Os jovens e a leitura

Os jovens e a leitura Michèle Petit




Resenhas - Os jovens e a leitura


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Vagner.Fernandes 01/12/2017

Os jovens e a leitura - uma nova perspectiva
“Os jovens e a leitura – uma nova perspectiva” é um livro criado pela antropóloga Michèle Petit – pesquisadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços, do CNRS, da França – que procurou reunir na obra relatos e experiências vivenciadas por jovens do interior da França e da periferia. Tais experiências a que os mesmos foram submetidos estavam ligadas à experiência com a leitura, bem como o acesso a todos os elementos pertencentes a este universo (os profissionais da área – professores, bibliotecários e etc. –, ambientes estimulantes a esta prática da leitura, as relações de troca que se davam nestes ambientes, entre outros).
Petit decidiu dividir o livro (publicado em 1998, a partir de quatro conferências por ela realizadas no México) em quatro encontros.
“Primeiro encontro: As duas vertentes da leitura”. Neste capítulo, a autora procura abordar o uso da leitura como sendo um objeto de domínio para a manipulação do coletivo. Neste sentido, é fazer uso da leitura como uma maneira de manipular o pensamento, a maneira de agir, a ideologia daquele que tem acesso a este objeto teórico. Uma segunda vertente da leitura, apresentada por Petit, é que a leitura tem a capacidade de libertar o sujeito. Sendo assim, ela é uma possível ferramenta capaz de auxiliar o sujeito a entender o mundo ao seu redor, a lidar com os conflitos interiores e exteriores, a entender o próximo e entender a si mesmo.
No segundo encontro “O que está em jogo na leitura hoje em dia”, a autora discorre sobre as diversas possibilidades que o sujeito tem de descobrir a si mesmo. Ela mostra, através de relatos feitos por jovens leitores, quais são os elementos que estão em jogo no momento em que o sujeito tem acesso a leitura. Além de descobrir um pouco de si mesmo, o sujeito é capaz de compreender o outro, de lidar com o diferente, com as diversas maneiras de pensar dos sujeitos que, junto a ele, participam do mundo biossocial e vivem experiências singulares, diferentes umas das outras.
O “terceiro encontro: O medo do livro” trata um pouco das dificuldades que o leitor tem de se entregar à prática da leitura como sendo algo para se fazer por prazer, e não por obrigação. Além disso, por meio de uma leitura silenciada e não mais coletiva – como era feita pela igreja na sociedade rural – o sujeito consegue se libertar do espírito de grupo, do fato de achar que a leitura é algo a ser feito sempre de maneira coletiva. Petit retoma o fato de que a leitura, um dia, foi uma prática pertencente à igreja como forma de dominar o pensamento coletivo, manipulando as mentes que eram condicionadas sempre ao trabalho braçal, na roça, na sociedade rural. Conta ainda relatos de famílias onde a leitura é algo visto como inútil, que rouba o tempo de trabalho daqueles que preferem fazer nada em detrimento de fazer outras coisas proveitosas como, por exemplo, trabalhar na roça, na arrumação da casa e etc. Terminando este capítulo, a autora ainda assim explica que ainda que por algumas famílias a prática da leitura seja considerada algo inútil, existem algumas outras que vêem nesta prática a única chance de seus filhos mudarem de vida e alcançarem maior ascensão social e cultural, conseguirem bons empregos e serem reconhecidos como detentores de conhecimento que são exigidos para se inserirem no mercado de trabalho.
Terminando o livro, o quarto encontro tem como tema “O papel do mediador” onde, por meio de diversos exemplos, Petit afirma que para a estimulação da leitura, em um sujeito, não só se faz necessário a presença de um professor que reconheça a importância desta prática, mas que, também, o bibliotecário, o vendedor do livro, bem como todos os profissionais desse ambientes, trabalhem de maneira eficaz de modo a incitar no jovem a curiosidade pela leitura, pelo conhecimento do novo e a ampliação de saberes necessários à interação social, por exemplo. Ter acesso a leitura, neste sentido, é ampliar as diversas possibilidades de ler o mundo.
Por meio de uma linguagem fácil e de testemunhos advindos pelos próprios jovens e seus familiares, o livro procura trazer para o professor, bem como para os demais profissionais que trabalham diretamente com o livro, maneiras de como se pode incentivar o jovem a ler. Além disso, ler não é uma atividade que é subtraída à escola, mas é possível também ser estendida para a casa do leitor, para a comunidade em que ele vive, para as pessoas que ele tem contato na rua, na vizinhança. Um texto ensina o indivíduo a aprender mais sobre a vida, sobre si mesmo, sobre as relações que o fazem estar inseridos no mundo bem como as que o rodeia.
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Yasmim.Medeiros 20/11/2017

