Recordações da Casa dos Mortos

Recordações da Casa dos Mortos Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Recordações da Casa dos Mortos


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Li 01/01/2014

Sob cegos e surdos aplicadores da lei
Como ler "dinamicamente" um livro desses, preocupar-me em ler 250 palavras por minuto de um texto que só superficialmente mostra ser um registro realista da vida dos condenados a trabalhos forçados na Sibéria, homens de cabeças raspadas, cobertos por trapos, cuja sopa tem, dentre outros ingredientes, baratas, dias e dias sem banho e de 100 a 1500 varadas ou chibatadas pairando sobre as costas...

Não pretendo aqui resumir o livro, embora saiba que mesmo de posse do enredo, cada leitor acaba construindo suas próprias impressões do lido... Escrevo para exorcizar meu impasse em meio as minhas recentes descobertas sobre a leitura dinâmica. Interessei-me por este assunto porque ler para mim é como respirar, não poderia ficar sem. Ser assim me deixa ansiosa: há tanta coisa boa para ler e o tempo, para quem tem de trabalhar na Educação é tão escasso. ( Digo 'tem' porque as pedagogias, a falta de indignação entre meus pares, o desrespeito pelos docentes e discentes, o número crescente dos professores que caem adoentados física ou emocionalmente, dentre outros, têm me deixado cada dia menos apaixonada pela profissão).
A leitura então, é para mim um oásis, um tempo só meu, longe da modorra, é ação, é sempre outra possibilidade... Ter nas mãos e diante dos olhos obras de arte ( não é todo livro uma, mas quando se tem a sorte de encontrar...)
A verdade, digo, a minha verdade, é que diante de textos que funcionam como um soco no estômago não dá para correr, a gente se ajoelha com as mãos no ventre e se ergue lentamente, à medida que o impacto e a dor se esvaem.
Como somos capazes de tanta crueldade... Por que foram parar lá... e esses médicos, passivos não questionam as ordens, de que adianta curar os sulcos das costas desse homem para que ele seja novamente feridos... Como puderam matar o pobre cachorro que tudo o que sabia era amar, para tirar sua pele... Então são esses os respeitados, os que caem de pé... Como podem viver tantos anos num ambiente tão asqueroso... tanta coisa correndo no meu pensamento e no meu coração... o inciso do artigo quinto que diz que no Brasil não haverá prisão perpétua nem trabalhos forçados vão ganhando outra grandeza. Tanta coisa correndo no meu pensamento e no meu coração, que me é impossível, correr com a leitura, contar quantas páginas faltantes para o final, chega-me a ser um desrespeito por quem soube criar algo tão impactante. Da mesa pro sofá, do sofá pra cama, daí pro chão... umas paradas aqui e ali para tomar fôlego, ou o sono que vem reclamar o seu tempo eu indo fazer um chá porque quero saber hoje e não amanhã como ficaram os que se atreveram a fugir da prisão recompor as emoções e os pensamentos. Chego á conclusão que haverá textos que lerei de uma tacada, só didáticos, informativos, são tarefa e não fruição. porém, haverá aqueles por quem me dobrarei reverentemente e sorverei demoradamente suas palavras porque são mestres, e se o são, é preciso que eu faça alongar nosso tempo juntos

São trezentas e dezesseis páginas de puro mergulho numa realidade atroz que bem se sabe, não é ficção. Homens, mulheres e animais vítimas da violência de que somos capazes. Só a águia que não. Quer saber por quê... reserve um tempo para ler essa obra, não dá pra sair dela incólume, é amor e ódio certos, é admiração e perplexidade pura diante de tal capacidade escritora. É boa literatura, profunda, ardida, vida.
Lari 17/12/2014minha estante
Nossa...seu comentário é profundo. Arrasou!


Lisboa 04/04/2019minha estante
Foi a primeira obra que li do Dostoieski e considero uma ótima obra introdutória justamente por isso, ''ler é como respirar'' e nesse livro simplesmente não conseguimos parar, o texto extenso e com palavras pouco usuais é equiparado com um texto extremamente cativante, e com os relatos, cruéis, desumanos, mas narrados com uma retórica poética incomparável. Primeiro de muitos livros do autor que ainda lerei, mas sem dúvidas, a obra que mais me impactou até agora.


