Queria Estar Lendo 01/09/2015
Resenha: A Rainha Vermelha
Desde o anúncio deste livro, faz uns bons meses, eu e Eduarda estávamos animadas. Porque A Rainha Vermelha estava sendo vendida, antes mesmo da publicação americana, como um dos melhores romances, a autora vendeu os direitos de adaptação cinematográfica por MILHÕES, e todo aquele bafafá de livro novo bom que entusiasma. Só que não foi bem assim, amigos.
A Rainha Vermelha é uma distopia; temos os vermelhos, que são o povo oprimido, possuidores do sangue plebeu e que vivem para servir os prateados. Os prateados são a elite, os especiais, eles têm poderes e eles mandam no mundo e naqueles debaixo do seu reinado. Mare é uma vermelha em uma família de vermelhos, só que ela é diferente. Ela tem poderes. Quando a coroa descobre isso, eles a "adotam" e a sentenciam a participar daquela farsa para garantir sua sobrevivência e a sobrevivência da família; enquanto Mare se fingir de prateada, mesmo com o sangue vermelho pulsando em seu corpo, ela fica viva. Um passo em falso e é adeus. Em meio à corte, Mare vai se unir a uma rebelião, vai dividir seu coração entre dois príncipes, e vai ver o alcance de seus poderes inéditos criar uma alternativa para toda aquela vida de servidão. Mare vai se erguer, vermelha como a aurora.
"A única coisa que nos diferencia - ao menos por fora - é que os prateados andam eretos. Já nossas costas são curvadas pelo trabalho, pela esperança frustrada e pela inevitável desilusão com nosso fardo na vida."
Este livro é muito sobre o que já vimos e lemos em várias distopias, e muito sobre frases marcantes. É um livro bom, a leitura flui bem rápido, você não quer parar de ler até chegar ao fim, mas é só isso. Não tem absolutamente nada de espetacular ou muito inédito. Não tem nada que me prometeram com toda a propaganda em cima, com toda a euforia que me fizeram criar com a história. É A Seleção quando descobrimos que há um "concurso" para o príncipe herdeiro escolher sua noiva entre as prateadas, e quando Mare vai parar dentro da corte; é Jogos Vorazes pela opressão e pelas arenas, onde os vermelhos assistem ao poder dos prateados e devem temê-los por isso, pela mocinha oprimida que tem um melhor amigo mais oprimido que ela. É Divergente pela Guarda Escarlate, o levante rebelde, esgueirando-se mesmo dentro da sociedade prateada; é Estilhaça-me e X-Men porque os prateados têm poderes e oprimem seus súditos pela normalidade e fraqueza deles. É toda e qualquer distopia que já vimos até agora, mesmo as mais antigas e clássicas, bem escrita, bem trabalhada, mas mais do mesmo e absolutamente comercial.
"A guerra prateada deles é paga com sangue vermelho."
A Mare é uma boa protagonista; ela tem presença, tem um desenvolvimento bacana, seus poderes são muito maneiros e a evolução de garota ladra até a vermelha e prateada na corte real foi bem trabalhada. A interação dela com os outros personagens me foi um pouco rasa, especialmente com a família; não senti toda a emoção que ela deveria passar, talvez pelos momentos entre eles terem sido tão rápidos. A Mare é muito de criar diálogos internos e questionamentos e isso acaba deixando pouco pra narrativa trabalhar entre as interações. Ela e a corte real, no entanto, foi demais.
"A Guarda Escarlate é drástica demais, muito, muito rápida. Mas você é a mudança controlada, do tipo em que as pessoas podem confiar. Você é a chama lenta que pode dissipar uma revolução com um punhado de discursos e sorrisos."
O contraste entre a vida vermelha e a prateada é quase palpável nas páginas; o medo do poder e a submissão à ele, o que isso fez com os vermelhos e com a vida miserável, mas o levante rebelde que pode trazer fim a esse regime tirano. É o que todos esperamos quando lemos uma distopia, e em A Rainha Vermelha, foi uma questão muito bem trabalhada e questionada.
O Cal é tipo o Maxon, só que um pouco melhor. Eu gostei de como a autora não reduziu a realeza dele e a fidelidade dele ao governo do pai, mesmo quando o Cal sabe que há muita coisa errada em toda aquela opressão. Ele quer mudanças, mas dá pra notar que ele tem medo delas; e isso acontece durante os melhores momentos da história. É uma verossimilhança bem forte pro personagem, eu amei isso! Diferente do babacão de A Seleção, o Cal é fiel ao que ele cresceu vendo, e, apesar de querer mudar, não vai tentar fazer isso de uma hora pra outra, como a Mare ou os rebeldes querem - e o Maxon é tão bocó que mesmo querendo não fez nada, vide A Herdeira.
Agora, o meu favorito: Maven. O irmão mais novo. A sombra da chama do príncipe herdeiro. O designado noivo de Mare pelo rei e pela rainha - sua mãe, a Charlize Theron (só consegui pensar nela com a descrição) - é tímido, contido e misterioso. Ele é o esquecido, solitário e muito coitadinho. Durante todo o livro; eu repito, todo o livro, eu queria abraçá-lo e prometer que tudo ficaria bem. Há um contraste forte entre a personalidade dele e a do irmão, e eu queria muito ter visto mais do relacionamento dos dois. Espero que o livro dois traga isso! Maven é um idealista, e ele topa ajudar a Mare nas infiltrações rebeldes dentro da realeza, o que vai acabar por trazer consequências fortíssimas ao governo.
O bom do livro, diferente de outros do gênero, foi que o romance e o triângulo amoroso foram bem rasos. Eu agradeci mentalmente por isso, porque até meu ship - Maven e Mare, claro - teve seus momentos curtos e rápidos, e foi o suficiente para eu amá-los fortemente. Não quero mais do que isso nos próximos volumes, porque a autora acerta quando mantém o tom do romance rápido; é uma guerra, é um mundo de opressão, não tem porque focar em "oh, eu te amo" quando o foco tem que ser na reconquista de um lugar dominado pela tirania.
"Os prateados não ligam para dor, mas somos orgulhosos. Orgulho, dignidade, honra: são as coisas que nenhum poder substitui."
O trabalho da editora Seguinte, como sempre, está impecável. A capa metálica é maravilhosa e dá vontade de lamber o livro de tão linda que é a diagramação! Não encontrei erros no texto, e a única coisa que me deu tique nervoso - e sempre dá - é a lombada de ponta cabeça. SEGUINTE, MEUS NERVOS, ARRUMA ISSO!
"Eu costumava imaginar os prateados como deuses intocáveis que nunca se sentiam ameaçados ou amedrontados. Agora sei que é o contrário. Passaram tanto tempo no topo, protegidos e isolados, que se esqueceram de que podem cair. Sua força se converteu em fraqueza."
Enfim, foi uma leitura prazerosa, rápida e agradável. Não é o tipo de livro que me deixou arfando e rolando pelo chão, definitivamente. A narrativa é bem desenvolvida, os personagens são bem construídos, a ação e as surpresas na trama constroem uma história admirável. Mas eu descobri tudo que ia acontecer no final logo no começo; sério, é muito óbvio.
Não foi todo o estardalhaço que fizeram em cima dele não, nem pensar. Eu acabei de sair da leitura de Herdeira do Fogo, aquilo sim foi de tirar o fôlego!
Fãs de distopia podem procurar A Rainha Vermelha para uma leitura familiar e bem legal. Mas não façam igual eu e apostem todas as suas fichas em cima dela; vão perder um pouquinho com isso.