O Santo Inquérito

O Santo Inquérito Dias Gomes




Resenhas - O Santo Inquérito


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ricardo_22 03/01/2016

Resenha para o blog Over Shock
O Santo Inquérito, Dias Gomes, 34ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Bertrand Brasil, 2015, 126 páginas.

Paraíba, 1750. Em um ato de bondade, a jovem Branca Dias se atira no rio para salvar a vida de Padre Bernardo e impede que o sacerdote morra afogado. No entanto, o que poderia ser apenas um episódio insignificante de sua vida, na verdade é o ponto de partida para que tudo comece a desmoronar.

Após o salvamento, Branca revela ao padre a sua crença em Deus, apesar de não possuir um confessor e não ir à missa aos domingos. Para ela, o mais importante era sentir Deus em todas as coisas que lhe davam prazer, mas Padre Bernardo acha suas revelações suspeitas e teme que o demônio esteja corrompendo a jovem sonhadora, por isso a procura para tentar, em vão, convertê-la. Ingênua, Branca se abre ao seu novo confessor, enquanto este, para livrá-la da heresia, é capaz de acusá-la à santa inquisição.

“(…) Deus deve estar onde há mais claridade, penso eu. E deve gostar de ver as criaturas livres como Ele as fez, usando e gozando essa liberdade, porque foi assim que nasceram e assim devem viver. Tudo isso que estou lhes dizendo é na esperança de que vocês entendam… Porque eles, eles não entendem… Vão dizer que sou uma herege e que estou possuída pelo demônio. E isso não é verdade! Não acreditem! Se o Demônio estivesse em meu corpo, não teria deixado que eu me atirasse ao rio para salvar Padre Bernardo, quando a canoa virou com ele!…” (pág. 30).

Pouco se sabe sobre Branca Dias, figura lendária do nordeste brasileiro que inspirou O Santo Inquérito. A exemplo de Joana D’Arc, Branca foi vítima da inquisição e, condenada por heresia, queimada na fogueira após ser acusada de cometer diversos atos contra a moralidade e a própria fé cristã. Ainda segundo a lenda, em noites de lua cheia ela vaga pelas ruas silenciosas da capital paraibana para visitar o noivo prisioneiro e torturado, que preferiu morrer a acusá-la por um crime que não cometeu.

Mas ao falar sobre as personagens da peça teatral escrita no auge de sua carreira como dramaturgo, Dias Gomes fez questão de deixar claro que para ele, o que realmente era importante, é que Branca Dias realmente existiu — afinal, foi sua existência que possibilitou a escrita dessa obra. Hoje, ao falar sobre as mesmas personagens, afirmo que as contradições existentes entre as diversas versões da história desta heroína do nordeste brasileiro pouco importam quando apenas engrandeceram o valor literário de O Santo Inquérito.

A riqueza da obra está muito além do fator histórico explorado pelo autor do princípio ao fim. É bem verdade que retratar a Era Colonial significa mostrar como o país era dependente das leis e costumes em vigor em Portugal, no entanto, a partir do momento que defende o direito do ser humano de expressar a sua fé, o autor está indo muito além e cumprindo o objetivo de todo artista: ser a voz de todos aqueles que, por qualquer que seja o motivo, não conseguem ser ouvidos.

Contudo, este continua não sendo o ponto principal da obra em questão. Como possui poucos personagens e os em destaque estão ainda em menor número, o dramaturgo pôde construir todos eles com a maestria necessária para que não fossem apenas meros detalhes de sua história. A protagonista, por exemplo, se divide entre a ingenuidade de uma mulher sonhadora, que vê no amor pelo noivo o seu grande alicerce, e a consistência de seus argumentos ao refletir sobre Deus e o homem como Sua humanização.

site: http://www.overshockblog.com.br/2016/01/resenha-362-o-santo-inquerito.html
Carol Abrantes 25/02/2018minha estante
Bela resenha! Parabéns e sucesso...




Paulo Victor 19/02/2015

O que esta excelente obra de Dias Gomes ressalta com impecabilidade é o poder abusivo da Igreja Católica na época relatada. O autor também nos mostra a impostura religiosa através de um dos fatos mais corriqueiros da vida que é culpar os outros daquilo que nós mesmos somos os culpados. Uma excelente obra que todos deveriam ler para entender toda a mendacidade que era cometida através da "Santa Inquisição".
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Fimbrethil Call 14/04/2014

Impressionante
É o que eu posso dizer, esse livro é impressionante. A história que ele relata é impressionante. Gostei muito de ter lido.
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Eunice.Vilares 15/07/2011

Adorei
Uma amiga minha tinha lido e me contado toda a história. Aí eu devorei o livro em um dia... e adorei. Gostei da Branca e de como a história se desenvolveu.
Carol Abrantes 25/02/2018minha estante
Pq seu nota 3?


Eunice.Vilares 26/02/2018minha estante
Uau... 7 anos atrás.
Deve ser porque o livro é muito denso.




William 05/11/2010

Não é dos meus prediletos, mas a leitura é cativante, por isso dou nota alta e indico.
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psyche 21/06/2010

Sobre uma mulher que era fiel à si mesma
Excelente. Eu tenho uma conexão muito forte com personagens como Branca Dias, a personagem principal desta história. Livre, forte, pura, apaixonada...

Apaixonada por tudo, pela natureza, pelo que é belo e por tudo que lhe traga conhecimentos sobre esse mundo maravilhoso em que ela julgava viver. Sim, julgava. Pois aqueles não eram capazes de enxergar a beleza que ela via julgaram que o que ela via não podia ser bom. E a acusaram de bruxaria por ser capaz de amar tudo o que Deus lhe havia dado.

