Maria - Blog Pétalas de Liberdade 08/01/2016Recomendo! A vida é um produto de suas decisões, e sua capacidade de tomar boas decisões é governada por suas crenças e pela maneira como pensa sobre si mesma e sobre o mundo ao redor. (página 15)
Quando vi o livro entre os lançamentos e quando o tive em minhas mãos, confesso que não esperava muito dele. Achei a capa bem bonita e achei que talvez pudesse ter algo de interessante para mim por ser destinado principalmente (mas não exclusivamente) para mulheres na casa dos 20 anos (minha faixa etária), mas sinceramente não esperava estar aqui escrevendo essa resenha e dizendo tão enfaticamente para vocês lerem esse livro o mais rápido possível!
O fato de ele ser classificado como autoajuda provavelmente já espantaria alguns leitores que tem preconceito com esse gênero; se você se enquadra nesse time, sugiro que mesmo assim continue lendo essa resenha (não vai gastar nem 5 minutinhos) e leia as citações que selecionei com atenção, só elas já valeriam para tornar o livro uma leitura recomendada.
Por que eu gostei tanto do livro? Por que estou recomendando-o? Afinal, sobre o quê ele fala?
Primeiramente, em se tratando de um livro de autoajuda, precisamos saber quem o escreveu. A autora Linda Papadopoulos é uma renomada psicóloga do Reino Unido e, entre outras coisas, colunista da edição inglesa da revista feminina Cosmopolitan.
Inicialmente, o livro fala sobre a vida das mulheres entre os 20 e os 30 anos, época em que para muitas são tomadas importantes decisões que afetarão toda a sua vida. Mas a obra vai muito além disso, é um retrato do que é ser mulher nos dias atuais, levando-se em conta toda a carga histórica que nossa sociedade carrega.
O livro é dividido em 8 capítulos (Vidas perfeitas; Estou bonita?; Eu on-line, eu off-line: quem devo ser?; A necessidade de agradar; Supersexualizaram-me; Evitando o bullying; Ser independente e A crise dos 25 anos e o medo de envelhecer), cada um com uma temática que volta e meia se interliga com os capítulos anteriores. Destacarei os pontos que mais me chamaram a atenção e sobre os quais gostaria de conversar com vocês.
Atualmente, há a ideia equivocada de que temos que dar conta de tudo: trabalho, estudos, casa, família e ainda estarmos sempre bonitas, há a ideia de que temos que ter tudo e que as mulheres que aparentemente conseguem conciliar todas as áreas da sua vida fazem isso sem esforço, mas como disse são ideias totalmente equivocadas. Com as conquistas que as mulheres alcançaram nos últimos séculos (direito de estudar, de trabalhar, de votar e de se candidatar, entre outros), nós podemos fazer praticamente tudo, o que não significa que temos que obrigatoriamente fazer tudo.
Para constar, sou feminista. Tenho consciência de que essa palavra está carregada de juízos de valor, contaminada pela ideologia política e social e, por ironia, é usada como arma por e contra as mulheres a fim de que se sintam como se não soubessem o que é melhor para elas. Para mim, feminismo tem a ver com igualdade; não se trata de um movimento concebido para substituir o patriarcado pelo matriarcado. E sou feminista por um simples motivo: não acredito que o gênero deve determinar a humanidade de alguém. (página 20)
Outro ponto que chamou minha atenção foi como muitas vezes somos enganados pela mídia, que nos mostra imagens manipuladas de mulheres. Por exemplo, a foto de uma top model em uma revista, com uma barriga super reta, talvez a barriga da modelo realmente seja daquele jeito, mas a imagem é manipulada em programas de edição em outros pontos, para disfarçar os braços esqueléticos, as maçãs do rosto saltadas, os ossos que ligam o ombro ao pescoço (acho que o nome é clavícula) super aparentes, ou seja, somos bombardeados (mesmo que inconscientemente) com ideias de beleza que são impossíveis, que não são reais. Isso, de certa forma, também vale para as redes sociais tão usadas por nós, onde não vemos a vida real de nossos amigos e conhecidos, e sim o que eles querem mostrar.
