DIRCE18 25/05/2015
No meio da minha leitura surgiu Drummond, surgiu Drummond no meio da minha leitura.
Desde que me tornei uma Skoober ( é assim que se fala?) as resenhas e avaliações de leitores são para mim uma espécie de bússola cuja seta, na maioria das vezes, aponta para uma proveitosa leitura. Stoner juntou-se a essa maioria.
Quem, por ventura, se deu ao trabalho de ler meus comentários, já deve ter notado que capas e títulos de livros podem se transformar em “afrodisíacos’ para mim, e foi o que aconteceu com a capa do “ Stoner”. Ela espelha um homem fatigado, envelhecido (prematuramente para os seus 63 anos, constatei depois),com uma expressão sombria, melancólica, severa (ou sofrida, talvez) enfim, uma capa que retrata muito bem o protagonista do romance.
O envelhecimento precoce se justifica pelo trabalho árduo destinado a Stoner, quando na casa de seus pais até os 19 anos, e na dos seus tios, já na universidade. As expressões espelhadas pela capa e o “caminho” que a leitura me conduziram ao Poema do Drummond “No meio do Caminho”.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
-x-x-
Nossa vivência é feita de pedras que muitas vezes nos impulsionam para frente. Se não conseguimos removê-las tentamos contorná-las e seguimos em frente. Porém, no caso de Stoner, parece que não havia uma pedra em seu caminho – ele era a pedra. Uma pedra que todos manipulavam aos seus bel prazeres. Somente na universidade ele deixava essa sua condição ( a de pedra) e impunha sua vontade e sua “energia”. Ele atendeu ao “chamado ” do William Shakespeare , quando se deparou com o seu soneto: optou pela faculdade de Letras deixando de lado a faculdade de Ciências Agrárias imposta pelo seu pai. Foi obstinado na sua intenção de reprovar um aluno que ele considerava inepto. Não abriu mão dos dois anos que lhe era de direito até se ver obrigado a se aposentar compulsoriamente.
Mas fora da Universidade...Que pena!!! Foi com muita pena que presenciei a apatia de Stoner. Presenciei sua falta de energia para remover as pedras do seu caminho. Ele se curvou à Edith - a sua suposta metade da laranja (bem podrinha, diga-se de passagem) . Foi com muita pena que vi essa metade da laranja podrinha “estragar” Grace – a filha do casal.
Com sua apatia Stoner deixou que as duas pessoas que ele amava dele se separassem: Grace e Katherine.
Foi com pena que lá no final do romance percebi que Storner poderia ter feito uma tentativa de “lapidar” as pedras que surgiram em seu caminho e, dessa forma, talvez ele e as pessoas que lhe eram ou lhe foram queridas não se tornassem tão infelizes.
Se alguém, a esta altura, estiver lendo este meu comentário poderá estar se perguntando: mas se Stoner, com sua omissão, teve sua parcela de culpa nas trajetórias de vidas infelizes,inclusive a sua, qual a razão das 5 estrelas?
Foi porque acabei de completar 63 anos – idade de Stoner no ano de 1954- e não pude me furtar de me questionar: consegui remover as pedras do meu caminho? A resposta é Não , e pouco me importa. O que me importa foram as posições nas quais me coloquei frente a elas: errando e acertando, prevalecendo os erros, mas me posicionando sempre.
As 5 estrelas também se deveu a excelência do autor ao narrar a vida de um homem comum que ele resolveu nomear como William Stoner, nascido no século XIX (1891), mas que poderia ser a história de qualquer um de nós, nascidos em pelo século XXI , porque,afinal, viver é isso: é tentarmos descobrir como “enfrentaremos as pedras dos nossos caminhos” em todos os âmbitos.