Mas o que mais me apaixona em Branca Dias é a sua fidelidade à si mesma. Ela sabe quem ela é, e sabe, verdadeiramente, que não poderia ofender a Deus por amar. E isso para Branca Dias, é o que basta.
Leo Barbosa 24/08/2011minha estante
O Santo Inquérito, de Dias Gomes


Encenado pela primeira vez em 25 de setembro de 1966, a peça ?O Santo Inquérito", de Dias Gomes, baseou-se num episódio/figura histórico ? ou lendário ? o de Branca Dias, que segundo o historiado Ademar Vital, Branca ?nasceu na capital da Paraíba em 15 de julho de 1734 e morreu no ?auto-de-fé? em 20 de março de 1761, às seis horas da tarde, em Lisboa?
Podemos elencar alguns fatos abarcados nessa peça: inquisição, ditadura militar, puritanismo/práticas imorais, incomunicabilidade humana e judaísmo.

? Inquisição: Conta-se que Branca Dias no ano de 1750, na Paraíba, envolve-se com o Tribunal do Santo Inquérito. Após salvar o padre Bernardo de um afogamento. Bernardo analisa sua alegria de viver, o modo como ela se relaciona com a religião, sua relação indireta com o judaísmo,logo levam-na a ser considerada herege.
? Ditadura militar: Escrito no período do Regime Militar, a peça através da figura de Branca Dias, mostra-nos tons de revolta pela punição injusta, a censura.
? Puritanismo/práticas imorais: Há uma passagem na peça que explicita isso, quando Branca Dias é sabatinada com as perguntas do Visitador:

Visitador: Come carne em dias de preceito?
Branca: Não...
Visitador: Mata galinhas com o cutelo?
Branca: Não, torcendo o pescoço
Visitador: Come toicinho, lebre, coelho, polvo, arraia, aves afogadas?
Branca: Como...
Visitador: E se enfeita?
Branca: Também...
Visitador: Quanto tempo leva enfeitando-se?

Para Branca, viver sua religião consistia em ser devota a Deus, e não a Igreja:

?Por que me fazem todas essas perguntas, por que me torturam? Eu sou uma boa moça, cristã, temente a Deus. Meu pai me ensinou a doutrina e eu procuro segui-la. Mas acho que isso não é o mais importante.?

Incomunicabilidade humana: A grande tragédia da incomunicabilidade humana, que alimentou e alimenta ainda uma considerável parte do teatro moderno, encontra, portanto nessas obras de Dias Gomes uma expressão particularmente singela. [...] a linguagem, em vez de ser um elo entre os homens, pode se transformar numa terrível fonte de mal-entendidos e de destruição, diz o crítico literário Yan Michalski, em prefácio da obra.
Notar-se-á, o leitor, que ler além do ?Santo Inquérito, ?O pagador de promessas que tanto Branca como Zé-do-Burro passam a peça na tentativa de convencer os acusadores/antagonistas das boas intenções presente neles próprios, mas a cada nova tentativa surge uma deturpação das suas idéias. Ambos perdem essa luta com os antagonistas, mas permanecem firmes em autenticidade até o final da obra, de suas vidas.
Dias Gomes, no prólogo da obra ?Santo Inquérito?? expressa sua motivação maior: ?Até quando as fogueiras reais ou simplesmente morais (estas não menos cruéis) serão usadas para eliminar aqueles que teimam em fazer uso da liberdade de pensamento??

Padre Bernardo(Eros) versus Branca Dias(inocência)

Outro fato que marca essa obra de Dias Gomes é a peleja entre Padre Bernardo e Branca Dias. Quando Branca salva o Padre isso faz eclodir um ?paixão demoníaca? em Bernardo que causa embate com a sua realidade ?pura?, sua condição eclesiástica. O padre aproveita dessa aproximação para retirar as confidências mais recônditas da jovem. Sabe do amor que ela sente pelo noivo, Augusto Coutinho, o que contribui no padre ciúmes em relação à moça e o desejo de quer vê-la longe das ?tentações?, principalmente advindas do noivo. O beato usa a palavra de Deus como forma de convencimento duplo: a salvação de Branca e a salvação de si próprio.
O padre que antes era devoto da Igreja vê-se devotado pelo desejo por Branca, levando-o a se autoflagelar como forma de libertação desse ?Eros? que nele incide.

Conclusão: Branca antes de ser levada a fogueira física, foi levada a fogueira real, quando foi atulhada de questionamentos do visitador, quando foi censurada pelo padre. ?Santo Inquérito? é uma grande alegoria em protesto a todos àqueles que tiveram o direito de voz retirado. Essa moça é símbolo da pureza e da ingenuidade dos humildes que lutaram pelas convicções que carregavam sem que isso pudesse causar dano direto a qualquer um.

Referência bibliográfica:

GOMES,Dias, O santo inquérito; prefácio de Yan Michalski ? Rio de Janeiro: Ediouro,2004.


SG1 19/02/2014minha estante
Falou tudo! Sua resenha é perfeita!




Oz 11/10/2009

Um dos textos teatrais mais belos que conheço, emociona, encanta, ensina, incomoda...

Dias Gomes é mestre em textos que sensibilizam o leitor/espectador não só no sentido da empatia com os personagens, mas às mensagens críticas que deixa ao longo do texto/diálogos.

Recomendo MUITO.
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