Priscila 30/10/2019minha estante
Que resenha maravilhosa!


Thaís Aguiar 23/08/2022minha estante
Resenha impecável. Parabéns!


mayara_vitoria 30/10/2023minha estante
resenha incríveeeel ??????


Mateus 27/09/2024minha estante
Uau, que resenha. Com certeza eu leria um livro escrito por você




Carolina.Gomes 13/11/2024

Relatos do cárcere
Essa obra é inspirada em uma fase traumática da vida do autor: condenado à morte por atividades subversivas contra o regime czarista, Dostoiévski foi indultado no último momento, mas sua pena foi comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. Dessa experiência extrema, ele trouxe o material humano e emocional que mais tarde serviria de base para alguns dos seus personagens mais complexos e inesquecíveis.

Ao longo da leitura, pensei que a literatura foi salva por um capricho do czar porque essa segunda fase do autor, pós Sibéria, é a mais genial.

Em Escritos da Casa Morta, Dostoiévski se vale de um personagem fictício, Aleksandr Pietróvitch Goriânchikov, para narrar suas experiências no presídio siberiano. Com essa estratégia, ele conseguiu abordar a vida no sistema carcerário russo e driblar a censura da época, oferecendo uma crítica velada, mas poderosa, ao sistema penal czarista.

Sob o olhar de Goriânchikov, o autor descreve a brutalidade e a desesperança que permeiam a prisão, mas também a humanidade que, mesmo em condições extremas, resiste entre os presos.

A obra me impactou profundamente. Não foi uma leitura fácil. Senti angústia e agonia e me aproximei mais do autor.

Dostoiévski mostra, com um realismo impressionante, a dureza da vida no cárcere, revelando como a violência e a opressão afetam a psique humana. O leitor se vê diante de retratos de prisioneiros que variam do vilão ao trágico, do frio ao passional, cada um com uma história de vida marcada pela dor e pelo desejo de sobrevivência. Esse olhar humanizado sobre os presos desafia qualquer julgamento simplista, e Dostoiévski faz o leitor refletir sobre questões como culpa, redenção e a essência do espírito humano.

A experiência de Dostoiévski na prisão foi fundamental para a criação de personagens complexos e ambivalentes, que viriam a se tornar marcas registradas de sua literatura, como Raskólnikov, de Crime e Castigo, e o Príncipe Míchkin, de O Idiota.

Em Escritos da Casa Morta, ele já ensaia a profundidade psicológica e o dilema moral que exploraria mais tarde.

A obra é uma leitura essencial para entender a genialidade de Dostoiévski e a profundidade moral e psicológica de seus personagens.

Depois dessa leitura tenho que reconsiderar toda crítica que fiz ao autor e me retratar publicamente. Se te critiquei, perdão, Dostô. Você nunca errou!

Recomendo fortemente a leitura. Na edição da Ed 34 há um material excelente para contextualização da obra e ainda traz a carta de Dostô em resposta ao censor.
mariamanuella.brittogedeon 15/11/2024minha estante
Daqueles que me arrependi de ter pulado . Mas lerei em breve




Cris SP 18/11/2023

18.11.2023
O que dizer? Arrebatador! Gostei muito dessa obra que relata a vida de um prisioneiro que foi exilado na Sibéria a trabalhos forçados. Vivenciamos junto com o personagem a visão que ele tem do lugar, das pessoas, suas reflexões sobre a sociedade, o ser humano.
CPF1964 18/11/2023minha estante
??????


Vanessa.Castilhos 19/11/2023minha estante
????




