Luíza 04/10/2023
? Bagagem, de Adélia Prado
Imagine que, na década de 70, você envia alguns poemas inéditos para Carlos Drummond de Andrade, ele fica entusiasmando com a sua obra e, simplesmente, publica uma crônica no jornal lhe elogiando, dizendo que você é ?lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo?
Foi o que aconteceu com Adélia Prado e os poemas de Bagagem que, após essa crítica maravilhosa, foram publicados, em 1976. E, realmente, ao finalizar a leitura, é claramente perceptível o porquê de tantos adjetivos associados por Drummond: Adélia é, realmente, tudo isso!
Com uma mescla de filosofia simples do dia a dia, religiosidade e luto, a autora consegue escrever sobre as coisas mais comuns do cotidiano humano, com um brilho e uma percepção próprias, cativantes
É nítida, também, a origem banal dos poemas... durante a leitura, a sensação é de se sentar para uma daquelas conversas inesperadamente profundas sobre o dia a dia, com uma pessoa comum. É como se sentar para um café com uma dona de casa e começar um papo cabeça sobre a vida, a dor e a existência
Nas palavras da própria Adélia, ?Os poemas praticamente irromperam, apareceram cargas e sobrecargas de poemas. Eu escrevia muito nesse período, e quando vi que o volume tinha uma unidade, que ele não era apenas uma coleção de poemas, pois tinha uma fala peculiar, dele próprio, entre outros títulos que me ocorreram, Bagagem era o que resumia, para mim, aquilo que não posso deixar ou esquecer em casa. A própria poesia?
Pois bem, sou suspeita para falar, pois fui, desde cedo, contagiada pela poesia de Adélia e, desde então, sempre me encanto com a sua escrita. Mas e por aí, já leu algo da autora?