Coruja 05/02/2016O principal motivo para Alif, o Invisível ter vindo parar na minha estante é que a autora dele assina o roteiro de Ms. Marvel - um dos melhores e mais premiados quadrinhos que a Marvel tem lançado. Eu me diverti imensamente com as aventuras da Kamala, o humor e as idiossincrasias causadas por sua identidade religiosa.
Sério, se vocês tiverem oportunidade, leiam Ms. Marvel, ainda por cima que ela já começou a ser publicada em português. É ótimo!
Não sei por que cargas d’água, botei na cabeça que a G. Willow Wilson era árabe – acho que a identifiquei demais com a Kamala -, mas descobri graças a uma leitora do blog que ela é uma ocidental americana que se converteu ao islamismo.
(Fiquei, depois disso, curiosa para dar uma lida no relato que ela escreveu sobre seu processo de conversão, em A Leitora do Alcorão).
Por fim, descobri que Alif ganhara o World Fantasy Award de 2013, um dos maiores prêmios da ficção fantástica, junto com o Hugo e o Nebula, e assim, decidi colocá-lo na minha lista do Desafio Corujesco.
Considerando todos os motivos acima, era de se esperar que ele terminasse entrando para os meus favoritos ou coisa do tipo. Mas não foi bem isso que aconteceu.
Alif, o Invisível começa muito bem, um prólogo com um diálogo entre um sábio ganancioso de conhecimento, no melhor estilo Fausto de ser, e um djin, um gênio na mitologia oriental. E aí parte para o protagonista em tempos modernos, o Alif do título, um jovem hacker que atende a interesses de dissidentes políticos na cidade onde mora.
De cara você se toca que estamos dentro do universo da Primavera Árabe, inclusive com referências aos protestos que ocorreram no Egito. E, ei, isso muito me interessa, de forma que fiquei na pontinha da cadeira, mas sem entender muito bem o que Alif tinha a ver com o que ocorrera no prólogo.
Então Alif faz uma burrada por causa da namorada, cria um programa que prevê comportamento humano no estilo do Projeto Insight de Capitão América: o Soldado Invernal e o deixa cair nas mãos do regime totalitário que governa a Cidade e acaba indo parar no submundo mágico do lugar ao lado de djins, vampiros e outras criaturas sobrenaturais, enquanto se vê às voltas com o livro que resultou do diálogo do sábio lá no prólogo.
Qualquer uma dessas linhas narrativas, sozinha, daria uma grande história. Mas misturando tudo junto no mesmo caldeirão? Eu não acho que funcionou tão bem quanto deveria.
Parte do problema é que li o livro devagar quase parando, em horas de folga num mês bastante turbulento. Mas a outra parte é que é difícil conseguir colocar lado a lado o universo fantástico típico de As Mil e Uma Noites (e temos uma narrativa de Sherazade dentro desse livro também) com as questões políticas e sociais que explodiram em ondas de manifestações e protestos a partir de 2010, e cujos efeitos ainda podem ser sentidos agora.
O livro não é ruim, e tem personagens muito interessantes. Individualmente, eles são pontos fortes da narrativa. Dina, a vizinha de Alif que acaba sendo pega no meio da confusão, chamou minha atenção em especial e eu não me importaria de ler mais sobre ela...
Creio que este será um livro candidato a releitura em algum momento futuro, com a cabeça um pouco mais presente. Talvez com menos expectativas e tendo tempo para conseguir interlaçar tantos universos na minha cabeça, Alif, o Invisível ainda venha a me surpreender.
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