Lucio 28/01/2015
Um livro feito para que nos encontremos em nosso momento histórico
Schaeffer é um conhecido autor evangélico, um filósofo que demonstra enorme erudição e compromisso com o cristianismo bíblico. Ver alguém desta estirpe dialogando com historiadores, artistas e filósofos não cristãos é o que nos motivou a pegar esse livro para ler. E as expectativas foram atendidas. Na verdade, melhor do que esperávamos. Há muita referência a fatos históricos da qual não temos domínio completo. E não foi só na história que Schaeffer nos deu um balde de água fria, mas, precipuamente, no que diz respeito à história da arte. Quanta referência à arte! A todo instante tivemos de nos voltar para o google com o objetivo de buscar imagens para que entendêssemos o que estava sendo dito. Schaeffer faz, também, uma série de referências à literatura e, aqui, também não ficamos completamente à vontade, embora saibamos nos situar.
Na história de filosofia e da teologia Schaeffer se mostra exímio. Até mesmo toma cuidados muito importantes, como o de observar que há uma disputa em torno da interpretação de Kierkegaard, distinguindo, assim, o que fizeram parte de seus seguidores que, possivelmente, tenham o distorcido.
O problema aqui é que é preciso uma boa bagagem para ler esse livro. Não tivemos dificuldades nas discussões filosóficas. Mas muitas ele menciona de forma muito rápida, o que dá a entender que o autor presume que seus leitores estejam familiarizados com elas. Por exemplo, a questão do 'uno e do múltiplo', ou mesmo a disputa platonista/aristotélico no que diz respeito aos particulares e aos universais. Schaeffer parece, também, falar àqueles que estão inteirados com as questões a respeito dos pressupostos e das cosmovisões. Só com esses conhecimentos o livro pode ser devidamente apreciado. Pra não mencionar aqueles supra-citados.
O resumo do que o livro aborda é o seguinte. Schaeffer parte do princípio de que a cosmovisão do indivíduo determina toda sua produção cultural e suas ações públicas (de cunho político) e privadas (ações morais). Assim, ele nos remete ao início do Ocidente, no Império Romano - sem se esquecer de mencionar os gregos - para, até os dias atuais, esboçar um panorama histórico do desenvolvimento do humanismo, da pretensão do homem de pensar por si mesmo. Observaremos o humanismo surgir na Grécia, alcançar auge político em Roma e entrar em colapso para, depois, após a Idade Média, e com raízes nela, ressurgir na Renascença, alcançar a vida adulta no Iluminismo e, finalmente, cair na pós-modernidade, embora suas ruínas já estivessem implícitas desde suas origens. A partir do humanismo não será possível que pensemos em significado e valor para a vida e, a solução filosófica, foi a de reclusar essas coisas ao campo da irracionalidade como fuga da razão que, a seu modo de ver, só poderia conceber um mundo frio, determinista e sem sentido.
Essas concepções, formuladas gradualmente pelos filósofos, acabam se amalgamando e se tornam o 'zeitgeis' do Ocidente, em constante evolução (ou, quem sabe, dado seus fins, poderíamos dizer 'involução'). E, claro, como já observado, isso traria consequências políticas e morais. Logo, temos uma sociedade que, a partir da pressuposição de que 'homo mensura', só pode escolher entre liberdade regada a caos ou ordem imposta a despeito das liberdades individuais, quando a alternativa bíblica está sempre presente e pode fornecer não apenas unidade para todas as experiências como concebe liberdade, ordem, significado e sentido para o conhecimento.
Em suma, epistemológica, moral e politicamente o humanismo ruiu. E sua derradeira cria é o autoritarismo, munido de artes e poderes manipuladores, para impor a ordem artificial. Temos de reagir aos rumos que as coisas estão tomando. Devemos, como cristãos, propor um retorno às bases bíblicas. Devemos lutar para que a sociedade reencontre seus absolutos antes que seja tarde, e nos tornemos inimigos do Estado, fadados à morte ou a nos tornamos espectadores da ruína completa do Ocidente.
O livro, pois, é indicado para todo estudante sério tanto de filosofia quanto de política, direito e história. Teólogos não seriam prejudicados se o lessem. Todos que quiserem compreender nossos tempos para que saibam como influenciá-lo para o bem devem arregaçar as mangas e estudar (não apenas ler) essa obra de Francis Schaeffer.