Bruna.Toledo 31/07/2022Achei bem difícil ler Gabriela, Cravo e Canela sem me deixar influenciar pela imagem retratada na minissérie da Globo. Não consegui desassociar a narrativa da televisão, o que inicialmente até me deixou desanimada com o livro, afinal eu já conhecia os plot twists. Felizmente, a ilhéus de Jorge Amado me conquistou aos poucos, até que me vi completamente seduzida pelo cenário e pelos personagens caricatos.
Esse livro não é um clássico à toa. É um retrato de como o Brasil se construiu Brasil: à base da violência, em busca de riquezas e tratando como figurantes quem fez todo o trabalho sujo e pesado (o povo). A elite está no centro de todas as discussões, com poder ilimitado para decidir o presente e o futuro. Qualquer conflito é sempre entre duas elites. As "minorias" que compõem a maioria da pooulação não têm lugar nem voz. Com a exceção de Gabriela, mas ela merece um parágrafo a parte.
Gabriela me irritou desde o início. Não por ser a antítese da mocinha recatada e virginal, mas pela forma rasa com que nos é apresentada. Gabriela parece incapaz de avaliar as situações para além do que é visível ou imediato, tem um comportamento impulsivo e uma linha de raciocínio que anda em círculos. É basicamente uma criança sexualizada. Por fim, me incomodou profundamente a fetichização da mulher pobre e sem recursos. A mulher exótica, de beleza descomunal e que está sempre disponível para dar e receber prazer, mesmo quando está dormindo tranquilamente no seu próprio quarto.