Henggo 21/12/2023
A introdução ("Praticando a arte (quase) perdida" já é um abraço na alma de quem gosta de ler e de escrever contos, essa arte (quase) perdida, mas importante como meio de apresentação de novos autores e para a conquista de novos leitores. É um acalanto antes do horror!
"Sala de autópsia 4": gostei, mas não me envolvi tanto porque já passei por isso. Tenho uma condição em que, nas cirurgias com anestesia geral, a sedação não funciona comigo e meu cérebro fica "acordado" e enquanto o meu corpo continua paralisado. E já fiz 4 cirurgias assim... Por isso, o conto foi um gatilho curioso. Imagino que quem nunca passou por isso deve ter ficado muito agoniado.
"O homem de terno preto": que imersão eu tive. Nossa! Minha família vem do interior do Maranhão, cheio de florestas, rios desconhecidos, estradas de areia que se alongam para o horizonte... e muitas histórias. Este conto me transportou para longe e para dentro. Foi incrível e assustador.
"Tudo o que você ama lhe será arrebatado": não gostei. Ambientação em excesso, descritiva demais. Particularmente, é o tipo de escrita que me tira da imersão no texto. E, na minha opinião fecal, é nesse ponto que reside o maior "pecado" do King: a terrível mania de querer ambientar o leitor em minúcias que não levam a nada. Em alguns textos isso funciona, em outros se torna irritante e enfadonho. Este conto é do segundo tipo
"A morte de Jack Hamilton": reconheço a escrita bem feita e o modo como os diálogos são fluidos e fazem a pessoa embarcar nessa realidade. Mas o conto, confesso, não me desceu muito bem. Eu não o leria novamente - ao menos, não nos próximos 5 anos. Quem sabe, mais maduro, já aos 40, a história não me abrace melhor?
"Na câmara da morte": diferente e intenso. Gosto como há uma mudança para o que costumamos ver em histórias assim.
"As Irmãzinhas de Eluria": comecei desgostando e acabei entregue, sedento, encantado. Foram quase duas horas de fantasia e terror de muito, muito bom gosto. Nada exagerado, cheio de entrelinhas, está é uma potente introdução ao universo de Torre Negra. Encantador.
"Tudo é eventual": fiquei tentado... Sério. Percebo que estes contos embarcam em uma outra faceta do King, algo mais filosófico, social, quase etéreo. É um mergulho diferente.
"A Teoria de L.T. sobre Animais de Estimação": deixa aquele gosto agridoce na boca. Mais uma experiência diferente do que estou acostumado com o sr. King. Gostei.
"O Vírus da Estrada vai para o norte": instigante. Fiquei olhando para os meus quadros e subiu um arrepio. Pintei um Coringa que tem tudo a ver com o que aconteceu aqui...
"Almoço no Café Gotham": um pequeno estudo sobre as origens da loucura, a loucura "louca" e a loucura sutil que escala nossos ombros todos os dias - e vive à postos na esperança de um dia também enlouquecer
"Você só pode dizer o nome daquela sensação em francês": repetitivamente infernal. Não, não é um conto ruim ao meu ver. Porém, chegou um momento em que a curiosidade e o mistério se tornaram enfado e vontade de acabar logo.
"1.408": confesso que gostei mais da primeira parte do que do desenrolar dos fatos. O relato do gerente me gelou os ossos muito mais do que o restante do conto. Sim, como Mike constatou, Olin é bom. Muito bom em contar histórias...
"Andando na bala": quando você lê algo e sua perna não para quieta é porque o psicológico foi golpeado. Esse aqui me pegou bonito, um gancho que me deixou desnorteado em alguns momentos e quase me nocauteou de tanta agonia. Esse é o poder de um bom conto. Incrível.
"A moeda da sorte ": melancólico, tocante e com aquele tempero de realidade que me deixa desnorteado. Não é um terror, mas sim o horror da dura realidade das milhões de Darlenes mundo afora.