Luigi.Schinzari 26/11/2020

Sobre Escritos da Casa Morta de Dostoiévski:
Uma obra-prima não surge por acaso. Antes de amadurecer suas técnicas, um gênio em sua área deve maturar suas capacidades e intelecto com a prática constante de sua arte: antes de fazer Um Corpo que Cai, Hitchcock tinha diversas pérolas como Janela Indiscreta e Festim Diabólico espalhadas por seu brilhante currículo; antes de Sgt. Pepper, os Beatles gravaram Rubber Soul e definitivamente refinaram seu estilo, preparando terreno para sua obra-prima; Da Vinci pintou uma dúzia de quadros antes de chegar à Mona Lisa; e o resto é história. Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski (1821-1881), antes de tecer suas maiores contribuições para a literatura com obras como Crime e Castigo(1866), Os Demônios(1871) e, na minha opinião, o ápice de sua escrita, Os Irmãos Karamázov(1880), deixou todo seu plano futuro exposto em cada uma das páginas de seu romance semiautobiográfico Escritos da Casa Morta (no original em russo: ??????? ?? ???????? ????, Zapiski iz Myortvovo doma), publicado entre 1860 e 1862 na Rússia; não foi à toa: quem for ler a obra perceberá cada traço da genialidade de suas futuras obras e, em retrospecto, do retrato de sua carreira como um todo.

A história retrata as experiências do autor durante sua prisão na Sibéria, camuflada por um personagem que não é o autor, Alexandr Pietróvitch, que, diferentemente de Dostoiévski, que foi preso por conspirar contra o governo tzarista junto a um círculo revolucionário, foi levado ao cárcere por matar sua mulher. Logo no começo, o autor conta que descobriu os cadernos de Alexandr e que este já se encontra morto àquela altura. Nas anotações, são contadas as mais diversas experiências vividas em seu período encarcerado, dos momentos prazerosos encontrados em meio àquele ambiente funesto e morto até as situações de abuso das autoridades responsáveis pelo presídio e da mentalidade deturpada de alguns presos, sejam seus companheiros ou seus desafetos.

São muitos os temas abordados em cada passagem de Escritos da Casa Morta: seguindo praticamente o formato de contos, Dostoiévski pincela emoções das mais sutis às mais extremadas no panorama que quer retratar em sua obra, reunindo momentos, diálogos e trejeitos que compilou ao longo dos dez anos em que esteve preso -- juntando seu cárcere e a pena comutada em serviço militar obrigatório -- em seu Caderno Siberiano, espécie de diário em que compilava, in loco e no calor do momento, o que acreditava ser interessante para exprimir em palavras as sensações e experiências que tinha na Fortaleza de Omsk, local em que ficou aprisionado entre 1850 e 1854. Por conta disso, tudo nas páginas de Escritos é muito real e soa verossímil mesmo quando, em outros casos, pareceriam uma trama de cárcere folhetinesca.

Momentos de brutalidade extrema, contados pelos próprios criminosos que os cometeram, experiências bestiais do homem para com o homem são o laboratório do autor para desenvolver os temas que quer abordar na obra. A mente do criminoso expande suas raízes sobre temas como a razão real do crime, se há ou não um motivo devido para se cometer um crime -- temas que seriam aprofundados em Crime e Castigo --, a postura do homem em relação a fé quando está diante de injustiças de Deus para com o homem, se há ou não liberdade -- cerne de Irmãos Karamázov --, qual a pena devida para tal crime, indagações sobre ser justo ou não dar a mesma punição para crimes diferentes e tantos outros tópicos, traçados com maestria por um escritor que tinha muito bem delimitada em sua mente aquilo que queria dizer, tanto diretamente como de forma implícita instigada pelas sensações que a leitura causa no leitor sem, muitas vezes, este mesmo perceber que está sendo manipulado pelo autor -- talvez essa característica, aliás, seja o que diferencia um autor medíocre de um que ficará marcado na história, e definitivamente Dostoiévski é um daqueles que mais habita e continuará habitando a mente dos leitores de todos os tempos.

Um exemplo dessa subjetividade que o autor expressa de forma imperceptível, inicialmente, ao leitor é a passagem do tempo, que começa arrastando o primeiro dia de cárcere de Alexandr por dezenas de páginas, enquanto com o passar da vivência na prisão os lapsos vão se estendendo e o autor é obrigado a pontuar passagens mais marcantes e necessárias para retratar aquilo que quer contar -- semelhante ao recurso usado por Thomas Mann, admirador da obra de Dostoiévski, em sua A Montanha Mágica; fica a seu critério, leitor, decidir se ouve ou não uma inspiração dessa obra --, mostrando quão ordinária a vida se torna mesmo diante daquela quebra abrupta na linearidade da rotina, sendo o homem um animal tão adaptável a suas condições, mesmo aquelas mais desumanas; aliás, desumanas são, mas o autor pouco trata sobre ser justa ou não: com raras exceções, os homens que ali estão presos são criminosos brutais, mas a visão de Dostoiévski vai além dessa delimitação básica sobre a bondade ou maldade do homem ao espalhar por cada prisioneiro personalidades distintas e complexas que vão além de seus crimes; não liga para o criminoso, pois isto é apenas uma faceta de seu caráter, em resumo.

