Teatro Completo de Nelson Rodrigues

Teatro Completo de Nelson Rodrigues Nelson Rodrigues




Resenhas - Teatro Completo de Nelson Rodrigues Vol. 1


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Ruana 29/05/2024

Ácido, polêmico e sensacional!
Nelson utiliza do sarcasmo e da acidez, para trazer a toma questões presentes em todas as mesas brasileiras. Nela encontramos malandragem, traição, hipocrisia, falso-moralismo, violência e sexualidade. Desejos, traumas e neuroses também estão presentes, e Nelson explora de maneira fantástica a mente humana!
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Jonas 11/06/2023

Ótima leitura
Sempre tive curiosidade em ler algo de Nelson Rodrigues desde que ainda criança assistia a série a vida como ela é no fantástico e adorei a leitura, cercado de personagens rodrigueanos.
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Rachel254 27/02/2023

Mais um Nelson pra lista! Sou suspeita pra falar desse que e um dos meus preferidos, apenas quero dizer que recomendo muito!
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Isis243 10/01/2023

Teatro é vida
Ler Nelson é ficar numa sacada do terceiro andar olhando a vida dos vizinhos, logo ali.

É como estar num bar, sentada na mesinha da calçada ?curiando? a vida dos locais.

É ser carioca, realista, observador e um tantinho fofoqueiro. É ser também muito bom com os adjetivos, muito sagaz, irônico, sínico, safado e muito, mais bota muito mesmo: inteligente e honesto.

O ser humano ali vem sem polimento e nu!

Adoravelmente realista e cirúrgico. Ele nos descreve, a sociedade, como ninguém.

Enriqueça-se leia Nelson,
Boa leitura !
Divirta-se!!! :)
Marcos Oliveira 18/02/2023minha estante
Adorei seu comentário , bem isso que eu acho ! Assim como João do Rio na Belle Epoque, o Nelson nos anos dourados representaram muito bem em seus respectivos textos a essência do Carioca !


Isis243 19/02/2023minha estante
Obrigada Marcos !!!




Ana Layra 09/11/2022

Mto bom
Adorei, simplesmente incrível cada obra.
Leitura demorada pois se trata de 17 obras, mas vale a pena.
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Spalidoro 26/05/2013

livro com série de textos completos, como mulher sem pecado, vestido de noiva, valsa numero 6, viúva porém honesta e anti nelson rodrigues.
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Fabio Shiva 30/08/2010

Querido e insuportável Nelson, como é bom voltar a te amar!!!
Meu primeiro contato com a obra do indisputável maior dramaturgo que o Brasil gerou até aqui aconteceu bem cedo, no início da adolescência, quando assisti (escondido) ao filme “Perdoa-me por me traíres” que passou de madrugada na tevê. Fiquei chocado, horrorizado mesmo, sobretudo com aqueles imensos peitões da Geni.

Foi ao entrar na faculdade que conheci Nelson de fato: no teatro. Assisti a todas as montagens dele que pude, quase sempre espetáculos estudantis, com baixo orçamento e muito talento. Como ampliaram minhas perspectivas e minha visão de mundo essas peças de Nelson Rodrigues. Ele era para mim o deus soberano do teatro nacional, quiçá mundial. Só senti tão forte a magia e o poder de crítica social que o teatro tem em “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade; só senti tão forte o soco no estômago que o teatro pode ser em “A Mancha Roxa” de Plínio Marcos. As duas coisas juntas, a magia e o choque, só experimentei com Nelson Rodrigues.

E então muita água passou debaixo da ponte, fui levado a vivenciar experiências e leituras bem diversas. Isso foi me distanciando da obra de Nelson. Quando, tempos depois, li “O Casamento”, fiquei uma semana passando mal, enxergando doença e loucura em tudo e todos. Achei que a obra de Nelson Rodrigues era doente, má.

Sorte a minha que acredito muito em coincidências! Esbarrei nessa incrível compilação, “Teatro Completo de Nelson Rodrigues”, justamente quando estava às voltas com uma cena de teatro que eu precisava escrever. Hesitei, mas só por um segundo. No mesmo dia comecei a ler, e só parei quando cheguei ao fim.

Essa louvável coleção foi editada pela Nova Fronteira e organizada por Sábato Magaldi. Já o admirava como ator, e foi uma grata surpresa (surpresa para mim, ignorante que sou) descobrir o profundo intelectual do teatro. Ele abre o primeiro volume com uma excelente análise das peças “psicológicas” de Nelson Rodrigues, que muito ajuda a compreender a complexidade e vastidão da obra desse notável “anjo pornográfico” (título que lhe foi conferido por Ruy Castro na deliciosa biografia de Nelson). É claro que só li a introdução depois de ter lido todas as peças. Não gosto que indiquem previamente como devo entender algo, prefiro entender por mim mesmo, e depois sim busco subsídios para clarificar o que ficou obscuro.

