Breno Vince 02/11/2024
O primeiro ponto a ser dito sobre o "Caixa de pássaros" é que ele é um suspense. O que parece ser algo inicialmente óbvio é relevante para ter uma outra perspectiva sobre a obra e sobre muitas das críticas que são feitas ao livro. Enquanto suspense, ele não busca mostrar um monstro terrível que terrivelmente destrói a humanidade, mas sim busca criar um clima de tensão constante sobre o "desconhecido", perigos que sequer são certos e que não podem ser vistos. Isso pode ser um pouco frustrante ao leitor que busca respostas entre as quais "o que é o perigo a ser enfrentado", porque o autor não se volta para tal questão. A história é capaz de gerar algum desconforto? Depende mais do leitor. A mim, pareceu algo ok. 2/5 estrelas.
O segundo ponto a ser dito é sobre o ritmo. Enquanto suspense, o autor tenta colocar um ritmo veloz à narrativa, tanto que a chamada dele é que seria um livro para ler de uma só vez. O autor tenta fazer isso ao usar frases curtas, objetivas, e sem aprofundar muito nos personagens, limitando-se a desenvolver os personagens o suficiente para desempenhar funções. De fato, frases curtas aceleram o texto, entretanto admito que aqui não me agradou tanto, pois é uma preferência minha que o texto se desenvolva quando necessários, até porque entendo que cabem vírgulas em suspenses. 3/5 estrelas.
O terceiro ponto é sobre o desenvolvimento dos personagens. O autor tem papéis a serem desempenhados de modo geral para cada personagem e os desenvolvem apenas o suficiente para tal função. Há o personagem que é exemplo de força e suporte, há a personagem que é o exemplo do que daria errado à protagonista, há o personagem que é isolado e assim por diante. Isso não é, vale dizer, um erro necessariamente, mas mais um estilo, uma proposta, para agilizar e, talvez, mostrar o quanto cada indivíduo é descartável (aumentando o suposto risco sobre os protagonistas), contudo, para o caso específico, não tive tanta empatia para todos os personagens secundários que tinham um destino nitidamente selado desde o início da trama de forma explícita. 1/5 estrelas.
O quarto ponto é o risco que a criatura oferece. Se inicialmente o problema se mostra como algo terrível que sequer nos permite usar a visão, nosso principal sentido de modo geral, que se eleva com a questão dos indivíduos infiltrados, a sensação de perigo DESPENCA quando você percebe que eles não fazem mal diretamente, mas tão somente tentam fazê-los ver as criaturas. Ora, se eles apenas fazem isso, vigilância dobrada constante resolveria/impediria a questão, não? 2/5 estrelas.
Quinto ponto, o desfecho da primeira metade da trama. Talvez o ponto mais sensível da obra sejam os desfechos, sendo o primeiro, o do passado, o mais sensível. Isso acontece por várias coisas, entre os quais o não desenvolvimento dos acontecimentos bem como a ausência do impacto esperado pela ausência de empatia gerada com os personagens secundários. Há também a questão da velocidade que, embora normalmente seja um trunfo, aqui foi excessiva (só ver as críticas!), até porque, do nada, tudo se resolveu. Sobre o segundo desfecho, as críticas existem, acredito, pela esperança padrão de que toda história sempre vai ter um final fechado com o problema resolvido e os mocinhos ficando bem, ou seja, o final do livro (embora meio que muito conveniente) não é necessariamente ruim, mas pode desagradar por ser um tanto aberto e não apresentar as respostas como as pessoas esperam. Particularmente falando, não acho que a escolha de um final aberto seja ruim em si mesmo, até pela possibilidade de continuação. Assim, temos que o primeiro desfecho não foi agradável por ser aberto demais a ponto de não se conectar bem com a continuação na segunda trama, merecendo 1/5 estrelas, mas temos um segundo que é feito de acordo com uma escolha estilística do autor, merecendo 2/5 estrelas.
Por média, ficou como um livro de 2 estrelas, talvez merecesse 3, mas não mais ou menos que isso.
Assim, concluo por entender que "caixa de pássaros" é um livro que poderia ser melhor polido, mas não é necessariamente ruim. E, embora tenha uma premissa interessante, não é é um livro que me prendeu.