É com uma obra como Escritos da Casa Morta que Dostoiévski eleva-se em relação aos seus semelhantes. Tudo o que tornaria o autor célebre -- seu pioneirismo psicológico, dando prosseguimento ao trabalho nesse campo de autores como Stendhal e ampliando-o de forma nunca antes feita; a forma realista de retratar suas personagens e acontecimentos, as questões sobre fé, liberdade e o homem como um todo --, tudo está aqui, mesmo que de forma sutil, dando uma piscadela para seu fiel leitor que já conhece o restante de sua obra e acenando para aquele que está acompanhando-a cronologicamente, dando uma prévia da hecatombe que estaria para explodir em seus futuros livros. E mesmo com tudo isso, Dostoiévski não esgota toda sua munição em uma única obra como um autor menos experiente faria, deixando a arma carregada para futuros tiros que, como sabemos, seriam certeiros.
Luigi.Schinzari 17/12/2020minha estante
Muito obrigado? vai curtir muito, tenho certeza disso




isa.fsgomes 12/08/2020

Recordações da Casa dos Mortos, Fiódor Dostoiévski (1861)
INCRÍVEL(mente) chato
Nessa obra meio ficção/meio auto-biográfica, Dostoiévski conta, usando a voz de Alexandr Petróvich, suas próprias impressões e experiências de sua vida carcerária na Sibéria.

O livro traz muitas reflexões porém, não vai entrar na minha lista de favoritos. A leitura foi super estressante, arrastada e difícil de terminar. Foi uma grande tortura chegar ao final. E acho que esse talvez fosse o objetivo do autor. A imersão na vida monótona e nauseante da prisão acontece com força e peso durante toda a narrativa.

Diferente das demais obras de Dostoiévski, aqui não existe um aprofundamento dos personagens. E com tantos nomes confusos e abreviações, chega um momento que já nem sabemos de quem ele está falando. Ainda assim, estão presentes as profundas reflexões sobre humanidade, solidão, consciência, tirania, a aplicação e funcionamento do sistema penal, questões existenciais... Tudo bem característico do nosso amado amigo Dostô.

Resumindo, um livro excelente, real, cheio de conteúdo e incrivelmente chato.

Boa leitura!
Marcelo Rissi 13/08/2020minha estante
Ótima resenha!! ???? Estou na metade já e estou formando as mesmas impressões!




Jaqueline 08/08/2021

O impacto de uma descrição realista.
Toda vez que me deparo com um livro extremamente descritivo, assumo um compromisso pessoal de dar uma chance para a leitura e não abandoná-la. Para mim, esse tipo de escrita é a mais desafiadora porque é a que gera maior risco de dispersar a minha atenção. Contudo, "Recordações da Casa dos Mortos", mesmo sendo cheio de detalhes, fez com que eu direcionasse toda a minha atenção para a experiência de leitura pela qual eu estava me sujeitando. Isso não é apenas reflexo do meu interesse pelo tema, mas principalmente pela habilidade técnica que Dostoiévski mais uma vez deixa evidente.

Mais do que fazer elogio à técnica do autor, o que mais me impressiona é o domínio que ele tem em fazer análises complexas sobre o ser humano em condições de sofrimento psíquico, de esgotamento físico, de solidão e de exclusão social. Essa análise, que já é fantástica por si só, ganha dimensões ainda maiores quando Dostoiévski sai da perspectiva de analisar apenas uma pessoa e passa a fazer uma análise dentro de um contexto de relações, gerando reflexões ricas e densas sobre a sociedade como um todo.

