Valaleitor 08/06/2020
A história do homem é a história da sua riqueza
A tese do materialismo histórico-dialético é simples: Para entender a história, deve-se analisar a mudança (i.e., dialética) das condições materiais do homem. Tudo que há na sociedade, como a política, a religião, os costumes, a língua, etc., gira em torno de como o homem adquire as coisas mais básicas para sobreviver, ou seja, como o homem produz, e como troca aquilo que é produzido.
Huberman aplica esta tese do marxismo para analisar a história européia. Sua proposta, ele afirma, é escrevar a história sob uma perspectiva econômica, e a economia sob uma perspectiva histórica.
Começando com a materialidade da Europa feudal, Huberman explica como todos os aspectos da vida medieval (o que inclui, principalmente, a religião e a dominância da Igreja Católica) se baseavam em como a vida subsistia nesse período, i.e., como funcionavam os feudos e o escambo. Capítulo por capítulo, Huberman mostra como a mudança material (i.e., econômica) direcionou a história da Europa, e esta direcionou de volta a economia. Como as Cruzadas levaram ao surgimento de burgos e comércio, como esta levou ao crescimento de artesãos, como este levou ao surgimento de bancos e coorporações, enfim. Toda a história da Europa a partir da Idade Média é relatada aqui, através não de eventos, mas de mudanças nas condições em que os europeus viviam.
Huberman escreve de uma forma maravilhosa, e mesmo quem não entende muito de história ou economia pode entender o livro facilmente. Apesar disso, não é um livro simples, pelo contrário, é um livro denso que pode gerar várias reflexões no leitor.
O autor em nenhum momento tenta esconder sua predileção ao marxismo. Ora, toda a sua análise é baseada justamente no método marxista do materialismo. Isso fica excepcionalmente claro quando, mais ao final do livro, ele relata com desdém o desenvolvimento do pensamento econômico clássico, e sua relação com a exploração do povo pobre europeu, ao relatar os idos da Revolução Francesa, e como a burguesia era o verdadeiro "povo revolucionário" da ocasião, e principalmente ao relatar a Revolução Russa e os primeiros anos da finada União Soviética.
O final do livro foi especialmente impactante pra mim. O livro é escrito em 1936, e o último capítulo relata com o capitalismo falhou na Grande Depressão de 1929. À face disto, Huberman diz que o capitalismo está em ruínas e um último fôlego foi tomado pelos capitalistas para tentar manter esse sistema "respirando por aparelhos", e este fôlego é o nazismo e o fascismo. Huberman alerta para o perigo que seriam estes sistemas (3 anos antes da Segunda Guerra), e afirma que só uma alternativa é possível: o socialismo soviético, que até então se demonstrava um regime democrático e mais produtivo que os países capitalistas. Ler isso em 2020, quando o nazifascismo bate à porta da civilização ocidental, e o socialismo é um sonho há anos falido, é extremamente desanimador.
Por fim, considero o livro essencial para todos que querem entender como funciona o materialismo histórico-dialético, e que pretendem entender a história do mundo de uma perspectiva diferente e mais profunda.