Cintia Fernandes 09/06/2016Tentando agarrar a luz...A primeira frase do livro “Por que no princípio das coisas sempre a luz”, trata de um assunto que o autor vai abordar constantemente, sempre que algo for relacionado com a Austrália, a infância e juventude do protagonista, “Luz”, mas para por aí, pois é um livro sobre a Guerra e tudo que dela resulta.
A humanidade sempre conviveu com, ou em guerras, pelos motivos mais diversos: luta por território, intolerância étnica ou religiosa, divergências políticas, etc. Um dos maiores e mais sangrentos conflitos de toda a história da humanidade ocorreu em decorrência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entre os principais motivos que levaram a explosão dessa grande guerra estavam as intenções expansionista de países como Alemanha, Itália e Japão.
O livro relata uma parte pouco conhecida, pelo menos eu não conhecia, da Segunda Guerra, a história dos prisioneiros de guerra australianos do Império Japonês, forçados a trabalhar na construção da “Ferrovia da Morte”. Prisioneiros de guerra são, ou deveriam ser, protegidos pelas leis estabelecidas nas convenções de Haia e de Genebra de quaisquer violências, indignidades ou experiências biológicas. Contudo, o Império Japonês nunca assinou nenhuma das Convenções de Genebra, o livro relata como esses prisioneiros tiveram que enfrentar a escravidão, a fome, torturas, humilhações e doenças como cólera e leishmaniose.
A história se desenrola em torno de Dorrigo Evans, ou “Amigão” (maneira como era chamado por seus comandados no campo de prisioneiros), um médico-cirurgião e oficial-comandante australiano. Somos transportados magistralmente tanto para “a linha”, como era chamada a construção da ferrovia e sua chuva torrencial, como para a Austrália contemporânea permeada pela luz solar.
Gostei muito do livro e da escrita poética de Richard Flanagan, ambos me encantaram, mas preciso confessar que muitas vezes não tinha vontade de retomar a leitura. Os relatos das crueldades, e principalmente, de como as diversas doenças matavam de forma lenta e brutal seres humanos famintos me chocaram, muitas vezes senti repulsa, outras tantas o sentimento era de incredulidade em ver até que ponto o ser humano é capaz de chegar.