@fabio_entre.livros 30/08/2015
Wilde, exímio contador de histórias, afiado observador da sociedade
Que Oscar Wilde é um nome de grande relevo na literatura inglesa, não há dúvida, sobretudo devido ao célebre romance “O retrato de Dorian Gray” (meu clássico favorito). Contudo, sua genialidade não se limitou ao romance, chegando também a outros gêneros, como o teatro (com “Salomé”) e o conto, do qual este “O Fantasma de Canterville e outras histórias” é um belo exemplo.
Contendo oito contos, com temáticas, estilos e extensões diferentes, Wilde demonstra uma capacidade incrível para criar histórias, alternando temas com uma flexibilidade narrativa exemplar. Os contos evocam do sentimentalismo à crítica social, da fantasia à análise minuciosa da realidade. A linguagem, embora simples, possui a elegância característica da escrita do autor, comovente e quase infantil em alguns contos, ácida em outros.
O conto principal, “O Fantasma de Canterville”, apresenta uma atmosfera que remete às histórias clássicas de terror (como “A volta do parafuso”, de Henry James), com a mansão assombrada por um fantasma cuja função tem sido aterrorizar as gerações que residiram naquela propriedade. Contudo, quando uma nova família se muda para o local, o fantasma se revela bastante picaresco e incompetente em desempenhar seu “trabalho”. Essa “caricaturização” do fantasma transforma-o num personagem que evoca tanta repugnância quanto piedade, pelos motivos que são revelados no decorrer do conto.
Outros contos, como “O crime de Lorde Arthur Savile” e “O milionário modelo” apresentam o tom de crítica social, especialmente o contraste entre “ser” e “parecer”, inclusive com diálogos e personagens que lembram os de “O retrato de Dorian Gray”. Já em outras histórias, como “O Príncipe Feliz” e “O amigo devotado”, Wilde cria universos de fantasia infantil num tom semelhante ao das fábulas. Entretanto, mesmo nesses contos a fantasia é uma metáfora da realidade e das falhas humanas que existem nela, como a injustiça, a mesquinhez, o egoísmo e a miséria.
Enfim, resumindo, “O Fantasma de Canterville e outras histórias” é uma obra curta, de fácil e rápida leitura, mas muito rico do ponto de vista da observação social, área na qual Wilde era um especialista nato.