Peça x Romance

Uma coisa que percebi nessa leitura diz respeito à dramaturgia de modo geral, em comparação com o romance. O teatro só existe mesmo no palco, naquele acontecimento mágico e inexplicável que só quem ama o teatro sabe. Ler uma peça é beeeem diferente de teatro. E também é diferente de ler um romance.

Um romance, podemos considerar, é uma “parceria” direta entre autor e leitor. Não há intermediários. O escritor concebe em sua cabeça e escreve. O leitor lê e concebe em sua cabeça. Já uma peça é primeiro a parceria entre autor e diretor, depois entram os atores, o cenógrafo, o figurinista etc. São muitas pessoas envolvidas em fazer a “leitura” que será apresentada ao espectador, no momento da apresentação da peça.

Por esse motivo, ler uma peça exige mais intelectualmente do leitor, pois ele precisa preencher com sua imaginação todas essas leituras que serão feitas pelo diretor, pelos atores etc. Quem já assistiu duas montagens diferentes de uma mesma peça sabe como o olhar do diretor é crucial, e da mesma forma as performances.

Há um desafio maior em se ler uma peça, que é justamente sua aparente “rapidez” de leitura. Não há muitas descrições, quase que só diálogos, então é possível ler muito rapidamente, às vezes mais rápido até do que o tempo que a peça levaria para ser encenada. O perigo é não se aprofundar, fazer uma leitura rasa e deixar de perceber as intenções essenciais do autor ao escrever a peça.

Sobretudo quando se trata de uma figura tão controversa quanto Nelson Rodrigues!


A coleção completa

São quatro volumes, que uma inspiração de Sábato Magaldi organizou por tema, ao invés de uma ordenação cronológica que teria sido óbvia. Assim ficou bem mais interessante, em minha opinião!

1 – Peças psicológicas
A mulher sem pecado
Vestido de noiva
Valsa nº 6
Viúva, porém honesta
Anti-Nelson Rodrigues

2 – Peças míticas
Álbum de família
Anjo negro
Dorotéia
Senhora dos afogados

3 – Tragédias cariocas I
A falecida
Perdoa-me por me traíres
Os sete gatinhos
Boca de Ouro

4 – Tragédias cariocas II
O beijo no asfalto
Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária
Toda nudez será castigada
A serpente

Vou comentar brevemente cada uma das peças do volume 1...

A mulher sem pecado

A primeira peça escrita por Nelson Rodrigues, e uma de minhas prediletas! Uma profunda visão psicológica do autor. Em minha opinião, a obra definitiva sobre o ciúme! Se não em termos literários, ao menos em termos de descrição psicológica acho que “A mulher sem pecado” bate até mesmo “Otelo”!!!

Quem quiser compreender como o ciúme é uma emoção totalmente maléfica e destrutiva, assista ou leia essa peça!

Já em sua estreia, Nelson confirma sua vocação para um grande moralista.


Vestido de noiva

Sábato Magaldi conta que Nelson começou a bolar o enredo de “Vestido de Noiva” assim que saiu da estreia de “A mulher sem pecado”. Irritado pela morna recepção do público, ele quis tirá-lo de sua apatia, nem que para isso tivesse que agredi-lo a pontapés. E não é que o público gostou?

“Vestido de noiva” traz grandes inovações cênicas, tal como a divisão do palco em três planos: realidade, memória e alucinação. Antes da estreia, Nelson submeteu o texto à apreciação de Manuel Bandeira, que escreveu em um artigo de jornal: “Vestido de Noiva em outro meio consagraria um autor. Que será por aqui? Se for bem aceita, consagrará... o público.”

Sábato Magaldi complementa: “O certo é que a estreia de Vestido de Noiva fez que o teatro brasileiro perdesse o complexo de inferioridade.”

Essa peça, infelizmente, eu não vi. Julgando só pelo texto, continuo considerando “A mulher sem pecado” superior, aliás às outras peças dessa coletânea também.


Valsa nº 6

Monólogo de Sônia, “menina assassinada aos quinze anos”. Nelson não via o menor problema em uma personagem morta (não há aqui a menor conotação de espiritismo ou algo assim).

Encenada, com uma boa direção e uma atriz de quilate, “Valsa nº 6” deve ser uma experiência de grande densidade poética.

