Gabriela.Stankiewicz 12/04/2017História de Duas Cidades É impossível conhecer Paris sem saber também um pouco sobre Londres. As duas cidades, na história, sempre andaram juntas, de mãos dadas, uma puxando a outra. Vizinhas e rivais, são ao mesmo tempo iguais e diferentes. Jonathan Conlin – doutor em história pela Universidade de Cambridge – nos transporta em 200 e tantas páginas por mais de 200 anos de história e desenvolvimento, com uma linguagem acessível e de fácil compreensão (deve-se destacar aqui também o fabuloso trabalho de tradução de Márcia Soares de Guimarães que empenhou-se em manter a tradução o mais fiel possível) e também ilustrações e relatos ao longo do livro que o deixaram com um aspecto menos didático e mais divertido. O livro, dividido em 5 capítulos aborda 5 pontos estratégicos para o entendimento da cidade como ela era: A casa, a rua, o restaurante, a dança, o submundo e a morte.
O primeiro e segundo capítulos, “A casa agitada” e “A rua” respectivamente, discorrem sobre aspectos urbanos e arquitetônicos em que as duas cidades se basearam para crescer. Enquanto Londres crescia para os lados, Paris crescia para cima, e o que levou a essa diferença de crescimento se as cidades eram tão parecidas. Ao mesmo tempo temos uma longa reflexão sobre a interação entre pessoas, patrão – servente, cliente – fornecedor, indivíduo – sociedade, que levam-nos a questões muito interessantes a serem discutidas dentro da esfera da sociologia urbana.
O terceiro capítulo “O Restaurante” chega a ser complexo para quem não está familiarizado com o modo de vida europeu. Porém, engana-se quem acha que este capítulo fala de comida, muito pelo contrário, este capítulo retrata a vida pública, que na época acontecia principalmente em “restaurantes”. Novamente aqui vemos uma discussão sobre valores morais de quem leva uma vida pública: quem podia comer em restaurantes, o que podia ser servido, e quais as diferenças e rivalidades entre os mesmos.
No quarto capítulo, “A Dança” conhecemos o mundo de espetáculo de Paris e Londres, bem como algumas de suas celebridades. Observa-se que principalmente no quesito diversão estas cidades são muito distintas, uma vez que o que era considerado divertido em Paris, era vulgar e promíscuo em Londres. Um capítulo interessante para ressaltar e observar as diferenças entre tais cidades.
Já o quinto e sexto capítulos “O submundo” e “Mortos e enterrados” respectivamente, tratam do assunto que a maior parte das pessoas tentam evitar, um assunto que causa desconforto: o crime e a morte. O crime retratado no quinto capítulo vem com uma dose de mistério ao apresentar personagens já conhecidos como Sherlock Holmes e desvendar a fundo a influência que as duas cidades tiveram na construção do protagonista dos livros de Edgar Alan Poe. Por outro lado, o sexto capítulo trata de algo tão comum porém tão desconhecido que a quantidade de informação contida nele acaba sendo apenas superficial, o desenvolvimento dos cemitérios em ambas capitais tem assunto para um livro a parte.
O livro é um compilado de informações que vem desde o século XVIII sobre a vida nas duas cidades, contadas a partir de relatos de pessoas que viveram nessas épocas. Apesar de muitas vezes a narrativa ficar confusa pela quantidade de informações, nomes e datas apresentadas num mesmo capítulo, o entendimento não fica prejudicado, é possível com paciência entender todos os fatos apresentados no decorrer do livro. Conlin proporciona uma maneira fácil e curiosa de aprender história, navegando por datas e alterando os locais de duas das mais famosas cidades do mundo, trazendo para perto do século XXI os costumes e maneiras de quem viveu no século XVIII.
A diagramação do livro é ótima e não encontrei erros de grafia, foi impresso em papel off-white avena que facilita a leitura e não cansa os olhos. O livro conta com mais de 40 páginas de notas e referências que são perfeitas para quem quiser se aprofundar no assunto, buscar mais informações ou até mesmo usar como referência bibliográfica.
“A cidade, entretanto, não revela o seu passado, mas ele está ali, como as linhas da mão; escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos balaústres das escadas, nos mastros das bandeiras, cada segmento por sua vez, marcado com arranhões, entalhes, ornamentos.” – Italo Calvino, Cidades Invisíveis.
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