Ana 11/04/2022
Libelo perfeito e necessário
Homens em guerra é um livro de contos que poderia ser classificado como libelo anti-guerra. Mas é um livro cujo valor transcende essa mera classificação. Trata-se de um livro que deve ter caído como uma verdadeira bomba na época em que foi escrito, justamente por seu caráter pacifista, e não à toa, foi publicado anonimamente no século passado. São contos muito realistas que mostram que só insensíveis são capazes de romantizar uma guerra, sendo que para os infelizes homens que foram/são obrigados a irem a uma, não passa de pura barbárie. E quem diria que mais de cem anos depois seria ainda um livro necessário!
Vamos ao enredo de cada conto: O primeiro mostra um soldado enlouquecido e ferido numa cama de hospital, com ódio de sua condição, e sentindo-se traído por todas as mulheres do mundo e inclusive pela esposa, todas incapazes de impedir que seus homens fossem obrigados a lutar; afinal, segundo ele, elas queriam ter um herói pra se exibir pras amigas;
O segundo conto, Batismo de Fogo, mostra dois oficiais, o capitão Marschner e o tenente Weixler lutando contra os italianos: um parece ser louco por morte e guerra; o outro, só quer correr dali o mais rápido possível.
O terceiro conto mostra um oficial de alta patente que tem sua pompa interrompida a contragosto por um infeliz soldado, justamente enquanto dava uma entrevista; esse oficial da alta patente é o retrato do burocrata de guerra que ficou rico às custas da desgraça e por isso, não quer que ela acabe de jeito nenhum.
O quarto conto, intitulado: ''O companheiro – um diário'', fala sobre um ex-combatente ferido, que anota em seu diário o quanto a lembrança do companheiro morto o assombra, enquanto desfia ácidas críticas aos poderosos, que parecem viver de carnificina enquanto os pobres-coitados dos soldados se matam em campo de batalha.
O quinto conto, ''A morte de um herói'', é a triste história que pode ter sido a de muitos: um pobre tenente, louco, ferido em carne viva, se lamentando numa cama de hospital, e que tem alucinações com pessoas andando sem cabeça, quer dizer, com discos de gramofone no lugar da cabeça, como acontecera certa vez a um pobre-diabo num ataque ao qual ele estava presente. Um horror.
O último, ''A volta pra casa'', é talvez um dos mais tristes desse livro, pois mostra o retorno de um homem que perdera a identidade na guerra, e com ela, perdera tudo, até o direito de ser ele mesmo e retornar para sua vida de antes. Quem ler vai entender. Depois dos contos, há ainda no livro o depoimento de Romain Rolland, que tivera um encontro com Andreas Latzko em 12 e 13 de setembro do ano de 1918, quando a Primeira Guerra felizmente já havia terminado, mas infelizmente com um saldo enorme de mortes nas costas.
Amigos, o verdadeiro herói de guerra é aquele que deserta e foge da confusão pra bem longe. Desde que não seja pego depois, claro.