Ismael.Chaves 18/10/2023
Um dos maiores mestres da Ficção Científica!
“O que é a ficção científica? É a literatura que prevê o futuro? Não. É a literatura que olha o presente”, disse, certa vez, Braulio Tavares , um dos maiores nomes do gênero fantástico brasileiro, ao comentar a obra de Ray Bradbury.
De fato, o autor de clássicos como "Fahrenheit 451" e "As Crônicas Marcianas" nunca se deixou deslumbrar pela tecnologia, tanto em sua obra como na vida pessoal. A ficção científica de Bradbury "não mirava o futuro, e sim o passado". Em suas histórias, podemos entender a colonização marciana como o genocídio nas guerras de colonização. Um mundo pós-apocaliptico ou uma distopia nada mais são do que um exercício sobre a ameaça nuclear, e assim tentar entender o desejo absurdo da humanidade em se auto-destruir.
Em "Os Frutos Dourados do Sol", publicação da antiga coleção portuguesa Argonauta, são 12 contos que falam muito mais sobre os anseios, os medos, as escolhas e o fracasso do ser humano, do que propriamente a tecnologia ou um elemento alienígena, que só estão lá - quando estão - para servir de cenário a essa reflexão.
Em "A Sirene entre o Nevoeiro", dois guardas de um farol presenciam a chegada de um monstro gigante e pré-histórico, atraído pela estranha sirene do local. Aqui, Bradbury não está interessado no monstro em si, mas no passado, sobre como o homem destruiu culturas e povos antigos em nome de um suposto progresso que, cada vez mais, afasta-nos de nossas raízes e uns dos outros.
No futuro de “O Homem que Passeava” é proibido caminhar na rua. As pessoas ficam em casa diante das TVs. Mas um homem sai, à noite, desafiando a lei, unicamente, para caminhar.
Em "O Deserto", duas irmãs se preparam para deixar a Terra e viajar até Marte, onde uma delas irá se casar e viver com o marido numa casa igual a sua na Terra. Em "O Criminoso", conto atualíssimo, vemos como a tecnologia, por meio de aparelhos de comunicação, escravizam o ser humano.
Em "O Som do Trovão", é o presente que afeta o passado impactando o futuro, quando um grupo de caçadores do futuro viaja ao passado pré-histórico dos dinossauros.
Uma excelente coletânea, onde Bradbury nos mostra que, mesmo com a tecnologia em avanço, são as ações humanas que moldam o mundo.