Uma reflexão sobre "os jovens e a leitura": do contexto francês ao brasileiro
O livro, escrito por Michèle Petit, divide-se em quatro encontros/conferências —"As duas vertentes da leitura", "O que está em jogo na leitura hoje em dia", "O medo do livro" e "O papel do mediador". Cada encontro trata o tema se utilizando de entrevistas, que foram feitas com leitores da zona rural e jovens de bairros marginalizados da França —sendo muitos destes jovens imigrantes, que vieram de países africanos— e de comentários da autora sobre o que vem sendo dito.

Um ponto bastante interessante que é levantado no segundo encontro, e o qual chamo atenção por pensar no contexto brasileiro, é o de surgir a indagação sobre se/como os jovens leem hoje em dia. Esta indagação me parece essencial se tratando de Brasil quando se pensa que é bastante comum ouvirmos críticas daqueles de gerações passadas em torno da leitura que os jovens de hoje em dia, teoricamente, não fazem. E, quanto a isso, talvez seja útil relacionar este ponto com o primeiro encontro do livro, que trata as duas vertentes da leitura: a leitura prazerosa (que dá uma liberdade ao leitor, que exerce sua subjetividade ao que é lido e se coloca ali como um leitor que interage com o texto) e a leitura obrigatória (muitas vezes vista relacionada à textos escolares e religiosos, que, como dito em entrevistas, remetem uma certa tradição oral e grupal que não levantava espaços de discussões sobre o que era dito, ou seja, há um poder do texto, ele não tem uma relação simbiótica com o leitor). Pois bem, será que os jovens de hoje em dia não leem? Ou será que o que é lido por eles é desconsiderado?

O diálogo que é criado entre as entrevistas (que parecem indiretamente conversar entre si) e o texto da autora estabelece uma reflexão, ainda no segundo encontro do livro, acerca de como a leitura é essencial para a criação de identidades, pois é através dela, que jovens estrangeiros da periferia das cidades francesas, afirmam terem conseguido descobrir a si. Foi através da leitura que eles apropriaram-se de si, conheceram o mundo —neste sentido, novamente, penso na realidade brasileira tão repleta de desigualdades sociais. Através da leitura, e não só literatura, é possível conhecer novas realidades, criar sua própria identidade, ter representatividade e, de algum modo, romper um pouco com a discrepância existente entre os mais privilegiados socialmente/economicamente, detentores de um Capital Cultural (Bourdieu), e os menos privilegiados, que, por não pertencerem a famílias mais escolarizadas e/ou a classes média e alta, acabam não tendo acesso às mesmas realidades culturais/sociais, a não frequentarem os mesmos espaços. Assim, através da leitura, é criado um espírito crítico nesses jovens que, como descrito por Petit, "se apropriam da língua": aqui não vista como mero instrumento utilizado em diálogos, mas como algo que se constrói e que é um reflexo do ser humano, ou seja, reflete seu modo de agir e de pensar. Além de, também, quebrar barreiras sociais a partir do momento que se passa a ter uso mais desenvolto dela.

No terceiro encontro, é trazido o questionamento sobre o que o objeto livro representa, ou seja, é mostrado como a figura dele acaba despertando medo nos jovens leitores. Esses medos foram descritos nas entrevistas com vínculos ligados à Igreja, aos pais e ao país de origem. É interessante pensar nesta tríade como elementos que se completam. Os jovens que descreveram os problemas que eles enfrentam com a leitura em casa, por exemplo, dizem que o fato de lerem poderia ser visto como uma tentativa de ser "melhor que os pais", que não tiveram acesso à escolaridade do mesmo modo —ou seja, pode ser visto como uma pretensão à superioridade e quebra da autoridade dos pais e da própria Igreja. Ainda pode ser vista como uma perda de identidade e do vínculo com o país de origem e sua cultura por, nos casos apresentados pela autora, os jovens passarem a ler em outro idioma (o francês e não mais no de seu país de origem) e também a cultura de um outro. Além de estar criando um indivíduo que só pensa no seu individual. Neste último ponto, é importantíssimo ver a dicotomia estabelecida por Michèle Petit, pois a autora chama a atenção pra duas palavras: individualização e individualismo. Os jovens passam a pensar o coletivo através da sua individualização (daquela leitura literária, por exemplo, que apresenta contextos diferentes, ou iguais, de sociedade, culturas, conhecimentos, arte, crenças, leis). A individualização é dada com o valor subjetivo que a literatura oferece ao leitor, com o poder que ele tem de se ver representado nas obras lidas e trazer algum ensinamento, insight, que tenha tido. Do mesmo modo, a leitura (de textos literários, filosóficos, sociológicos, científicos etc) pode oferecer qualquer outro tipo de saber, como, por exemplo, aprender sua história e sua cultura sob outros olhares, aprender um ofício (como é o caso de Christian que aprendeu horticultura pelos livros), tomar as rédeas de seu próprio destino, não reproduzir discursos prontos, ou seja, poder exercer sua cidadania ativamente.

