Tamirez | @resenhandosonhos 12/08/2016Os Sete Últimos Meses de Anne FrankAnne Frank escreveu durante alguns anos em seu diário, mas desde o momento em que sua família foi descoberta no Anexo seu destino ficou incógnito do mundo. A menina que relatou sua vida, seus dramas familiares e suas questões adolescentes naquele diário, que ganhou de aniversário, desapareceu em meio aos muitos judeus e vagou junto com eles pelos campos de concentração.
Em uma coletânea de entrevistas para o documentário The Last Seven Months of Anne Frank, lançado em 1988, o cineasta Willy Lindwer conversou com seis sobreviventes que em algum momento cruzaram caminho com a garota.
“Anne era uma garota teimosa, E sempre estava muito bonita. Da modo geral, todos gostavam muito dela, e ela sempre era o centro das atenções em nossas festas. Gostava de ser importante – isso não era uma qualidade ruim. Lembro que minha mãe, que gostava muito dela, costumava dizer: ‘Deus sabe de tudo, mas Anne sabe mais’.”
Através das histórias contadas por Hanna, Janny, Rachel, Bloeme, Lenie e Ronnie, retratando um pouco de suas trajetórias, conseguimos pequenos fragmentos de por onde andou e como foram os últimos meses de Anne Frank. Cada uma das entrevistadas tem sua própria voz e trazem suas angústias e preocupações à tona, enquanto caminham até o momento em que suas histórias cruzarão com a da garota.
Em mais um livro sobre a 2ª Guerra Mundial e os horrores que os judeus foram submetidos, Willy Lindwer consegue capturar fragmentos para tentar contar a história que, para todos que leram o diário, ficou incompleta.
MINHA OPINIÃO
Minha primeira preocupação sempre que ouço falar sobre relatos que envolvam o nome da Anne é com a veracidade. Depois que o Diário estourou, houve uma busca enorme por pessoas que pudessem ter ligação com ela para contar histórias que a envolvessem. Porém, na época, ela era somente uma garota como tantas outras que tiveram suas vidas devastadas por aquela tragédia.
Tendo em vista isso, é impossível que alguém pudesse contar passo a passo o que aconteceu com ela, não havia porque prestar mais atenção em Anne do que qualquer outra menina no campo de concentração. Portanto, somente aqueles que conheciam ela de antes, ou souberam seu nome durante as passagens por Westerbork, Awschwitz e Bergen Belsen poderiam ter algo a relatar.
“Anne aproximou-se da cerca de arame farpado. Não pude vê-la. A cerca e a palha nos separavam. Não havia muita luz. Talvez eu tenha visto sua sombra. Não era a mesma Anne. Ali estava uma garota cansada, abatida. Eu também provavelmente estava assim, era tão terrível. Anne começou a chorar imediatamente e então me contou: ‘Não tenho mais meus pais’.”
O primeiro relato é de Hanna, uma das primeiras amigas que Anne fez ao se mudar para Amsterdã. Elas estudavam juntas também no Liceu Judaico e a menina é mencionada no Diário sob um pseudônimo, como foram todas. Pelo tempo em que Anne esteve no Anexo, ela achou que ela havia fugido para a Suíça, nem mesmo sua melhor amiga sabia de seu verdadeiro paradeiro. Acho interessante que ela se questiona do porque Otto Frank não escolheu a família dela para ir para o Anexo com eles, mas diz que não guarda mágoas, pois tinha uma irmã recém nascida e que, logicamente, não seria algo fácil de esconder em um lugar tão pequeno e que deveria ser silencioso. Elas só voltam a se encontrar no campo de concentração e Anne já não tem mais o brilho no olhar que tinha na escola.
Essa é uma das informações mais importantes pra mim. Anne mudou. É fácil lembrarmos dela como ela antes, curiosa, ousada, esperta e com muita energia, mas até mesmo a mais forte das chamas pode se apagar frente a tamanha crueldade. Os campos de concentração e o fato de ela ter sido tirada de ambos os pais e só ter a irmã Margot, além de todas as privações sofridas marcaram a garota que vemos através das páginas daquele diário. Esses poucos meses mudaram tudo pra ela. O medo se tornou realidade, a separação da família a dilacerou, e quando a doença pegou tanto ela quanto a irmã, já era tarde demais.
“Finalmente víamos, o tempo todo, a fornalha com sua chama enorme. Sentíamos o cheiro da carne humana queimada. E, em todos os cantos, víamos o desespero. Era uma existência terrível, sem esperanças.”
Enquanto Janny, Rachel e Lenie cruzaram por Anne ou pela família Frank em algum momento entre os primeiro galpão que eles foram atirados logo após saírem do anexo ou em Bergen Belsen, quando Anne morreu. Rachel inclusive relata que se lembra de ter notado o desaparecimento das duas, o que na situação em que se encontravam não era exatamente estranho, e depois ver seus corpos junto com os dos demais judeus que também morreram naquele dia.
Ronnie foi a que mais conviveu com Anne dentro dos campos de concentração, mantendo inclusive um convívio diário em BB, pois dividiam o mesmo galpão para dormir. Enquanto isso, Bloeme também conhecia a garota de antes e era colega de Margot no Liceu, tendo as reconhecido quando se viram em Westerbork.
“Podíamos ver as duas morrendo – Anne e Margot – , assim como outras mulheres. Mas o mais triste, obviamente, era o fato de aquelas garotas serem tão jovens. Sempre achei horrível o fato de nunca terem vivido a juventude.”
O Diário de Anne Frank foi escrito entre 12/06/1942 e 01/08/1944. Anne permaneceu em Westerbork até 03/09/1944, quando foi enviada para para Auschwitz e depois para Bergen Belsen em 28/20/1944. Foi nesse local que ela passou mais tempo e também, onde junto com Margot, sucumbiu a toda aquela tragédia.
Anne morreu alguns dias ou poucas semanas antes da libertação, apenas algumas horas antes da irmã, segundo os relatos. A tifo, a sarna e todo resto que as cercava privou o mundo da luz que Anne emanava, mas que já havia aos poucos se apagado. Ela deixou uma herança incrível para o mundo e teve um reconhecimento que sempre sonhou enquanto jovem, já que desejava ser escritora. Aqueles que conheceram Anne tiveram sorte de conviver com sua energia, esperteza e bom humor. A nós leitores restam as histórias, peças de um quebra-cabeça que nunca será totalmente resolvido.
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