Bolena 21/03/2017
Uma história de Lestat
"Louis ficou outra vez pensativo e muito triste. Era quase doloroso olhar para ele. Eu queria sacudi-lo pelos ombros, mas isso só serviria para enfurecê-lo.
— Eu o amo — disse ele, suavemente. Fiquei atônito. — Você está sempre procurando o triunfo — continuou ele. — Nunca desiste. Mas não há nenhum caminho para o triunfo. Nós dois estamos no purgatório. Tudo que podemos fazer é dar graças por não ser o inferno."
Temos que pensar nesse livro como um episódio filler. Conta uma história de Lestat e é bem diferente dos livros anteriores. Nos dois primeiros livros tivemos biografias e no terceiro tivemos um grande evento, como se fosse o apocalipse dos bebedores de sangue. Esse livro é diferente porque nada assim acontece, é apenas uma história de algo que aconteceu com Lestat.
"[...] E também não vão encontrar aqui o elenco de milhares de figurantes que superlotaram A rainha dos condenados. A civilização ocidental nem por um segundo vai oscilar à margem do abismo. E não haverá revelações de tempos remotos, nem meias-verdades e adivinhações apresentadas pelos velhos, nem promessas de respostas que de fato não existem e jamais existiram. Não, eu já fiz tudo isso antes. Esta é uma história contemporânea. É um volume das Crônicas Vampirescas, não tenham dúvida. Mas é um primeiro volume realmente moderno, pois aceita o absurdo assustador da existência desde o começo e nos leva à mente e à alma do seu herói — adivinhem quem? — para suas descobertas. "
É uma história simples, conta a transformação de Lestat, nem que seja por alguns dias, em humano novamente. Isso não é spoiler se você leu os livros anteriores. No início mostra que ele tem umas dúvidas se vai fazer o procedimento, mas conhecendo Lestat, é óbvio para nós que ele vai trocar de corpo, afinal essa é uma proposta:
1) Louca
2) Arriscada
3) E que tem tudo para dar errado
Nunca Lestat ficaria fora dessa.
A História do Ladrão de Corpos pode não ser meu livro preferido das Crônicas, mas é muito bom de se ler. O ponto positivo do livro é mostrar o Lestat como um mortal. Engraçado ver ele se lembrando de como ir ao banheiro, tomar banho, comer... Coisas normais, mas que ele não fazia a séculos e nem se lembrava como era.
Outro ponto super positivo se chama Gretchen. Durante a leitura dos livros, nos tornamos fãs de diversos personagens. Nós os admiramos por diferentes aspectos de suas personalidades, ou talvez nem isso. Gostamos deles porque sim, apesar de ser um péssimo humano/vampiro gostamos deles.
Na minha opinião, Gretchen é a personagem mais admirável das Crônicas. Uma enfermeira empática e altruísta que você olha e pensa: Nossa, que mulher incrível! Ela é uma enfermeira que trabalha em missões pela América do Sul e Central. Admiro muito sua entrega e compaixão. Bem, em determinado momento, ela e Lestat acabam se encontrando. Engraçado que ela e Lestat são totalmente diferentes, mas mesmo assim se dão muito bem.
" — Gretchen, nunca tem medo de ter desperdiçado sua vida... de que a doença e o sofrimento simplesmente continuarão a existir muito tempo depois de você ter deixado esta terra e o que você fez não terá nenhum significado num plano maior?
— Lestat, é o plano maior que não tem significado. — Seus olhos estavam muito claros. — O que importa são os pequenos atos. É claro que a doença e o sofrimento continuarão a existir depois que eu me for. Mas o importante foi eu ter feito tudo que podia. Esse é o meu triunfo e a minha vaidade. Minha vocação e meu pecado de orgulho. Esse é o meu tipo de heroísmo. "
" [...] — Mas, chérie, só funciona assim se alguém estiver marcando os pontos, se o Ente Supremo ratificar sua decisão, se você for recompensada pelo que fez ou pelo menos se seu trabalho for reconhecido.
— Não — disse ela, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Nada está mais longe da verdade. Deus pode existir ou não. Na verdade não é o que mais importa Mas o sofrimento é real. É absolutamente real e inegável. Nessa realidade está o meu compromisso, o âmago da minha fé. Tenho de fazer alguma coisa a respeito!
— E na hora da sua morte, se Deus não existir...
— Que seja. Eu saberei que fiz o possível. A hora da minha morte pode ser agora — deu de ombros. — Eu não pensaria de modo diferente."
Como era já de se esperar, o Ladrão de Corpos não devolveu o corpo imortal de Lestat no devido tempo. Lestat passa a se sentir abandonado por outros imortais, especialmente Marius e Louis. Isso o deixa muito entristecido e é claro, também abalou meu coraçãozinho.
"É o que há de mais simples a meu respeito, ao que parece. Eu sempre mereço o pior. A pior deslealdade, a pior traição, o pior abandono! Lestat, o patife."
"Todos os outros invejam meu gênio forte, minha impetuosidade, minha força de vontade! Adoram isso. Mas quando demonstro fraqueza, me abandonam."
Não poderia deixar de falar dos pontos negativos do livro. No início ele tem muitas divagações sobre deus e o diabo. Achei muito maçante tudo isso. Pode até ter quem goste, mas eu passo. O outro ponto está no final, que não gostei nenhum pouco.
~ Sobre o final ~
Fatos sobre Lestat:
Vive numa eterna adolescência;
Faz besteiras pelo simples prazer de quebrar regras e mostrar o quanto é rebelde.
Isso tudo são fatos incontestáveis sobre ele e que são aspectos centrais de sua personalidade. Bem, por mais que eu o ame, as vezes isso cansa demais. Cansa porque fica algo repetitivo, e que não tem um sentido ou objetivo: Fazer uma besteira enorme apenas para mostrar o quanto é rebelde.
No final ele fez algo a David. Achei a cena bem bizarra e me deixou um sentimento bem ruim ao ler. Foi péssimo e grotesco. Pareceu claro para mim que ele começou tudo apenas para mostrar o quanto era mau, um demônio em que não se podia confiar. Após isso, David o perdoou facilmente como se não tivesse acontecido nada. Achei tudo bem desnecessário. Eu nunca critiquei a escrita da Anne Rice, mas sinceramente eu queria que ela tivesse escrito de uma forma diferente.
Para terminar, vou deixar uma citação do meu otp supremo: Louis + Lestat
" — Por que você me ama? — perguntei.
— Você sabe, sempre soube. Eu queria ser você. Queria sentir a alegria que você sente o tempo todo.
— E a dor, quer também?
— A dor que você sente? — ele sorriu. — É claro. Aceito compartilhar na dor e na alegria, como dizem."
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