Érika 09/07/2018O peso da "Bagagem" de Adélia Prado(Leia a resenha completa no link. Não é possível adicionar as fotos que fazem parte dela aqui no Skoob. Os nomes dos poemas fotografados estão entre colchetes).
Este é um post de apreciação. Não é resenha, porque não consigo fazer resenha de poesia. Talvez pudesse analisar métrica e rima, apesar de que na poesia contemporânea sua presença não seja obrigatória. Mas eu vejo poesia de uma forma tão íntima e pessoal, é uma incógnita o que toca mais a cada um, e tem a ver com as respectivas vivências.
E as vivências que Adélia Prado tirou de sua "Bagagem" para nos apresentar casaram tão bem com as minhas que eu não poderia deixar de fazer uma colagem das passagens que produziram maior impacto em mim, para apresentar a quem quer que estas linhas alcancem uma poetisa incrível que eu mesma vim a conhecer faz pouco tempo.
Envergonha-me um pouco dizer que só ouvi falar dessa poetisa ano passado, por intermédio de uma colega escritora independente, Laís Lacet (que está lançando seu segundo livro de prosa, “Da Tua Rosa”; está em pré-venda, a propósito, ganhou o Wattys do ano passado e você pode degustar alguns capítulos no perfil da autora), que a citou entre suas principais influências poéticas. Como eu gostei muito do estilo da poesia da Laís (confiram “Das coisas que apaguei à meia-noite, no Wattpad), resolvi ler a autora que a tinha influenciado.
E... nossa.
O livro começou a me atingir já nas epígrafes, tanto a do livro, quanto a da primeira parte.
[Epígrafes]
No meio artístico, principalmente da alta literatura, há certo nariz torcido para a religião. Com frequência está ausente, como se fosse indigna da atenção de intelectuais. Quando muito, aparece caricaturada, no tedioso e único papel de "opressão". Especialmente se essa religião for o cristianismo. Sempre admiro a coragem dos autores que, cristãos, não se envergonham disso e deixam seu cristianismo vazar livremente na própria arte. Nomes como Dostoievski, C. S. Lewis e Ariano Suassuna estão aí para atestar que a fidelidade à própria essência funciona. Agora Adélia Prado entra nesse rol.
Virando a página e adentrando no miolo do livro, nos poemas em si, lá vem nova pancada. Adélia abre "Bagagem" com seu "Com licença poética", que inicia com uma paródia do Poema das 7 faces de Drummond, adaptado para uma perspectiva feminina.
[Com licença poética]
E sua percepção feminina do mundo é exata, fina e sensível.
[Serenata]
Como, aliás, sua percepção do poeta:
[Anunciação ao poeta]
...e da vaidade de suas aspirações:
[O que a musa eterna canta]
[Trecho de "Todos fazem um poema a Carlos Drummond de Andrade"].
A poesia de Adélia, nesse livro (li "Coração Disparado", também, mas não me conectei da mesma maneira) é imagética, sutil, e transmite, em linguagem mormente simples, conceitos de extrema profundidade em meras insinuações.
Por exemplo, esse "Ensinamento", com sua incrível definição (retratação?) de amor:
[Ensinamento]
(E das prioridades).
É um livro para ler, reler, meditar, degustar, "Para cantar com o saltério"
[Para cantar com o saltério]
...e principalmente para se identificar.
site:
https://medium.com/@rikabatista/o-peso-da-bagagem-de-adelia-prado-c0974d02019d