Por mais que tenhamos a descrição de crimes hediondos (tanto dos presos como das autoridades que abusam da força), as pessoas aqui não são vista como totalmente ruins ou totalmente boas. Elas estão em um constante processo de transformação e de aceitação/exclusão da "bolha social" desta prisão na Sibéria, já que ela segue um código moral próprio. Por meio desse código, alguém que cometeu um crime bárbaro pode ser melhor aceito do que um nobre que cometeu um crime menos grave. Para nós, que estamos do lado de fora, pode parecer difícil entender os julgamentos que os forçados (são chamados assim pelo autor) fazem uns dos outros. Entretanto, ao longo do livro começamos a entender melhor como funciona esse sistema.

Dentre os maiores exemplos do que eu citei acima estão duas passagens que tiveram um grande impacto sobre mim. A primeira, sobre o desenvolvimento da tirania a partir da concessão do poder de punir o outro. A segunda, sobre a mudança no comportamento dos presos, que podem passar anos vivendo tranquilamente e de uma hora para a outra revoltam-se e não recuam nem diante de crimes capitais. Em ambas as situações, vemos o reflexo que o poder, seja o de punir ou seja o de manifestar voluntariamente um comportamento, tem dentro deste contexto.

Eu poderia citar diversas passagens marcantes desse livro e passar horas discutindo alguns trechos, porém ao final a minha conclusão da resenha seria a mesma. Essa é uma obra que mostra o amadurecimento do autor e a qualidade do seu trabalho em descrever a realidade de um tempo e de um país distante do nosso, e mesmo assim fazer com que o leitor consiga se apropriar daquilo que está sendo descrito e transpor para uma análise própria sobre a realidade social que vivemos hoje.
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Marcelo Minal 06/04/2024

Retrato da Prisão - Espelho da Sociedade
Profundamente auto-biográfico, "Recordações da Casa dos Mortos" retrata a percepção de um ex-nobre, Petrovich, ao se ver enclausurado, por 4 longos anos, numa prisão na Sibéria.

Através dos olhos do protagonista/narrador, que no fundo é o próprio Dostoiévski em sua experiência pretérita, nos deparamos com espessas sombras da sociedade: Corrupção para importar produtos ilícitos e subornar guardas, vícios como bebedeiras, prostituição, despotismo dos superiores, castigos brutais e desproporcionais, brigas e preconceito.

Por outro lado, no meio desta profunda escuridão, somos surpreendidos por um corajoso facho de luz: companheirismo, amor pelos animais e esperança, mesmo que inconfessável, de reviver a liberdade. Um vigor, um desejo de viver, não obstante a presença corriqueira da morte. É como uma flor que, teimosa, brota no meio do lamaçal dos pântanos.

A luz precisa de escuridão para existir, e vice-versa. No olho desta dicotomia percebemos que a prisão é uma porção da sociedade e praticamente tudo que ocorre lá dentro, ocorre também aqui fora. É um espelho.

Ao final, percebe-se que é possível ser otimista para com a vida. Petrovich, que passa quase a integridade do tempo de sua pena sendo hostilizado pelos outros detentos, pelo fato de ser ‘nobre’, nos seus últimos meses, finalmente, galga o respeito e até o companheirismo destes presos. "Ele é como a gente." Em sua despedida do presídio alguns chegaram até mesmo a chorar.

Enfim, embora existam passagens pesadas em “Recordações da Casa dos Mortos”, Dostoiévski faz a leitura ser agradável através de seu modo fluído e cativante de escrever. As ideias são bem conectadas de forma clara e concisa. Nesta edição há ainda uma cópia de uma carta verdadeira que o autor enviou ao seu irmão. É incrível como que alguns personagens do Romance são surpreendentemente semelhantes à descrição da carta.

Um bom livro.
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Bruno 30/03/2021

Leitura que te prende
Um livro de temática dura, já que narra todas as condições de uma prisão de trabalho forçado na Sibéria. Todavia, o livro é tão bem escrito que acaba sendo uma leitura fácil, nos prendendo sem esforço. Livro para ler e reler, principalmente pela dificuldade de guardar os nomes dos personagens.
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Marcos 05/10/2009

Uma experiência e tanto
O livro retrata as experiências de Dostoiévski nos tempos de prisão, narradas através de um romance fictício.

