Lethycia Dias 08/05/2022Crônica de uma cidade do interiorEsse livro estava na minha TBR de releituras desde que comprei esta edição antiga em um sebo. Ler novamente, quase 10 anos após a primeira leitura, foi uma experiência bem difetente do que eu esperava, mas não quer dizer que não gostei.
Neste história, somos apresentados à cidade de Ilhéus (Bahia) nos anos 1920, com seus personagens típicos que se farão presentes durante toda a história. Entre eles, estão o Coronel Ramiro Bastos, chefe político local; Mundinho Falcão, empresário carioca e seu maior opositor; e Nacib, dono de um bar que logo no início da história precisa lidar com a partida da cozinheira que preparava suas refeições e os apretivios de seu bar e se vê desesperado para contratar uma nova funcionária. A chegada de Gabriela, retirante que pouco se importa com convenções sociais, marca uma série de acontecimentos que evidenciam a modernização da cidade e sua mudança de costumes.
A primeira coisa que se destacou para mim nessa releitura é o tempo que leva até a primeira aparição de Gabriela. Antes que ela seja sequer mencionada, conhecemos toda a cidade de Ilhéus, seu passado violento de disputas por terra e seus problemas sociais e políticos, a riqueza dos fazendeiros de cacau e a prosperidade que se espalha (de forma muito desigual) pela região. Esse é um indicativo de que Gabriela não é uma protagonista, como o título sugere, e que seu romance com Nacib não é o principal elemento do enredo. O subtítulo "Crônica de uma cidade do interior" indica bem o que o livro é, e talvez sua maior protagonista seja a própria Ilhéus.
O envolvimento de Nacib e Gabriela é, como tudo o mais, um retrato desse lugar. A paixão arrebatadora e sem compromissos - que é ideal para Gabriela - transformada em casamento civil pelos ciúmes de Nacib e pelo medo de perder a excelente cozinheira que encontrou; as ambições de enriquecimento de Nacib construídas principalmente a partir do trabalho de Gabriela - e até mesmo o fim do casamento, possibilitado pelo famoso "jeitinho brasileiro", são coisas que só poderiam acontecer naquela terra habitada por aquelas pessoas com aquelas tradições.
Fiz uma leitura lenta, porém divertida, e bem mais madura do que a experiência anterior. Recomendo para quem já tenha lido outros livros de Jorge Amado e sabe o que esperar deste.
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