Blog MDL 27/07/2015
Howard Pyle foi um grande ilustrador, nascido em 5 de março de 1853. Tinha completa paixão pela arte de ilustrar e ficou conhecido por ter sua arte impressa nos mais diversos livros infanto-juvenis de sua época. Boa parte de suas ilustrações tinham como propósito compor seus próprios trabalhos, sendo os mais famosos deles, além das Crônicas Arturianas, seu relato sobre "As Aventuras de Robin Hood".
Vale ressaltar que o autor escreveu um total de quatro livros sobre o Rei Arthur (o que a professora Lênia Márcia Mongeli, em sua instrutiva e incrível introdução definiu como “uma espécie de tetralogia cíclica”), sendo esta edição da Zahar apenas a primeira dessa série de quatro livros. Fica aí o indício de que talvez a editora nos traga as demais edições.
O romance então é dividido em duas partes, a primeira sendo a história do rei Arthur, de sua origem, a profecia feita pelo mago Merlin sobre o rapaz e a provação que teria que passar para tornar-se o Rei da Inglaterra. Na segunda parte, tendo já seu reinado e poder fixados, teremos o relato de três de seus mais importantes e leais companheiros: o mago Merlin, Sir Pellias, o Gentil e Sir Gawaine, o Eloquente.
A história relatada por Pyle a respeito de um dos reis mais conhecidos das lendas inglesas, já é velha conhecida de muitos, sendo até parte do material usado para a adaptação do filme “A Espada Era Lei” (embora essa seja uma adaptação direta de outra série de livros, escrita pelo autor T. H. White). O livro nos relata, além de cenas como seu nascimento e coroação, a consolidação do rapaz como rei, a criação da Távola Redonda e nomeação de alguns de seus leais cavaleiros, o confronto contra um de seus mais poderosos inimigos, o Cavaleiro Negro, seu encontro com Lady Guinevere e sua relação com sua meia-irmã, Morgana.
Porém, como mencionado, apesar de um livro extremamente belo e bem bolado, com ilustrações originais de seu autor, uma introdução de uma riqueza de conteúdo estonteante e notas muito válidas, que dão um entendimento mais amplo ao leitor (marcas registradas do cuidadoso e atencioso trabalho da editora Zahar para com seus leitores), a história é, na melhor de suas tentativas, fraca.
Talvez o maior problema, a meu ver, é que o livro nos dá a ideia de um romance mais maduro, nos dando a expectativa de ser algo sério e de teor mais requintado. A verdade é que esse é um livro infantojuvenil, sua linguagem é deveras simplificada e os personagens são tão pouco cativantes e mal construídos que beiram a superficialidade.
O conteúdo é muito repetitivo. Batalhas são sempre descritas da mesma forma, tornando os duelos e embates iguais. Falando neles, chega a ser quase cômico como o mais banal dos motivos vira motivo para as “justas”. Provas de lealdade são situações tão infantis e bobas que me faziam revirar os olhos a todo instante de leitura.
Não o bastante, cada história vem com um prefácio, resumindo TODA a história, e, ao lado dos textos, uma pequena nota contando o que acontece em cada parte (deixarei um exemplo abaixo, para que possam entender melhor o que digo).
Notem as pequenas notas à direita.
Ou seja, além de títulos enormes que praticamente entregam parte da história e um prefácio que explica tudo, temos essas notas que nos contam exatamente onde cada coisa acontece! Isso me causou um desânimo tão grande que quase abandonei a leitura.
Outro fator que me irritou ao longo da narrativa foi a cristianização do conto. Peço que não me interpretem mal, não tenho nenhum tipo de preconceito com o cristianismo (afinal, eu sou cristão), mas gera uma estranheza um conto em que temos tantas figuras da cultura celta sendo vinculada a moral cristã, incrustada no Arthur de uma maneira tão exagerada que ao invés de atingir seu propósito, que imagino ser a idealização do herói bom, justo e reto, o torna um personagem repetitivo e insosso.
Falando dos personagens e ainda sobre o soberano, ele torna-se um personagem tão artificial que mesmo seus ideais de bondade e justiça se tornam um tanto exagerados. Ao invés de vê-lo como algo mais próximo de uma personalidade como a da Cinderela, que é bondosa, gentil e empática, acabava por vê-lo como uma caricatura da mesma.
Mas a personagem que definitivamente me irrita durante toda a narrativa é sua rainha, Lady Guinevere. Enquanto Pyle tentava extrair algo de bom, ou mesmo bravio da personagem, ele acabava por tornar a personagem como uma jovem mimada e irritante, que me dava um desgosto tamanho que por vezes queria pulava as cenas em que a mesma aparecia.
Os personagens mais interessantes, ao meu ver, acabam por ser Merlin e Gawain, apesar de mesmo estes não terem uma história tão bem trabalhada assim.
No fim das contas, o Rei Arthur de Howard Pyle acaba por ser uma boa ideia, com boas partes em sua história, mas que infelizmente não foi aproveitado e peca por sua superficialidade e repetição exagerada. Ele torna-se uma excelente pedida para uma leitura noturna para um menor, até mesmo contribuindo para a formação moral de uma criança.
site: http://www.mundodoslivros.com/2015/07/resenha-especial-rei-arthur-e-os.html