Por fim, o último ponto, que me parece ser um dos mais importantes se tratando de educação, é o do quarto encontro. Neste, a escritora francesa levanta a questão da importância de um sujeito como mediador/iniciador entre a leitura/o livro/a literatura e leitor. Penso, como futura professora, em como os professores (sobretudo os de português/literatura) tem um papel essencial na formação de jovens leitores e em como este livro contribuiu para o meu pensar sobre a prática desse ensino. É necessário que se estabeleça diálogos, leituras orientadas, prazerosas e que se dê ao aluno o poder de escolha nos livros utilizados. A relação de troca entre a figura do mediador, aqui especificamente pensando no profissional docente brasileiro e não como em outros profissionais (como é posto no livro), e a do jovem leitor com leituras que agradem ambas as partes garantindo um estudo crítico/aprofundado em questões sociais e literárias parece ser uma boa escolha/saída.
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Thalles.Candal 20/11/2017

O diálogo generoso de Michèle Petit
O ato da leitura através dos tempos foi sendo visto de prismas diferentes. Quando esse fenômeno converge com a presença de jovens na posição de leitores, ele ganha um novo componente estrutural. Esse panorama é feito e detalhado pela antropóloga francesa Michèle Petit na obra "Os jovens e a leitura: Uma nova perspectiva". A autora ? pesquisadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços, do Centre National de La Recherche Scientifique, da França ? constituiu este livro com quatro conferências, chamadas por ela de ?encontros?, realizadas em 1998 no México.

Esses encontros abordam os temas centrais que envolvem a temática da leitura no universo dos jovens, nesse caso, fruto de suas pesquisas, de áreas rurais e de periferias de grandes cidades francesas. O aspecto talvez mais interessante do livro é a transição frequente de vozes que a autora promove ao trazer à luz depoimentos de jovens inseridos nessas realidades, retirados de entrevistas da autora enquanto pesquisadora e antropóloga. A generosidade de Petit ao dar voz a esses personagens muitas vezes esquecidos pelo mundo da literatura confere à obra grande credibilidade enquanto tratado de literatura e consciência social.

O livro reflete através dessas entrevistas sobre, como já denuncia o título, uma nova perspectiva dos jovens e da leitura no contexto rural e periférico da França. Para tanto, a autora parte de duas vertentes da leitura: uma coletiva, direcionada, moldadora, e outra individual, aberta a subjetividades. Desse postulado, desenvolve-se ?o que está em jogo na leitura hoje em dia?, título do segundo encontro, onde a autora enumera e constrói um panorama completo, de uma perspectiva histórica até a sugestão de estratégias para o incentivo à leitura. No terceiro encontro, Petit aborda ?o medo do livro?, refletindo sobre os impasses da leitura para os jovens, passando novamente por uma análise diacrônica até os preconceitos que rondam hoje esse ato. O quarto e último encontro aborda ?o papel do mediador?, numa grande discussão sobre os ambientes de leitura e seus agentes e obstáculos.

Fazendo uma análise comparativa da realidade rural e periférica francesa e a brasileira, podemos observar muitas aproximações diretas e indiretas. Os jovens entrevistados por Petit têm um perfil bem particular. Muitos são imigrantes ou filhos de imigrantes africanos ou asiáticos e vivem nas periferias das grandes cidades francesas. No Brasil, a realidade das periferias é diferente, mas esses jovens também enfrentam dificuldades. Seja pelo componente social, racial, geográfico ou todos eles conjugados, o acesso à cultura é alijado desses jovens. Na França há um maior acesso, mesmo por habitantes do campo ou da periferia, a bibliotecas públicas, fato que não se aplica ao Brasil. No entanto, quando se trata do ?sentir-se estrangeiro a uma língua?, a realidade brasileira pode ser analisada um pouco mais próxima à francesa, uma vez que o ensino normativo de gramática nas escolas brasileiras impõe uma proposta de língua cristalizada a qual esse jovem não tem acesso.

