Laís 23/11/2016O caminho estreito para os confins do norte se passa em três tempos: passado, presente e futuro de seu protagonista, Dorrigo Evans.
Prisioneiro de guerra, Dorrigo, durante a Segunda Guerra Mundial, atua como médico na construção da Ferrovia da Morte - um empreendimento gigantesco e julgado impossível na época. Ele enfrenta uma luta diária com seus superiores em relação à (péssimas) condições em que os trabalhadores são submetidos, assim como uma luta diária consigo mesmo, já que muitas vezes cabe a ele decidir aquele que vai e aquele que fica, ou, em outras palavras, o que tem mais chances de não morrer.
Nesse vai e vem a qual somos jogados no livro, Dorrigo conhece Amy. O primeiro contato já despertou um sentimento: se era encanto, mistério, amor ou desejo, nem mesmo os dois sabiam. Quando se reencontram, fica evidente que a confusão de sentimentos é maior do que inicialmente julgavam, assim como a paixão, que lhes parecem ser ainda mais avassaladora. Amy então passa a ser um verdadeiro sonho de Dorrigo: algo que ele anseia ter, não somente pelo seu amor, mas pelo descanso que isso lhe representa perante a enfermidade que é a vida na Ferrovia.
É difícil resenhar um livro que tenha despertado tantos sentimentos ambíguos e ainda mais difícil um livro em que o principal não se encontra no protagonista, mas sim no contexto. O sentimento de angustia em relação à Segunda Guerra está sempre presente na expressão das pessoas quando o assunto é abordado, mas, nesse livro, embora não explicito, fica o questionamento para o leitor: aqueles que agiam sem dó, sem misericórdia, quase como ceifadores, agiam sob quais princípios? Os próprios não tinham suas convicções, suas crenças?
Eu, como leiga na cultura oriental, pouco posso falar sobre como eles agem em respeito e honra, mas passei uns bons dias refletindo sobre isso durante a leitura. De certa forma nos mostra outra perspectiva, aonde nem mesmo o “amigão”, é completamente bom – porque me parece que, quando o assunto é guerra, não há santo algum, apenas as pessoas vivendo suas próprias lutas para a sobrevivência de mais um dia.
Por fim, muitas coisas relatadas no livro são verdadeiras, embora muitas sejam ficcionais. O pai do autor foi um prisioneiro de guerra durante a construção da Ferrovia, o que me parece trazer uma carga ainda mais intensa para o seu conteúdo.