Pilantrinha 05/01/2022
MAS QUE ME*** É ESSA?
Tirei férias. Da faculdade, do meu estágio, até das minhas leituras. Estava completamente alheio, recebendo informações somente de maneira passiva, e estava bem assim. A ignorância é realmente uma benção. Quando resolvi voltar para as minhas leituras, decidi equilibrar os livros mais sérios com algo bobinho (insira aqui o meme do Thanos). Aí encontrei essa BOMBA no Unlimited (o que também ocasionou o cancelamento da minha assinatura, chega não dá mais).
Tem horas que eu sou um cara inteligente, mas também tem horas que eu sou um animal. Se eu tivesse visto ali PENELOPE DOUGLAS, a escritora mais sem noção que já pisou nestas terras, teria simplesmente passado direto, mas aí me recomendaram como mais um romance gato e rato, que eu acho geralmente bem divertido, e embarquei nesse absurdo.
Sério, não dá, esse livro chegar a ser criminoso, e eu nem estou brincando. Iniciamos a história com a Tate (ou Tatum), que é uma menina de 16 anos no ensino médio. A partir daí a luz de atenção já acendeu. Douglas sempre escreve literatura erótica e dá um jeito de colocar um cara bonito, musculoso, pau no c* e criminoso, que é como ela acredita que todo homem modelo deve ser.
E, infelizmente, a fórmula se repete. A Tate era melhor amiga desse rapaz problemático chamado Jared que simplesmente humilha a garota sempre que pode, e o melhor, sem motivação nenhuma (a autora tenta explicar isso aqui, mas não funciona). E sério, são coisas que me preocuparam demais e por isso eu quis escrever essa resenha. Em dias normais, eu simplesmente deixaria isso de lado e nunca assumiria a vergonha de ter novamente lido algo da Penelope depois de ter falado tão mal de Punk 57. Mas foi necessário.
Fico pensando aqui o que diabos essas histórias estão entregando. Isso é literatura feita de mulheres para mulheres, e consegue ser machista e tóxico como alguns caras jamais imaginariam, é uma aula escrita de como ser um escroto. E o pior, tudo isso sendo entregado de bandeja para meninas que estão agora iniciando a vida sexual, conhecendo seus parceiros, descobrindo o que é amor.
Bicho, o cara aqui faz da vida dela um inferno completo. Ela passa por assédio do amigo dele (e ninguém parece se importar de ver um cara lambendo uma garota no meio de uma sala lotada), ele espalha mentiras sobre ela possuir DSTs, ter abortado, e a faz sempre passar vergonha em público. No começo do livro, lemos essa seguinte frase do Jared para a Tate: “— Vou te fazer chorar logo, logo. — Seu tom de voz era calmo e decisivo. Eu acreditava em cada palavra”.
Agora tu me fala, onde que alguém vai ver a construção de um romance saindo de algo assim? E o pior, a resposta que a autora encontra pra todo esse absurdo é aceitação e, pasmem, momentos de suspensão da realidade enquanto a Tate esquece todas as humilhações e passa a admirar o corpo gostoso do seu ex amigo. Ah mermão, tem dó. Olha o absurdo que é isso, uma adolescente passando por situações totalmente abusivas e a Douglas vendendo essa merd** como se fosse o caminho para o amor.
Vocês conseguem entender a dimensão do problema que é isso aqui? De quantas meninas sem conhecimento nenhum do mundo real podem ler esse engasga gato e pensar: “poxa, então o zé que me humilha na escola na realidade sente algo por mim?”, “então quando eu estou numa relação com alguém o normal é sempre me sentir a beira do limite?”. Por**, isso aqui nem devia estar circulando.
Você, garota mais nova, no seu ensino médio, que convive com um Jared: denuncie. Ele pode ser bonito, pode ser famosinho no Instagram, ter 200 mil seguidores no Tico e teco ou o que seja, abra a sua boca. Fale com seus pais sobre o que está acontecendo, com a sua escola, procure ajuda. Não é normal passar por humilhações em nenhum momento da vida, muito menos no escolar.
Você, mulher mais velha que consome e compartilha esse tipo de conteúdo como um conto de fadas, talvez não seria a hora de uma pequena revisão sobre o que se anda lendo? Tenho certeza que existem várias obras por aí que ainda conseguem estar dentro do “cara gostoso e sombrio” sem criar narrativas absurdas e perigosas. Eu sinceramente não sei de onde vem esse fetiche em “consertar” homens, mas posso garantir pra vocês que é muito perigoso. E eu sou da raça.
Enfim, não falei muito sobre a história porque eu não acho que valha a pena. É um livro completamente descartável, e se pode seguir de alguma coisa é inspiração: Se alguém teve a coragem de publicar essa porcaria, foi até traduzida em outros idiomas e ganha dinheiro com isso, você também pode, escreva sua história. Tenho fé que vai dar de lavada nessa.
Bebam água e comam frutas, valeu.
ps: Ah, e feliz ano novo!