O livro ?Os jovens e a leitura: Uma nova perspectiva? auxilia o seu leitor a refletir profundamente sobre o universo tanto da leitura em si quanto do seu ensino em instituições escolares e bibliotecas. A contribuição de Michèle Petit para esse debate é grande, uma vez que essa obra aborda todas as etapas da construção da leitura na sociedade, aprofundando-se na atmosfera dos jovens, com dados históricos, análises reflexivas de depoimentos e, principalmente, na minha visão, do balanço sobre o que pode ser feito no ensino de literatura para que se encontre o ponto certo, o tão difícil e cobiçado equilíbrio da ?propaganda? da leitura, seja como fruição ou expansão de horizontes ou fonte de conhecimento. Não pense ao ler isso que Petit dá receitas mágicas a respeito do ensino de literatura. A autora apresenta uma nova visão do problema, com reflexões originais e muito pertinentes.

Uma palavra que poderia sintetizar a forma dessa obra seria ?diálogo?. Michèle Petit dialoga com seus leitores; os encontros, enquanto quatro grandes blocos-capítulos, dialogam entre si; o próprio livro traz trechos de diálogos com jovens sobre suas experiências enquanto leitores; enfim, o livro é uma conversa agradável, provocante e inspiradora para os leitores que se interessam pelo assunto e, em especial, para os professores. Recomendo fortemente, enquanto graduando de Letras, essa leitura que não apresenta fórmulas, mas revolve o terreno da discussão sobre a leitura e lhe traz novas perspectivas.
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Beattriz 15/11/2017

(Pensando sobre) os jovens e a leitura
A obra "Os Jovens e a Leitura", de Michèle Pétit, é uma reunião de quatro conferências proferidas pela autora em um evento realizado no México. Petit é uma antropóloga francesa e pesquisadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços. Nas quatro conferências reunidas no livro, ela discorre sobre diversos aspectos da leitura, principalmente no que diz respeito aos modos e motivações para a leitura de jovens, partindo de duas de suas pesquisas: uma realizada com jovens de bairros marginalizados da periferia francesa e outra com leitores de área rural.
Á primeira vista, é possível que o livro pareça ter um caráter acadêmico ou muito específico para pesquisadores da área. Entretanto, o fato de ser uma transcrição de uma fala e a linguagem acessível de Petit contribuem para que a leitura flua de maneira agradável e proporcione diversas reflexões acerca do papel da leitura na sociedade e como os jovens se relacionam com ela. Esses jovens possuem uma voz ativa no decorrer da obra, pois é a partir de suas falas, recolhidas através de entrevistas, que a autora irá embasar seus argumentos e exemplificar as ideias apresentadas.
Há uma ideia inicial e que me parece uma chave para o entendimento do que será desenvolvido durante as conferências: a existência de duas vertentes na leitura. A primeira diz respeito a uma leitura em conjunto (na família, na escola) e que é guiada, com um objetivo de moldar o indivíduo e incutir nele determinados valores morais. A segunda vertente, que será melhor trabalhada no decorrer do livro, diz respeito a uma leitura individual, em que o indivíduo trabalha a si próprio, dando vazão a sua subjetividade, seus valores, ideias, e trazendo todos esses elementos para o ato da leitura, que será única e singular. Essas duas vertentes serão trabalhadas na primeira conferência.
Nas conferências seguintes, Petit trata sobre aspectos como os objetivos dos jovens ao realizar suas leituras (apropriar-se de sua língua, por exemplo), além de pensar na contrapartida do processo, apresentando o medo do livro, enfrentado por muitos jovens. Acredito que esse tema é essencial e nos ajuda a pensar em como a leitura não é uma experiência anódina, em como ela pode despertar diversos enfrentamentos para os quais esses jovens não estavam preparados, como a reação da família perante as leituras. Essa problemática é desenvolvida na terceira conferência.
Por fim, na última conferência, podemos vislumbrar uma forma mais prática de trabalhar com a leitura, através dos relatos acerca das práticas ocorridas nas bibliotecas francesas. É muito interessante perceber o papel fundamental dos bibliotecários na formação desses jovens leitores, que os ajudam a "ultrapassar umbrais" (expressão cunhada por Petit) e trilhar um caminho como leitor. Considero que essa conferência é uma das mais interessantes para professores de Língua Portuguesa e Literatura, pois é possível realizar uma analogia com seu próprio trabalho nas salas de aula.
Todas as reflexões de Michele Petit dizem respeito ao contexto francês, ainda que ela peça a seus interlocutores que procurem estabelecer uma relação com a América Latina e nisso podemos incluir o Brasil. Evidentemente, há inúmeras diferenças entre o sistema educacional francês e o brasileiro, mas penso que podemos encontrar semelhanças nos desafios e questões propostos pela autora. Um deles é a necessidade de manter o aluno em contato com a leitura durante seu percurso escolar, o que remete a necessidade dos bibliotecários de manter o jovem dentro da biblioteca, ultrapassando etapas e continuando seu processo de formação de leitor. Os professores de Literatura funcionam como os mediadores de leitura mencionados na última conferência e cabe a elas encontrar estratégias para despertar o interesse dos jovens pela Literatura.
Recomendo o livro para estudantes da área de letras, professores de nível superior e principalmente para os da educação básica. É extremamente importante que estejamos atentos aos desafios enfrentados pelos alunos e a partir daí pensar em soluções. Acredito que uma educação que não esteja pautada, em primeira instância, na realidade dos sujeitos envolvidos, não será efetiva. Só a partir do reconhecimento dessa realidade será possível pensar em como alterá-la e oferecer novas experiências que irão agregar valor e significado a ela. Portanto, como futura professora da Educação Básica, acredito que esse livro foi extremamente importante para que eu possa identificar certas questões relacionadas a leitura dos jovens com mais facilidade.
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Lucas 01/03/2015