Ficou a curiosidade de ouvir a Valsa nº 6 de Chopin, que é o grande mote da peça.


Viúva, porém honesta

Já pelo título se percebe que o que virá é pura galhofa!

Nelson é um gênio do deboche, do cinismo, da sugestão indelével de coisas torpes que circulam na cabeça da maioria, mas que todos evitam falar. Menos Nelson Rodrigues, a “flor de obsessão” (como era chamado pelos amigos).
Dei muita risada lendo essa “farsa irresponsável em três atos”. Dá para perceber que um dos objetivos maiores de Nelson com essa peça é dar o troco na crítica teatral, que devia crucificá-lo seguramente a cada nova estreia. Mas sobram tijoladas de ironia para todos os lados. O próprio Nelson declara, em um momento da peça:

“E vou provar o seguinte, querem ver? Que é falsa a família, falsa a psicanálise, falso o jornalismo, falso o patriotismo, falsos os pudores, tudo falso!”

O destaque é o personagem Diabo da Fonseca, que traz na carteirinha a profissão: Belzebu. Imagino como foi a estreia da peça, com Jece Valadão no papel de capeta!


Anti-Nelson Rodrigues

O título enigmático pode ser explicado pelo final, que não é trágico ou ferozmente irônico como de costume. Nelson justificou o título pela presença da compaixão, tão alheia à sua obra.

Magaldi em sua brilhante análise, observa que essa peça, uma das derradeiras de Nelson, foi escrita com menos vontade de chocar, com mais “serenidade” e menos ousadia. E por outro lado, também com menos “defeitos” (Magaldi considera um defeito o constante recurso de Nelson ao folhetim. Eu não acho isso defeito!).

Fiquei imaginando também como foi a estreia, com José Wilker , Nelson Dantas e Paulo Cesar Pereio contracenando juntos. Espetáculo!



Em resumo, ficou a seguinte impressão: os artistas verdadeiramente grandes estão, de certa forma, “além do bem e do mal”. Eles refletem e transmitem, como verdadeiras “antenas da raça”, os anseios mais profundos, as aspirações mais elevadas e também o lado mais sombrio, grotesco e deformado da humanidade. O gênio não pode ser julgado pela forma do homem comum: ele serve a uma causa maior.

Outra descoberta importante foi a percepção de como a vida realmente molda e muito a obra de todo grande autor. A vida de Nelson Rodrigues, marcada por grandes e precoces tragédias, foi sem dúvida o fermento para sua prodigiosa e horripilante imaginação!

Grandes frases!!!

Nelson ficou sobretudo conhecido por suas frases imortais. Aí vão algumas de suas pérolas que me chamaram a atenção nessa leitura:

“Mulher sempre escolhe mal o marido... Mulher só escolhe bem o amante...”
(Madame Cri-cri em “Viúva, porém honesta”)

“A mulher tem nostalgia do surra. Uns pancadinhas salvam o mulher do neurastenia conjugal.”
(Madame Cri-cri em “Viúva, porém honesta”)

“Minha filha, não fala em cama! Na sua inocência, você nem sabe o que é cama!”
(Dr. J. B. em “Viúva, porém honesta”)

“Sente-se em você o fauno hediondo, que não respeita nem carrocinha de chica-bom!”
(Dr. J. B. em “Viúva, porém honesta”)

“Casar qualquer um casa, mas trair exige classe!”
(Diabo da Fonseca em “Viúva, porém honesta”)

“Quando um cônjuge bate na porta do banheiro e o outro responde lá de dentro: ‘Tem gente’! não há amor que resista!”
(Diabo da Fonseca em “Viúva, porém honesta”)

“A única coisa que eu admiro nas mulheres é que elas não cospem na rua.”
(Dorothy Dalton em “Viúva, porém honesta”)

“Sabe por que eu não gosto da grã-fina? Porque tem bunda chata.”
(Oswaldinho em “Anti-Nelson Rodrigues)

“Todo mundo diz que não sabe mentir e mente.”
(Oswaldinho em “Anti-Nelson Rodrigues)

“A única coisa que não serei nunca é bicha. Nudez masculina não suporto nem a minha.”
(Oswaldinho em “Anti-Nelson Rodrigues)

“Sexo é pra operário!”
(Salim Simão em “Anti-Nelson Rodrigues)

“O perigo é o beijo na boca. Nenhuma mulher resiste ao beijo na boca.”
(Salim Simão em “Anti-Nelson Rodrigues)

“Não tenho medo do ridículo. Só os imbecis têm medo do ridículo.”
(Salim Simão em “Anti-Nelson Rodrigues)

Falou e disse, Nelson!

(28.01.10)

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