Imagine somente homens esbeltos e atraentes na TV - sem nenhum daqueles jornalistas instruídos, líderes empresariais ou políticos, nenhum daqueles atores ou músicos sérios -, apenas jovens, magros e bonitos. Agora, pense no impacto que essas imagens causariam nas expectativas masculinas - como distorceriam a noção de sucesso e valor dos homens. É isso o que temos feito com as mulheres há décadas. E isso tem que parar. (página 50)
Onde estão os editoriais sobre as incríveis mulheres cientistas e exploradoras? Onde estão as glórias para as equipes esportivas do sexo feminino? Por que não comemoramos as jovens ativistas que estão por aí procurando mudar o mundo? Precisamos transformar a maneira como celebramos as mulheres, e logo, ou correremos o risco de reduzir o valor de toda uma geração de mulheres a seus aspectos mais superficiais e carentes de sentido. (página 86)
Há poucos anos, tenho me tornado mais consciente sobre a sociedade machista em que vivemos. Como li recentemente em algum lugar, ninguém nasce totalmente consciente das desigualdades e dos preconceitos da sociedade, é algo que vamos compreendendo ao longo da vida. Eu não entendia muito bem o que era objetificação, e creio que compreender mais sobre o assunto foi um dos principais aprendizados que o livro me trouxe.
http://2.bp.blogspot.com/-DbTP5mrNutE/Vo62susfR6I/AAAAAAAAF_0/CZcayFAvJxc/s1600/Trecho%2Bdo%2Blivro%2B20%2Be%2Bpoucos%2Banos%252C%2BLinda%2BPapadopoulos.jpg
Naturalmente, não há nada de errado em experimentar o desejo por alguém - em querer que alguém seja atraído por você. A diferença aqui é que, por meio da objetificação, os pensamentos, os sentimentos e mesmo a identidade de uma pessoas são ignorados. Assim, torna-se irrelevante se uma pessoa deseja ou não atenção - tudo o que importa é que ela é sexy; e, em última análise presume-se que ela quer a atenção. (página 130)
O livro também fala sobre o momento de sair da casa dos pais e o momento de voltar quando as coisas não dão muito certo, fala sobre como surgiu a ideia de que mulheres são desunidas e que devem competir entre si, entre outras coisas, sempre embasado em estudos e artigos sobre o tema (no final do livro há quase 30 páginas só com as referências dos artigos pesquisados e citados) e na história da humanidade.
Além disso, a escrita da autora é ótima e de fácil compreensão, o que permite uma leitura fluida. A capa é realmente bonita, as páginas são amareladas e a revisão e a diagramação estão boas.
Enfim, o principal motivo de eu estar aqui indicando a leitura de "20 e poucos anos" é que imagino (e também constato ao observar as mulheres ao meu redor e nas redes sociais) que hoje mesmo muitas mulheres estejam sofrendo caladas e, mesmo que inconscientemente, se perguntando o quê fizeram ou estão fazendo de errado para não terem o trabalho, a família, o relacionamento ou o corpo que os padrões distorcidos da sociedade dizem que elas deveriam ter. Muitas mulheres podem estar praticando ou sofrendo com o slut-shaming, sofrendo ou apoiando bullying com outras mulheres, tentando ganhar o reconhecimento de outras pessoas por vias erradas e prejudiciais (inclusive para a própria saúde).
Como disse anteriormente, não nasci consciente das conceitos e atitudes erradas que eu tinha sobre o que é ser mulher na sociedade atual, mas fui compreendendo as coisas aos poucos, e isso me ajudou muito a ter uma vida melhor. Para mim, a ajuda veio através de textos em sites e blogs, de páginas no Facebook como Kaol Porfírio (e sua ilustrações lindas de Fight Like a Girl), Empodere Duas Mulheres, Arquivos Feministas, Mulheres Invisíveis, Blogueiras feministas e de grupos como o Leitores DDM e Nerdfighters Feministas. Para muitas outras mulheres, "20 e poucos anos" pode ser uma ajuda valiosíssima. Posso não concordar com 100% do que está no livro, mas concordo com pelo menos 95%, e ter opiniões diferentes é um ponto importante para refletirmos sobre o assunto.
Eu poderia ficar falando sobre o livro por horas, mas prometi que não levaria nem 5 minutos para a leitura da resenha e não quero estourar o tempo. Obrigada Linda Papadopoulos! Obrigada Editora Gente! Recomento o livro não só para mulheres de 20 e poucos anos, mas também para mulheres de todas as idades e também para os homens.
Termino a resenha com uma das minhas citações favoritas do livro. Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado do post.
Portanto, podemos mudar as coisas, mas é muito, muito importante que, primeiro, tomemos consciência delas. Quando vir algo que não parece certo, fale sobre isso, tuíte sobre isso, escreva sobre isso - e faça-o ciente de que todas as grandes mudanças que tiveram lugar no mundo em termos de igualdade e justiça aconteceram porque indivíduos tiveram coragem e paixão para questionar o que a sociedade havia decidido ser normal. (página 141)
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/01/resenha-livro-20-e-poucos-anos-linda.html