"Pois não há real cidadania sem o uso da palavra".
Os jovens e a leitura é um livro brilhante a respeito da leitura e de como que ela se relaciona com os jovens na sociedade contemporânea frente às mazelas sociais existentes. Ele é fruto de palestras realizadas na Colômbia pela antropóloga francesa Michèle Petit. A autora, por anos, pesquisou o relacionamento que jovens da periferia de Paris e da zona rural francesa tinham com a leitura. O resultado é esplêndido e deveras encantador, o texto se articula de uma forma que certamente transmite uma ótima mensagem ao leitor.

O trabalho foi realizado embasado em questões fidedignas com a atualidade, a autora pretendia compreender o papel da leitura na vida de jovens marginalizados e de camadas sociais pobres, em suma jovens franceses de baixa renda e principalmente de jovens imigrantes que tinham dificuldades de se adaptarem a nova realidade, que eram relegados ao descaso na situação que se encontravam. É importante salientar que, apesar de ser um trabalho realizado na França, pode ser contextualizado em qualquer realidade, essa é a sensação que tive, os mesmos problemas apontados pela autora são observados em qualquer lugar, principalmente no contexto brasileiro.

São abordados questões importantíssimas aos profissionais bibliotecários, professores, mediadores de leitura no geral, que apresentam a leitura aos jovens e mediam a formação da cidadania, consequentemente. Muitos são os pontos que se destacam no texto, alguns deles são: a extrema importância da biblioteca na mediação da leitura; leitura instrumentalista e utilitária vrs a leitura que estimula a imaginação e formação da identidade do jovem, sendo a segunda a que deve ser mais levada em consideração pois, como se sabe, é através da leitura que o jovem distancia-se do seu meio e consegue encontrar respostas às questões de formação de identidade e de discernimento da realidade, esse processo é importantíssimo pois com a leitura a pessoa consegue atingir um alto grau de constituição da individualidade e, conseguinte, a cidadania. É através da intersubjetividade, do isolamento em que se encontra o indivíduo no momento da leitura, que a pessoa conquista um alto grau de liberdade e de crítica perante o que lhe ocorre em seu meio.

A leitura é um processo de desprendimento da realidade, mas isso não significa que o indivíduo fica alheio à realidade, mas que através desse distanciamento ele detém ferramentas para modificá-la. Através do processo de leitura o indivíduo conquista habilidades e liberdade de escrever a própria palavra, de forma que ele não encontra-se mais preso e predestinado ao fracasso social, ele obtém uma nova perspectiva que lhe permite moldar o próprio destino.

Destaca-se o importantíssimo papel do bibliotecário que, por deter um alto grau de liberdade que os professores não têm na maioria dos casos, pode despertar o interesse pela leitura em jovens que até então apenas tinham curiosidade pelo mundo dos livros, porém não tinham encontrado uma pessoa que os orientasse e os acolhesse perante as suas necessidades.

Ler é construir a si próprio.
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