Dd/Ju 08/02/2024Gabriela de cravo, canela e encantosTudo que o Jorge Amado escreveu que tive o prazer de explorar até agora me encanta. É uma bela realidade inventada que ele nos apresenta e encanta com todos seus personagens, sua escrita é simples, mas erudita, sutil, mas de grande peso.
Quando se começa a ler este livro o que é mais aguardado é a chegada de Gabriela na história, o que só acontece entre a página 80 a 100. Chegada, Gabriela é um encanto, todo o amor que o autor tem por ela é expressado com uma grande beleza na descrição dos fatos. Afinal, eu como mulher queria ser Gabriela se pudesse, pois nela tudo encanta, o jeito de "se rir", de ser leve, de viver bem e feliz na satisfação da simplicidade de sua vida. É um grande choque saber do seu passado, só grande sofrimento que ela passou e se encantar que apesar de tudo seu coração não amargou, ela transformou tudo em coisas simples. Gabriela logo ficou órfã, foi destinada a casa dos tios onde por vezes era surrada, foi estrupada, logo cedo se iniciou no trabalho, sofreu com as consequências da seca, saiu em caravana de sertanejos em busca da sobrevivência e carregou o tio até onde ele conseguiu chegar antes de falecer. E mais uma vez eu ressalto o fato de que apesar de tudo isso ela não se amargou, na verdade resolveu viver a vida em termos simples, buscando a mais simples das liberdades.
Na trama também habitando Nacib e seu mais profundo pensar descobrimos um homem sentimental por não pensar de acordo com os padrões da terra em que vivia. É interessante todas as reflexões feitas diante do primeiro ocorrido da trama que foi o assassinato de Sinhazinha e Osmundo, e eu acho que é aqui um dos pontos que demonstra bem o regionalismo na transformação do cenário, em que não é mais de violência que provém as grandes mudanças.
Nesse meio temos os embates políticos, aquela bem marcada ideia do novo combatendo o velho, ou do progresso combatendo o conservadorismo e todas as observações de João Fulgêncio que transforma o rumo dos personagens do livro apenas com palavras. Em minha leitura o livreiro roubava a cena cada vez que aparecia, logo depois de Gabriela, claro.
Como foi marcante o fim de Ramiro Bastos, a inesperada traição de Tonico, o expulsão de Glória, seu caso com Josué e Ribeirinho, entre outros casos dos vários personagens. Falta eu senti de saber o rumo de Malvina, porque ela também foi marcante, além de Clemente e Fagundes. Ainda, destaco a cena marcante de Gabriela fazendo todo mundo cair na dança do Reis.
Por fim, refletindo, eu vejo em Gabriela a liberdade, o desapego, a falta de amarras, o não saber, a simplicidade da vida e diversar outras coisas que não se explicam totalmente e tudo bem, somente aceite-as e se farte. Tudo na vida tem sua parte boa...
E um monte de reflexões de pensamentos desconexos após a leitura desse livro. Leia!