma viking, um híbrido humano-lemuriano, um vampiro e dois humanos, sendo Peter um deles. Mas como e porquê cada um estar ali não é contextualizado, então acaba não fazendo sentido. A explicação para quem são os lemurianos então, ao meu ver, também não encaixa com a ideia mística; a localização do reino de Lemúria também deixa a desejar.
Mas o maior problema é o enredo do livro. No começo somos apresentados a um plot e acontece muita coisa ao mesmo tempo. Depois, enquanto o personagem principal está no mundo de Lemúria, temos um segundo plot, com um ritmo mais lento e é onde se passa a maior parte da trama. E por fim, o livro termina com um terceiro plot, que é completamente distante do começo, não dando a entender o que se passa no livro todo. A história termina no meio de uma cena, o que é muito frustrante. Quando acabei de ler, a primeira pergunta que me fiz era: afinal, qual é a motivação para a história toda? E qual é o legado do Falcão? Porque realmente, para mim, o livro se perdeu muito e não contou uma história com sentido.
“Quando chegamos éramos como deuses para eles, mas, depois de entenderem nossa tecnologia, passamos a ser uma raça como outra qualquer, apenas mais um empecilho. E, como qualquer outro empecilho, restava apenas se livrarem de nós. Isso não demorou muito para acontecer…”
A capa do livro é muito bonita e foi uma das coisas que mais me instigou a lê-lo. Muitas das coisas que o livro nos conta, tem representação na capa (como por exemplo, a cidade protegida pela cúpula, os skyphers, os drones da Corporação, o reino de Lemúria, etc). A diagramação também é outro ponto agradável do livro; inclusive, a fonte é maior que o comum. Em cada início de capítulo há também ilustrações feitas pelos próprios autores, o que agrega muito na história. Mas ao meu ver o ponto mais positivo do livro são as notas de rodapés. Nesse enredo futurista, há muita tecnologia nova, nomes novos, e o autor preocupou-se em explicar detalhadamente cada um desses termos. Se não houvesse essas explicações constantes, eu não compreenderia nem a metade do livro.
Na minha opinião, o livro é muito extenso, com mais de 500 páginas, com uma história que não teve um rumo bacana ou interessante e com a leitura um pouco truncada. Com a quantidade de termos novos, temos de parar a leitura várias vezes para ir na nota de rodapé ler o que significa, o que acaba atrapalhando um pouco. Acredito que o próximo livro, que ainda não possui data de lançamento, será mais focado na história e buscará amarrar todas as pontas deixadas nesse primeiro volume. Entretanto, não é uma história que me convenceu a continuar, então é bem improvável que eu continue a leitura desta série.
Penso que o livro poderia ter sido melhor trabalhado, focando em uma história só e mais desenvolvida, com personagens que fossem mais empáticos e que, principalmente, tivesse um final que realmente instigasse a leitura do próximo volume. Talvez a minha falta de experiência com jogos RPG também tenha sido um fator a favorecer a experiência negativa, pois os autores comentam nas páginas de agradecimentos que o universo do livro é inspirado nesses jogos.
Para quem gosta de literatura fantástica e não se importa tanto com detalhes e explicações lógicas ou que está familiarizado com o jogos RPG, poderá ter experiência melhor, já que a premissa do livro é bastante interessante e diferente das fantasias convencionais.
site:
http://resenhandosonhos.com/os-guardioes-da-humanidade-o-legado-do-falcao-j-l-lopes-e-andre-l-s-oliveira/