Por ser narrada de uma forma diferente, quase que como um diário, muita coisa interessante é descrita e é difícil fazer uma resenha. Mas o ponto forte, mais uma vez, são as análises psicológicas das pessoas e suas conclusões pessoais.

Alguns aspectos interessantes merecem comentários. A questão dos presídios é bastante atual, apesar de ser um romance do século XIX. O trabalho era obrigatório e a forma como era implementado fazia toda a diferença sobre a reabilitação do preso. Se usado como uma obrigação inútil, como por exemplo simplesmente carregar uma pedra de um lado pro outro, funciona como humilhação, punição desarrazoada, ninguém sai ganhando. Mas se o deslocamento desta mesma pedra for usado para um fim, se tivesse uma utilidade, como construir uma casa, o preso saía cansado, porém realizado. Infelizmente, o trabalho era usado mais com o intuito de punir o detento.

Falando em punição, o autor comenta sobre um ponto interessante. Uma mesma punição pode ter efeito em dobro, pois desconsidera quem é a pessoa punida. Enquanto a camada mais pobre da população se acostumava rapidamente com a nova vida (embora vivesse em sonhos loucos de liberdade), para os nobres a promiscuidade, a miscigenação compulsória de culturas, era uma punição extra. Por mais que os nobres tentassem se aproximar, a plebe não os reconhecia como seus iguais, chegando a reclamar se tentassem ajudar. Mostra como o preconceito é uma via de mão dupla.

Embora tenha sido comentado que o trabalho tem potencial de ressocialização, alguns indivíduos pareciam simplesmente sentir prazer no delito cometido e nele não viam nada de errado. Esta é uma questão ignorada no sistema atual, que trata estas pessoas da mesma forma que outras, que demonstram interesse em se regenerar.

A punição principal em forma de açoite mostrava um efeito considerável nos detentos. Era tudo o que mais temiam, a ponto de cometer novos delitos, só para ver a pena adiada, ainda que isso parecesse irracional, já que a pena seria ainda maior. Porém, o efeito que isso provocava nos carrascos era bastante negativo para a sociedade como um todo, chegando ao ponto em que se beneficiavam dos castigos aplicados.

Outras situações curiosas e até hilárias, como o teatro que montaram, o banho coletivo anual, as fanfarronices dos detentos, a tentativa de fuga e várias outras coisas mostram que uma resenha é pouco para qualificá-lo.
Bruna 01/10/2010minha estante
Ótima resenha, fiquei bastante interessada!


Marcos 07/10/2010minha estante
Que bom que gostou. Mas se for seu primeiro livro do autor, é melhor começar com um romance, como Crime e Castigo, ou Irmãos Karamázov.


Pablo Italo. 13/04/2011minha estante
vou procurar este livro gora mesmo. sua resenha foi perfeita


ju 01/03/2012minha estante
Estou lendo esse livro, ele realmente é muito bom, vale a pena.Já tinha lido crime e castigo e gostei muito, por isso comprei este também.



Marcos 01/03/2012minha estante
Se gostou desses, não deixe de ler "Os Irmãos Karamázov". Considero a melhor obra de Dostoiévski.


Wanderson 10/01/2015minha estante
Boa resenha, estou lendo essa obra e achando muito interessante. já li outras obras do autor e gostei muito.


sonia.pineda.944 20/11/2017minha estante
Marcos, fiquei interessada em ler Dostoiévski. Vou começar por 'Irmãos Karamázov' e depois 'crime e castigo', 2 clássicos do autor, e depois continuarei. Quero te perguntar sobre esta frase que li em outro livro de outro autor falando do Dostoieévski: " Uma experiencia de encantamento pode salvar uma criança". Você sabe me dizer em que obra está?
grata pela atenção
Sonia 20/11/2017




Cintia295 22/05/2021

Que livroooo, parecia que estava vivendo com eles, um livro forte, mas muito importante, me fez pensar em várias coisas, refletir.
Marquei quase o livro todo.


