Aione 25/01/2019O tão bem comentado Caixa de Pássaros de Josh Malerman voltou a ser assunto após o lançamento de sua adaptação pela Netflix. O livro, que havia sido publicado em 2015 pela editora Intrínseca, recebeu no final de 2018 uma nova reimpressão, agora com a sobrecapa do pôster do filme.
Em um futuro próximo e pós-apocalíptico, as pessoas vivem trancadas dentro de casa, impossibilitadas de olhar para o mundo exterior. Uma ameaça desconhecida — criaturas, ao que tudo indica — fez com que as pessoas passassem a cometer atrocidades, seguidas de suicídio, após ver esses monstros misteriosos. Cinco anos após os surtos terem começado, Malorie decide sair com seus dois filhos pequenos em busca de um local mais seguro. Porém, o trajeto deve ser feito com olhos vendados, porque a ameaça continua pairando.
Em uma narrativa que alterna presente e passado, acompanhamos em Caixa de Pássaros duas linhas temporais. Na do presente, o tempo narrativo transcorre em um dia, no qual vemos Malorie e seus filhos enfrentando as adversidades do mundo exterior. Na narrativa passada, temos a extensão de alguns meses de acontecimentos, que se iniciam no momento em que os surtos começaram a ser noticiados, de forma que se torna possível compreender como tudo começou e quais foram as medidas necessárias nesses primeiros meses pós-apocalipse. E embora a narrativa em ambos momentos se dê em terceira pessoa, a sensação de leitura é de extrema aproximação com os personagens, principalmente por conta da sensação de agonia despertada pelo thriller. A escrita de Josh Malerman, aliás, se desenvolve sobretudo em frases mais curtas, fragmentadas e justapostas, que intensificam a sensação de alerta no qual as personagens constantemente vivem.
Não bastasse a escrita em si despertar as emoções típicas de thrillers, o próprio “vilão” da trama permite um aprofundamento do alarme que a história gera. Se em nossas vidas as situações desconhecidas são aquelas que mais proporcionam medo e ansiedade, temos o mesmo raciocínio para as criaturas de Caixa de Pássaros, porque elas não apenas são desconhecidas como nem ao menos podem ser vistas; por consequência, elas podem assumir, em nossas imaginações, as formas mais diversas e aterrorizantes. Mais do que isso, essa presença silenciosa e disforme é a essência do terror psicológico.
Vi muitas pessoas que se decepcionaram com o final por ele ser relativamente aberto, que não fornece respostas para muito do que desejamos saber. Em minha experiência, não vejo como Caixa de Pássaros poderia terminar de outra forma, já que um fechamento completo também colocaria fim no próprio sentimento que o livro desperta e que é sua essência. Ainda, como em histórias pós-apocalípticas, o final foi bastante típico nesse sentido.
Como fã do gênero, mergulhei na leitura e devorei o livro em pouquíssimas horas. Bem na verdade, tive a sensação de que a melhor maneira de se aproveitar a leitura é justamente essa, lendo o livro de uma só vez, para que não haja uma quebra nas sensações que ele desperta. Ao mesmo tempo, tanto a narrativa de Josh Malerman me fisgou quanto a história em si aguçou meu interesse; havia momentos em que eu queria mais da narrativa presente, para saber se Malorie conseguiria chegar em seu destino final, assim como em outros eu ansiava por mais episódios no passado, curiosa para entender os desdobramentos que levaram a protagonista a viver como nós a conhecemos no primeiro capítulo. Em linhas gerais, adorei Caixa de Pássaros, e fica o destaque por esse ser o romance de estreia do autor.
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