"Há coisas que a gente, não as tendo experimentado, não pode avaliar. Resumo assim: os sofrimentos morais são muito mais duros de suportar do que os físicos. O homem atrasado ao entrar para o presídio se vê num meio às vezes superior àquele em que vivia antes. É óbvio que se sente privado de muita coisa: da sua terra, da sua família, de tudo quanto lhe era mais querido; mas o meio é o mesmo. Já o homem culto, que a lei puniu com o mesmo castigo, ressente-se de muito mais coisas; vê-se tolhido de todos os seus hábitos e necessidades, tem que se adaptar a um meio que repugna, tem que aprender a respirar uma atmosfera muito outra... É como um peixe jogado para a areia... E para ele o castigo, que a lei considera igual para todos, torna-se um tormento dez vezes maior. Essa é que é a verdade!"
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Raissa 05/12/2023

Se amar é crime, me prenda agr! ?
Confesso que tive medo da leitura acabar sendo um pouco arrastada, já que se trata de um livro semibiográfico, mas acabou se tornando uma leitura muito boa (mesmo não tendo tantos diálogos). A gente vai acompanhar algumas memórias do protagonista (preso por ter matado a esposa, numa crise de ciúmes) no meio daquele ambiente grotesco (fazendo um paralelo com o próprio autor, durante os trabalhos forçados na Sibéria). Mesmo sendo uma leitura bem pesada, não dá pra não se emocionar em partes como a peça de teatro que eles fazem durante o Natal, que me lembrou bastante a famosa cena do carrossel em Capitães da Areia. Enfim, com várias pitadas de humor e críticas ao sistema carcerário da época, esse livro acaba sendo uma das obras mais "íntimas" que temos do autor, por se tratar de um relato disfarçado de romance!
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Carol 19/06/2021

Esse livro é quase que uma autobiografia do Dostoiévski sobre seu período de prisão e trabalhos forçados na Sibéria.
O autor descreve as cenas com muitos detalhes e consegue nos deixar angustiados com cenas como a do banho coletivo, do hospital? e ao mesmo tempo nos divertir com cenas como o teatro e a festa de natal.
Um livro que vale a pena ler.
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Reginaldo Pereira 03/12/2023

E de quem é a culpa?
Este foi meu quinto Dostoiévski e admito que é também a quinta sensação diferente que o mestre me faz sentir ao terminar uma de suas obras. E a sensação da vez foi a reflexão?

Reflexão sobre tudo o que um gênio como ele vivenciou, passou, sofreu e observou ao longo dos quatros anos que passou como preso político na Sibéria. E só mesmo Dostoiévski para ?aproveitar? essa situação e conhecer - e admirar - ainda mais a sua maior devoção: o povo russo.

A escrita desta obra é suave e leve, mesmo considerando um tema tão pesado. Mas isso justamente pela maneira que Dostoiévski adota para narrar os locais, os personagens, os animais, as celebrações, e, principalmente, a privação de liberdade (aquilo que de fato representava a punição ao degredado).

O que o mestre tenta mostrar em sua obra pode ser resumida em um trecho de uma carta que ele mesmo escreveu ao sensor da época: ?Tente o senhor construir um palácio. Mande que tragam mármore, pinturas, aves do paraíso, jardins suspensos, toda sorte de coisas? Agora adentre-o. No fim das contas, talvez o senhor nunca mais queira sair dali. Talvez efetivamente não saia. Lá tem de tudo! ?Melhor não mexer no que está bom.? Mas de repente - um mero detalhe! - o palácio do senhor é bloqueado por uma cerca, e alguém chega e lhe diz: ?Tudo isto é teu! Aproveita! Mas não dês um passo daqui pra fora!? Pode ter certeza de que neste mesmo momento o senhor vai querer abandonar o paraíso e deixar a área cercada. E tem mais! Todo esse luxo, toda essa volúpia, servirão de inspiração para o seu sofrimento. O senhor chegará a ficar ofendido justamente com o luxo??

O livre arbítrio! A grande dádiva humana retirada em uma prisão! Eis a quem o mestre parece homenagear nesta história linda, humana e, sobretudo, real! Obrigado mestre! Mais uma vez, obrigado!
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Glauber 12/01/2010

É Dostoiévski!
Não é a sua obra mais representativa, mas marca o início de sua melhor fase. Talvez não recomendada a quem nunca teve um contato com o autor, mas certamente aqueles que já passaram pelas grandes obras "Crime e Castigo", "Os irmãos Karamazovi" e "O Idiota" irão reconhecer: é Dostoiévski!
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